O grupo já estuda, por exemplo, como usar o histórico da consumidora no digital para fazer ofertas mais assertivas no ponto físico
Por Redação
A fábrica do Grupo Boticário em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, é, talvez, um dos exemplos mais bem-acabados de empresa brasileira capaz de abraçar a transformação digital — um conceito da moda apesar de etéreo — para realçar suas fortalezas históricas. Em meio a linhas de produção de perfumes, cremes e óleos, uma sala climatizada com jeitão de estufa armazena centenas de lírios japoneses. As flores vêm de Holambra, no interior paulista, para desabrochar ali, em tanques de água a poucos metros da linha de produção, em um espaço com temperatura sempre na casa dos 20 graus Celsius. As pétalas são colhidas uma a uma e, então, vão para caixas com gordura vegetal responsáveis por captar o perfume da flor. Tudo isso gera o óleo essencial do lírio, responsável pelo toque final das fragrâncias da linha de perfumes Lily, um dos carros-chefes da marca.
A poucos metros dali, um supercomputador conhecido pelo apelido de “nariz digital” ajuda os perfumistas do Boticário a catalogar os cheiros obtidos na fábrica. Equipado com um software de inteligência artificial para decodificar aromas, o equipamento permitiu ao Boticário lançar uma linha de perfumes, em essência, feita por computadores — os cheiros tidos como mais aprazíveis pelos algoritmos da máquina foram escolhidos para chegar ao consumidor.
A guinada tech do Boticário vem a reboque de uma complexidade crescente para entender o cliente, cujos gostos e desejos mudam com a rapidez de um vídeo do TikTok. “O comportamento do consumidor mudou drasticamente, e nós precisamos estar atentos a essas mudanças”, diz Miguel Krigsner, fundador do Grupo Boticário. “Uma empresa como a nossa tem de ser totalmente apaixonada pelo varejo. O consumidor é a razão da nossa existência.”….
O plano do Boticário é criar um marketplace partindo da operação da Beleza na Web, o site de cosméticos comprado em 2019. O site já está apto a receber vendedores parceiros desde o final do ano passado, e o movimento vem sendo feito aos poucos para testar o modelo. A expectativa é ampliar as vendas dos produtos, sejam eles das marcas do Boticário ou não. Com a nova organização matricial, a ideia é que inovações que emplaquem em uma marca sejam mais facilmente replicáveis.
As aquisições mais recentes mostram a importância de processos bem azeitados para sustentar o crescimento. Em 2020, o Boticário comprou a empresa de soluções digitais GAVB e a Casa Magalhães, focada no uso de tecnologia para solucionar questões do varejo. No ano passado comprou a Equilibrium, de logística 2.0. “Eles sabem atuar no varejo como poucos, e vão ficar ainda mais fortes quando conseguirem unir ainda mais o digital com a capilaridade dos pontos de venda”, diz Rodrigo Catani, diretor da consultoria de varejo AGR Consultores.
O grupo já estuda, por exemplo, como usar o histórico da consumidora no digital para fazer ofertas mais assertivas no ponto físico. Saber ler o que o consumidor deseja faz parte da história do Boticário. Quando abriu sua farmácia de manipulação, na década de 1970, Miguel Krigsner percebeu que as clientes ficavam na loja esperando os medicamentos e desenvolveu um creme para as mãos para oferecer no balcão. Foi um sucesso. A beleza do Boticário é saber unir a criatividade do desenvolvimento de produtos com o pragmatismo de quem lida com o varejo todos os dias há quase 50 anos.
Fonte: Fusões e Aquisições