Em busca de um comprador desde 2013, a grife Daslu, que era controlada pela Laep, tem um novo dono. A marca, que já foi considerada a mais luxuosa do país, pertence agora a um grupo liderado pelo investidor baiano Crezo Suerdieck, que assumiu o passivo de R$ 85 milhões e aportou mais R$ 11 milhões para ficar com 52% das ações.
Além de Suerdieck – membro da família fundadora das cigarrilhas e charutos Suerdieck -, o grupo de investidores inclui também o advogado Felício Valarelli. Tratam-se de investidores independentes especializados no trabalho de reestruturação de empresas em dificuldades. Eles investiram na Daslu por meio da Moda Brasil, empresa de titularidade dos executivos da marca constituída especificamente para a transação.
Em um momento em que empresas do setor de Moda passam por dificuldades, esses investidores estão fazendo uma aposta alta. Mal concluíram a compra da Daslu e estão partindo para a primeira aquisição: hoje assinam contrato de compra da marca Thelure, da estilista Stella Jacinto, herdando as dívidas da grife que fatura R$ 25 milhões. Stella permanecerá na empresa comandando a parte de moda.
A Daslu tem hoje sete lojas próprias (São Paulo, Ribeirão Preto, Brasília, Recife e Rio), e a Thelure tem duas próprias e 14 licenciadas. Juntas, as marcas formam uma empresa com faturamento de R$ 125 milhões, sendo R$ 100 milhões provenientes da Daslu.
O executivo Elizeu Lima, novo presidente da empresa, explica que, dos R$ 85 milhões em de dívida das Daslu, R$ 75 milhões são tributárias. O restante são pendências com fornecedores e aluguéis de shopping centers. Não há dívidas com bancos.
Lima já está empreendendo um programa de corte de custos na Daslu e deve levar a empresa a entrar no segmento de franquias. As megalojas atuais, com 400 a 600 metros quadrados, deverão ficar com, no máximo 200 metros quadrados. “É um tamanho que não vai prejudicar muito o volume de vendas”, afirma. Além disso, a empresa vai tentar ampliar sua presença no atacado, hoje restrita a 130 multimarcas, para 250 multimarcas. A Thelure, que está em 200 multimarcas passará a ser comercializadas em até 500.
Antes da Daslu, Lima passou pelas Lojas Americanas, Banco Garantia, H. Stern, Vivara e grupo Valdac (dono das marcas Siberian, Crowford e Memove). O executivo diz que a nova Daslu pretende sair em busca de aquisições de grifes que sejam permeáveis a mudanças estruturais. “Queremos empresas dispostas a aderir práticas de governança, sem informalidade, e que tenham aderência ao modelo de gestão de custos compartilhados”, diz. A ideia é que as empresas utilizam os mesmos fornecedores e estrutura administrativa para absorver ganhos de escala.
A trajetória da Daslu é marcada por escândalos, mas os investidores apostam o peso da marca para uma reviravolta. Em 2009, a empresária Eliana Tranchesi (falecida em 2012), então proprietária da Daslu, foi presa após ser condenada a 94 anos de prisão por formação de quadrilha, fraude em importações e falsificação de documentos. Ela ficou apenas um dia detida – a Justiça acatou um pedido de habeas corpus, baseado no estado de saúde dela, que tratava um câncer. Quatro anos antes, auditores da Receita Federal, procuradores de Justiça e policiais federais descobriram que a butique registrava preços menores nas roupas para pagar menos impostos.
Em 2011, a grife foi arrematada em leilão pela não menos problemática Laep, que está em processo de liquidação judicial. Os principais executivos da Laep, entre eles o empresário Marcos Elias, respondem hoje na Justiça por crimes contra o sistema financeiro, operações fraudulentas no mercado de capitais, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha e organização criminosa.
Os problemas da Laep atrapalharam a atração de um comprador para a Daslu nos últimos dois anos, conta Douglas Carvalho, sócio da Target Advisor, que estava com o mandato da operação para vender a empresa. “Todos os grandes grupos de moda chegaram a olhar o ativo, mas a negociação sempre esbarrava no receio de envolvimento com problemas da Laep”, conta Carvalho, que também está a frente da compra da Thelure. A solução foi sendo desenhada de um ano para cá, com a formação da Moda Brasil.