Uma plataforma de Cingapura tem se tornado onipresente entre os principais varejistas de moda brasileiros. Seu trunfo: identificar em tempo real best-sellers, corrigir rotas e evitar desperdícios
Por Vanessa Barone
A inteligência artificial anda sacudindo o mercado da moda. São soluções que diminuem riscos e encurtam o caminho espinhoso entre a passarela e consumidor final. Como, por exemplo, descobrir, em uma rápida pesquisa, qual peça de roupa – em qual cor, tecido e faixa de preço – mais têm feito a cabeça de clientes da Saks, de Nova York, da Zara, de São Paulo, ou da Uniqlo, de Tóquio.
A plataforma de inteligência Omnilytics chegou ao Brasil há um ano e já tem mexido com os processos de desenvolvimento de coleção de grandes empresas de vestuário como a Malwee, o grupo Restoque, a Dafiti, o Grupo Iguatemi e a Marisa.
A precursora nessa seara foi a americana Stylesage, com ferramentas baseadas em IA que prometem salvar margens ao dar suporte a um “sortimento competitivo, otimização de preços e previsão de tendências”.
A Stylumia também atua no monitoramento do desempenho das coleções, até na pós-temporada, para permitir intervenções instantâneas. A Edited é outra competidora na analise de dados do varejo de moda. Mas nenhuma delas ainda opera no Brasil.
Baseada em Cingapura, a Omnilytics reúne dados analíticos de performance de mais de 75 mil marcas ao redor do globo. Usando os filtros disponíveis na ferramenta, capta detalhadamente – e em tempo real – quais as tendências de moda realmente migraram das passarelas e tiveram adesão do consumidor contemporâneo, esteja ele onde estiver.
“O fast fashion já tinha acelerado as mudanças no comportamento do consumidor, mas isso está ainda mais dinâmico”, diz Michelle Thomas, gerente-geral da Omnilytics no Brasil. Por isso, não basta apenas seguir as macrotendências apresentadas pelas grandes casas de moda ou pelos bureaux de estilo.
Por meio da ferramenta – que só se utiliza de dados públicos do varejo, segundo a executiva – é possível checar vendas, conhecer os itens que são best-sellers e monitorar as oscilações de preços para não correr o risco de ter encalhes e prejuízo.
De acordo com Basílio César Gaedke, gerente de planejamento da Malwee, a ferramenta tem sido usada para conhecer o comportamento do consumidor, uma vez que a empresa tem 90% do negócio focado no B2B. “Atendemos cerca de 25 mil lojistas de multimarcas”, diz Gaedke, que contratou os serviços da plataforma há cerca de um ano.
“Somos o maior fornecedor de roupas no Brasil, atualmente”.
Ter informações sobre a evolução dos produtos em cada ponto de venda, em tempo real, diz ele, é quase impossível. “Usando a ferramenta conseguimos detectar, por exemplo, uma maior busca do consumidor final por artigos sustentáveis e investimos mais nisso”, diz o executivo.
O grupo Malwee, que produz cerca de 50 milhões de peças por ano, é dono das marcas infantis Carinhoso, Malwee Kids e Zig Zig Zaa, e das adultas Malwee e Enfim.
A plataforma tem sido adotada na correção de rota de coleções já prontas – ajustando preços ou adequando estoque para um melhor desempenho nas vendas. Mas, sobretudo, tem servido para basear os futuros lançamentos, a partir da observação do que está indo bem no Hemisfério Norte, sempre na frente das tendências.
Dessa forma, fica mais fácil manter um estoque com maior potencial de venda – prevenindo possíveis “encalhes” que não apenas comprometem o faturamento, como ajuda a aumentar o volume de lixo têxtil que se acumula pelo planeta.
“Os clientes que já usam a ferramenta declaram um aumento de 20% nas vendas e de 17% nas margens de lucro”, diz Michelle. O chamado “estoque morto” também cai, em média, 15%.
Em uma investigação banal na ferramenta, por exemplo, identificamos que a modelagem “cropped” (mais curta, deixando parte da barriga à mostra) já adotada em blusas e camisetas femininas, irá migrar para tricôs, paletós e outros casacos – na próxima estação.
A boa aceitação desse tipo de top já pode ser sentida nas lojas da Zara do Brasil, que disponibilizou os primeiros itens em suas lojas – com sucesso de vendas sobre outros tipos de modelagem.
Para Thiago Savoldi, head de operações da marca John John, do grupo Restoque, com os dados colhidos ele tem estabelecido comparações de desempenho entre as marcas do grupo e o mercado de moda como um todo. “Em média, levamos oito meses para desenvolver uma coleção – a partir das tendências globais de moda”, explica Savoldi.
Isso significa que, até o lançamento, muita coisa pode mudar e comprometer as vendas.
Ter o pulso do mercado internacional – o que antes era um desafio e envolvia altos custos com viagens para pesquisas in loco – ajuda a validar tendências e restringir riscos. Atualmente, as marcas Dudalina e Individual já fazem uso da plataforma, que deverá ser expandida para as outras do grupo – Le Lis Blanc, Bo.Bô, Rosa Chá e John John.
Fonte: Neofeed