Por Adriana Mattos | Há um descompasso em relação àquilo que os consumidores brasileiros pensam em relação a consumo consciente e como efetivamente agem na hora da compra, segundo o relatório “Impacto do ESG no Varejo 2024”, realizado pela Mosaiclab, empresa do grupo Gouvêa Ecosystem, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV).
A maioria dos consumidores defende ações mais sustentáveis, mas neste ano diminuiu o percentual de compradores que se pautaram por essas práticas quando fizeram as suas últimas escolhas de compra. Pela pesquisa, realizada neste mês, 88% consideram o tema importante, no entanto, o índice que mede o percentual de consumidores que se pautaram por ações de ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) na decisão de compra caiu de 50% em 2023 para 43% neste ano. Em 2022, a taxa era de 39%.
“Durante os anos após início da pandemia, os consumidores viram uma atitude bem ativa das varejistas, na defesa de ações mais conscientes e de defesa da saúde e sustentabilidade. Isso ainda existiu em parte do ano passado, mas neste ano, essas medidas perderam força, e o cliente reage muito aos incentivos que vêm das redes”, disse Karen Cavalcanti, sócia-diretora da Mosaiclab.
A executiva evita mencionar empresas que reduziram seu foco no ESG, mas questionada pelo esforço maior das companhias em elevar rentabilidade e eficiência, passada a crise sanitária, Cavalcanti diz que essa agenda realmente cresceu nas companhias. Porém, ela acredita que são questões que podem avançar paralelamente.
Todos os componentes do ESG pesaram menos para o consumidor em suas compras. O aspecto ecológico caiu de 46% para 40%, o componente social reduziu de 50% para 42%, e o componente de governança passou de 53% para 45%.
Ainda segundo a executiva, apesar do cenário de crescimento de renda e emprego no país neste ano, ainda há um ambiente de cautela dos consumidores na hora da compra — pelo alto endividamento e inflação estacionada em patamares elevados.
Como a pesquisa considerou apenas entrevistados das classes A, B e C, esse impacto sobre o peso do preço na hora da aquisição já foi menor do que se tivesse sido incluído no relatório as camadas de menor renda (D e E).
“Quando os gastos crescem, as pessoas em geral tendem a priorizar preço e conveniência sobre questões mais amplas, como sustentabilidade”, diz ela.
Existe esse impacto de preço nas decisões quando a inflação estabiliza em níveis mais altos porque produtos sustentáveis tendem a ser mais caros que a média. O levantamento, antecipado ao Valor, está sendo apresentado durante o Latam Retal Show, um dos principais eventos do setor no país, que termina amanhã, em São Paulo.
Para o IDV, as empresas do setor não reduziram seus investimentos na área, mas houve uma etapa de maior consolidação dos projetos lançados.
“Há muitos projetos em implementação porque a fase de divulgação, muitas vezes, já passou. Talvez por isso, a visibilidade externa pelo consumidor seja menor. Inclusive, as companhias já estão medindo os resultados das ações criadas”, disse Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV.
Gonçalves lembra que, apesar de 44% dos entrevistados da pesquisa afirmarem não saber o que é ESG ainda, o conhecimento cresceu entre os compradores, o que já torna mais fácil ao cliente identificar os projetos e fazer as escolhas.
Todas as 10 categorias analisadas pela Mosaiclab apresentam quedas no índice, que mede a importância dos componentes ESG na compra. Os recuos mais significativos foram em papelaria, alimentação e material de construção. Em melhor situação estão varejo eletroeletrônico e “pet”, de produtos para animais de estimação, com quedas menores.
Na pesquisa, foram ouvidas 1.840 pessoas num painel on-line de respostas, e a metodologia seguiu as divisões das classes econômicas A, B e C determinadas nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento considerou 2.990 momentos de compra (por exemplo, a compra de um item de moda ou de um eletrônico é uma ocasião de compra computada) em dez segmentos do varejo.
Apesar desse cenário, as expectativas dos consumidores em relação às ações ESG das empresas permanecem altas.
Entre as principais prioridades destacadas estão a criação de oportunidades de emprego, mencionada por 47% dos entrevistados; a redução de lixo e incentivo à reciclagem, com 46%; a qualidade da água e combate ao desmatamento, com 45%; e a redução de emissões de carbono, com 44%.
Fonte: Valor Econômico