Bem estabelecido no País, grupo driblou limitações impostas pela pandemia para manter o ritmo de abertura de lojas e prepara avanço na digitalização do negócio
Por Raquel Brandão
Todos os meses cerca de 5 mil produtos para os mais diferentes fins são colocados à venda nas 97 lojas brasileiras da varejista japonesa Daiso. A enorme quantidade de itens nas prateleiras é apenas uma das características que fizeram com que a rede criasse uma espécie de nova categoria no varejo brasileiro: de preços acessíveis, mas mais exclusiva e inovadora do que as tradicionais lojas de R$ 1,99. Com posição bem estabelecida, o grupo driblou as limitações impostas pela pandemia para manter o ritmo de abertura de lojas e se prepara para dar, no próximo mês, um passo quase vital para qualquer varejista: colocar em operação seu canal de vendas on-line.
O modelo de loja da Daiso no Brasil deu certo e atraiu outra asiática, que atua de forma similar e também tem sido exitosa na relação com os consumidores brasileiros: a Miniso, que, embora esteja sediada na China, se nomeia uma “marca de design japonês”. Chegou em 2017 ao Brasil.
“É um formato de varejo que não está ancorado em uma categoria de produto ou solução específica, mas em curadoria. A essência desse modelo é ter renovação constante de produto. É criar impulso, recorrência e senso de urgência, porque se não comprar na hora não acha mais”, diz o especialista em varejo Alberto Serrentino, sócio e fundador da Varese Retail.
Criada em 1972 pelo vendedor ambulante Hirotake Yano, que vendia itens por 100 ienes, a Daiso opera em mais de 28 países. A primeira loja brasileira, de 2012, teve a rua Direita, no centro de São Paulo, como endereço escolhido. “Além de renovar muito a oferta, esse formato tem que estar em pontos de grande tráfego de pessoas”, diz Serrentino.
“O povo brasileiro tinha um certo ‘vácuo’ no nicho dos produtos que a Daiso oferece e com os preços que oferecemos, unindo custo e benefício. É uma loja que desperta a curiosidade dos consumidores e oferece a sensação de se sentirem num pedacinho do Japão no Brasil”, diz o gerente geral da Daiso no país, Reginaldo Paulista. O preço de entrada da Daiso é de R$ 8,99, com a maioria dos produtos nesse valor. As linhas de porcelanas, por exemplo, têm valores mais elevados.
O consumidor gostou do modelo, mas quando a covid-19 chegou ao país, a empresa teve razões para se preocupar. O único canal de venda, até agora, é a rede de lojas físicas, além disso 95% dos produtos são importados – não só do Japão, mas também de outros países asiáticos e da Europa. É preciso lidar com a desvalorização do real, e, principalmente, com as dificuldades de uma logística internacional em plena pandemia.
Embora não abra os números de receita, o gerente da Daiso diz que as vendas já estão em cerca de 85% a 90% do nível pré-pandemia. A retomada pode ser ainda mais consistente a partir de setembro, quando a empresa prevê colocar no ar sua operação de varejo on-line – algo que os consumidores pedem constantemente nas redes sociais da companhia. “Se olhar na perspectiva do que está acontecendo na jornada dos clientes e o salto do digital na pandemia, é muito estranho mesmo não ter ainda a operação digital”, avalia Serrentino.
A pandemia mudou o curso da expansão da Daiso. Até então, diz Paulista, a estratégia estava direcionada a shopping centers, uma frente em que a concorrente Miniso também aposta. Das dez lojas da Miniso na capital paulista, oito são em shoppings. A chinesa tem 55 lojas no país e cresce com franquias. A Daiso não trabalha com franquias.
A rede japonesa, então, passou a concentrar mais esforços na parceria com supermercados como as redes Hirota e GPA. Na pandemia, 38 lojas foram abertas, das quais 34 em supermercados, e quatro sem parceiros, incluindo a primeira loja na Liberdade, bairro ligado à colônia nipônica em São Paulo.
“Futuramente, nossa meta é ser como a Daiso do Japão: “em todas as esquinas ter uma Daiso”, diz Paulista. Atualmente, a varejista opera 97 lojas em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e no Distrito Federal. “Estamos, sim, conversando com parceiros tanto de shopping centers, como parceiros para abertura de “stores in stores” em outros Estados da federação.”
Fonte: Valor Econômico