Caixa com kit mensal do clube de assinatura de livros “TAG: Experiências Literárias”
Em um país onde 30% da população nunca comprou um livro, segundo dados da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada em maio, é curioso que um serviço de assinatura de livros veja seu número de associados crescer de 500 para 10.000 em apenas um ano. É o que registrou a TAG Experiências Literárias, lançada em agosto de 2014 com boxes personalizados de livros.
Por R$ 69,90 ao mês, o associado recebe em casa um kit com um livro indicado por um curador, um marcador de páginas e uma revista em que a obra escolhida é detalhada, além de mimos ocasionais, como caderninhos.
“A TAG não vende um livro, mas uma experiência experiência – e, como toda experiência, precisa ser vivida para ser compreendida”, justificam os fundadores sobre o valor da caixa, superior a um livro avulso. Segundo eles, para associar-se é necessário ter “mente aberta”.
Entre os curadores do clube há nomes como Mario Sergio Cortella (que indicou “O Físico”, de Noah Gordon), Patch Adams (indicando “O Intruso”, de William Faulkner), Frei Betto (com “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar), Mario Prata (com “O Encontro Marcado”, de Fernando Sabino), Gregorio Duvivier (com “Noite do Oráculo”, de Paul Auster) e Luis Fernando Verissimo (com “O Seminarista”, de Rubem Fonseca). A escritora carioca Heloisa Seixas é a responsável pela indicação de agosto, ainda inédita.
A ideia surgiu em 2013 por três estudantes de administração de Porto Alegre que compartilhavam a paixão pela literatura: Arthur Dambros, 24, Gustavo Lembert, 24, e Tomás dos Santos, 26. Eles criaram o serviço inspirados por clubes de assinatura de vinhos e cerveja que estavam em alta na época.
“A gente sempre gostou de ler e tínhamos vontade de empreender. Vimos que nesses novos serviços não tinha nada relacionado a livros e achamos a nossa oportunidade de trabalhar com algo que a gente sempre quis”, explica Arthur Dambros, um dos membros fundadores, em entrevista ao UOL.
Inicialmente, os nomes dos curadores eram definidos segundo o gosto e avaliação dos três jovens fundadores. Hoje eles também levam em conta a opinião dos associados antes de definir um curador, em um processo que pode ser feito com até um ano de antecedência.
“Temos uma espécie de banco de curadores que são os que já recebemos as indicações e que estão esperando até o momento em que achamos conveniente. Tentamos intercalar um autor clássico com um contemporâneo. Depende dos títulos que serão sugeridos para que seja possível proporcionar a experiência que a gente deseja para o cliente”, explica Arthur sobre a seleção.
Os curadores não são remunerados pelo trabalho para evitar indicações por interesse financeiro. “A participação das personalidades acontece apenas pela vontade de querer compartilhar leituras e por gostar da ideia como um todo.”
Compra às escuras
Os nomes de peso na curadoria e a surpresa de não saber o título até receber o kit mensal em casa, além do grupo no Facebook para discutir a obra, são alguns dos motivos que atraem cada vez mais leitores, mesmo sem a divulgação em meios tradicionais. O investimento de marketing da TAG, por ora, é intensificado em mídia online, como posts impulsionados em redes sociais.
Foi assim que a servidora pública Sarah Carolina Santos Silva, de Porto Velho, soube da existência do serviço. “Conheci o serviço pelo Facebook, naquelas postagens de publicações sugeridas. Deve ser porque eu me associo a muitas páginas referentes a livros e estou sempre pesquisando no Google. Sou associada desde março, me dei de presente de aniversário”, conta.
“O serviço abre as possibilidades de leitura. E eu adoro compartilhar as emoções com outros leitores pela internet. Às vezes eu lia um livro e queria comentar, mas não tinha com quem falar”, explica a jovem de 28 anos, que mora na capital de Rondônia.
Já para a jornalista Jéssica Moura, o desafio de ler mais a estimulou a fechar a assinatura no último mês, que trouxe uma edição própria: uma caixa comemorativa especial de dois anos. “Acho que muita gente acaba não lendo por falta de tempo. A correria do dia a dia com trabalho e estudo complica. Foi aí que eu resolvi me desafiar e mudar tudo isso”, opina a jovem de 25 anos, que vive em Caraguatatuba, no litoral de São Paulo.
A literatura na era do Facebook
A criação de um grupo fechado dentro do Facebook, em junho de 2015, foi um passo importante, que possibilitou que usuários de diversas partes do país conversassem sobre as obras selecionadas, criassem grupos paralelos de discussão e marcassem encontros para debater o livro, retomando o formato original e mais conhecido de um “clube do livro”.
“Foi algo interessante não só para os clientes como também para nós, pois conseguimos estabelecer um diálogo e começamos a focar cada vez mais isso. Antes não existia um canal, o que talvez tenha sido um erro nosso. E agora já estamos desenvolvendo plataformas próprias para incentivar e fortalecer a relação e a troca entre os associados”, conta Arthur.
Os últimos volumes que partiram de Porto Alegre para serem entregues aos clientes foram os primeiros exclusivos, impressos pela própria TAG em uma edição de luxo com capa dura em parceria com a editora Dublinense. A novidade da edição exclusiva e um desconto que celebrava o aniversário de dois anos do clube fez deste mês de julho disparado o com maior número de adesões.
“Entendemos o produto como um veículo de marketing. Qualquer real que entra na empresa devolvemos em projetos para os clientes. Queremos encorpar ainda mais o produto com edições exclusivas, um aplicativo que é uma espécie de rede social para interação dos associados e loja online com produtos literários”, adianta Arthur sobre o que vem por aí.