Na ficção, os donos de pequenas salas de cinema são retratados como apaixonados por filmes que lutam para conseguir exibir “filmes de arte” e se manter independentes das grandes redes internacionais. Nunca têm dinheiro nem se preocupam muito com isso. A história do paranaense Marcos Barros, de 54 anos, é bem diferente.
Ele comprou sua primeira sala de cinema em 1999, em Maringá, e esse foi seu quarto negócio. Já havia sido dono de uma pequena construtora e de uma loja de informática. Na época da compra do cinema, era sócio de uma empresa que controlava quatro rádios na cidade. Barros queria usar as rádios para fazer propaganda do cinema e, assim, aumentar a venda de ingressos.
A estratégia deu certo e, três anos depois, ele foi convidado a montar os cinemas de dois shoppings que estavam sendo construídos em Curitiba e Porto Alegre. Hoje, Barros é dono de 142 salas espalhadas por 17 cidades e fatura 140 milhões de reais.
Sua empresa, a Cinesystem, é a quarta maior rede do país em número de salas, num mercado que é dominado por estrangeiras como a americana Cinemark e a mexicana Cinépolis. Sua maior concorrente brasileira, a Kinoplex, que tem 250 salas, está no mercado há 98 anos. “A demanda por cinemas não é atendida no país. O problema é maior no interior, mas também faltam salas nas capitais”, diz Barros.
Mesmo comparado com outros países emergentes, o Brasil tem poucas salas de cinema: em média, são 75?000 habitantes para cada tela. No Chile são 52?000; e no México 21?000. Para quem quer começar do zero nesse setor, o desafio é levantar dinheiro para comprar ou montar novas salas.
A saída que Barros encontrou, no início, foi buscar o capital alheio: sempre que queria inaugurar um cinema, procurava um sócio capaz de dividir o investimento. Como não conhecia ninguém nas cidades, ele começou a propor sociedade a franqueados da rede de lanchonetes McDonald’s. Desse jeito, conseguiu montar uma rede, o que trouxe benefícios significativos.
Ele começou a fazer propaganda conjunta das salas e a negociar em lote com os fornecedores — algumas das vantagens que os grandes têm sobre os pequenos. De acordo com executivos de mercado, a margem da geração de caixa dos pequenos cinemas fica próxima de 10%, enquanto os maiores grupos conseguem o dobro disso.
Em 2006, Barros enfrentou a primeira crise. Uma greve de roteiristas em Hollywood prejudicou os resultados do setor e afastou seus parceiros, que desistiram de investir nas salas. Para se manter no mercado, ele negociou um empréstimo de 2 milhões de reais com o BNDES. “Mas vi que, se quisesse ter agilidade para crescer, precisava de sócios comprometidos”, diz.
Em 2013, conseguiu um aporte de 40 milhões de reais de dois fundos de private equity, o brasileiro Stratus e o americano Hamilton Lane. Parte do capital está sendo usada para inaugurar salas: o plano é ter 42 novas unidades até 2017 e 500 até 2020. Outra parcela está reservada para aquisições.
Segundo o Filme B, empresa que monitora o setor, as dez maiores redes de cinema recebem 75% dos espectadores, enquanto o restante se divide entre 40 pequenos exibidores — justamente aqueles que a Cinesystem pretende comprar. O setor de cinema é um dos poucos que crescem em meio à recessão. As receitas totais aumentaram 20% em 2015, para 2,3 bilhões de reais.
“As pessoas tendem a cortar gastos com entretenimento numa crise, mas o cinema é uma das diversões mais baratas”, afirma Paulo Sérgio, diretor da Filme B. Por isso, outras redes estão investindo para crescer no Brasil. A Cinépolis planeja abrir 85 salas até 2017, e a brasileira Kinoplex, outras 19 somente até julho deste ano.
O grande desafio do setor é inventar formas de competir com os serviços de distribuição de filmes das TVs a cabo e de empresas como a Netflix. Os cinemas apostam em oferecer o que os espectadores não conseguem ter em casa, como exibições em quatro dimensões com cadeiras que simulam movimentos e salas vips com garçons servindo vinhos e petiscos.
Como a maioria de seus concorrentes, a Cinesystem transmite shows e jogos ao vivo e aluga as salas para a realização de provas de vestibular e treinamentos de empresas: atualmente, esse segmento responde por cerca de 5% das receitas, mas a tendência é aumentar. É o jeito que os exibidores de cinema do mundo inteiro estão encontrando para garantir um final feliz.