Para bancar a sua banda de rock na década de 90, o paulistano Caito Maia ganhava dinheiro lavando pratos, trabalhando como garçom e com a venda de óculos comprados nos Estados Unidos. O esforço até garantiu ao grupo Las Ticas Tienen Fuego uma indicação para um prêmio da MTV, mas a banda não deslanchou. E foi a partir daí que o bico se tornou um negócio para Caito. Em 1998, inspirado na sua especiaria favorita, a pimenta, ele abriu a primeira unidade da Chilli Beans em São Paulo. Duas décadas depois, a varejista se tornou a principal grife de óculos de sol do Brasil, com um faturamento gordo de R$ 650 milhões.
Esse crescimento vitorioso, no entanto, veio com a ajuda do fundo Gávea, criado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que comprou 29,8% da empresa em 2012. Essa união de forças, responsável por dobrar a receita e o número de lojas nos últimos seis anos, chegou ao fim em dezembro do ano passado e tornou Caito Maia o único dono da companhia. Agora, a Chilli Beans se prepara para uma nova fase.
ÓCULOS DE GRAU O fim da sociedade foi contratual e cinco outros fundos estavam interessados na fatia do Gávea. Procurado, Armínio não quis comentar o assunto, mas uma fonte que esteve presente nas negociações relatou que a transação foi muito amigável e “especial”. Entre os especialistas do setor, é consenso de que a recompra feita por Maia será positiva para a marca.
E esse já é, aliás, o plano traçado por Maia. O empresário diz que a ideia a partir de agora é ganhar espaço com os óculos de grau. Ainda sem nome definido, a Chilli Beans vai lançar uma marca subsidiária especializada em ótica até abril deste ano. O plano é abrir 200 pontos de lojas nos próximos 4 anos. “Eu quero continuar aquilo que eu aprendi fazer”, diz o empresário.
A aposta de Caito faz sentido. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Ópticas (Abióptica), o mercado de óculos de grau é o nicho com o maior potencial de crescimento no país. Até novembro de 2018, o segmento de lentes de correção faturou R$ 3,6 bilhões no Brasil, um crescimento de aproximadamente 60% em dez anos. Segundo Bento Alcoforado, presidente da Associação, essa tendência é reflexo dos problemas causados pela exposição à luminosidade e pela mudança no comportamento do consumidor. “Os óculos se tornaram um acessório e também uma opção para presente”, diz. Mas para Alcoforado, a Chilli Beans ainda terá alguns desafios pela frente se quiser competir por essa fatia do mercado. “Eles precisam investir na capacitação da equipe, na instrumentalização dos pontos de venda e nos laboratórios de confecção”, afirma.
A jornada não parece ser motivo de preocupação para Caito. Há quatro anos, quando a empresa começou a comercializar armações com lentes de grau, as vendas do produto eram 7,8% do faturamento total. Hoje esse número representa 18% da receita. A chave para o sucesso? A adaptação ao poder de consumo do brasileiro, diz Maia. “Nós trabalhamos com um mix de produto bem variado e que também é adaptado ao que o consumidor pode pagar”, diz.
A estratégia tem funcionado. Dados mais recentes da Euromonitor, referentes a 2017, mostram que a marca tem mais de 22% de participação no mercado brasileiro de óculos de sol, contra 39,7% da primeira colocada, a italiana Luxottica. “Ainda assim, a Chilli Beans mantém seu título de mais importante player local dentro da categoria, com frequentes novas coleções e presença nas principais cidades brasileiras”, afirma Guilherme Machado, analista sênior da Euromonitor Internacional. A consultoria projeta que a empresa de Caito deve faturar 5% a mais até 2023. E para continuar crescendo, a Chilli Beans vai intensificar a expansão da marca. A fabricante tem hoje 795 unidades no Brasil e 45 no mercado internacional, mas pretende atingir 1,2 mil lojas e chegar ao primeiro bilhão até 2022. Resta saber se com 100% da companhia nas mãos, Caito Maia vai conseguir implementar sua visão estratégica.
Fonte: IstoÉ Dinheiro