Por Layane Serrano | Quando você entende a alma do negócio, ele acontece”, diz Alex Ye, conhecido no TikTok como “Chefe do Benefício” e fundador do Busca Busca, loja de varejo localizada no bairro Brás, em São Paulo, que promete ser uma forte concorrente da Shopee por oferecer diferentes produtos com preços atrativos.
O sucesso da loja surpreendeu o chefe, afinal, ela foi aberta há 40 dias e desde o terceiro dia há filas de clientes dobrando a esquina querendo “buscar” algum produto que pode ser útil em seu dia a dia, como ventiladores portáteis, abridores de garrafa de vinho, copos térmicos, ferros vaporizadores de passar roupa, entre outros.
Empreender não é novidade para o “chefe”, que nasceu em Wenzhou, na China. “A cidade onde nasci é marcada pelo empreendedorismo, é o lugar que espalha produtos para toda a China e exporta para outros países também”. Com pais empreendedores que acabaram gostando do clima do Brasil, Alex se mudou para o Brasil junto com a família aos 10 anos e com 19 anos abriu a sua primeira fábrica de roupas na região do Brás. “A fábrica cresceu tanto que após um ano chegou a mais de 300 funcionários”, diz Alex que anos depois vendeu a fábrica para apostar em importações e investimentos em shoppings da região.
Hoje, o “chefe”, com 39 anos, conta com 8 lojas de roupas no Brás, que empregam mais de 150 funcionários, e em dezembro inaugurou o Busca Busca que com apenas 50 funcionários busca revolucionar o mercado nacional. “Quero mudar a história do varejo do Brasil, unindo importador, consumidor e redes sociais.”
A estratégia do MCN que ainda não chegou ao Brasil
O Busca Busca nasceu como um negócio voltado para a internet. A aposta longa dele é numa estratégia que deve estourar no Brasil logo mais: a MCN (Multi Canal Networking). “É algo novo que ainda não chegou no Brasil”, diz. “São basicamente influencers que farão vendas ou propagandas por meio das redes sociais. É um novo negócio que logo mais vai acontecer e deve chegar neste ano.”
Já é comum ver pessoas provando e divulgando roupas nas redes sociais, mas com essa tendência a ideia é ter um botão de venda em que você poderá clicar e fazer a compra na hora. O Busca Busca começou a apostar nesta tendência por meio do Kwai, que hoje é a única plataforma que tem esse serviço de live commerce no Brasil, segundo Alex – que escolheu o próprio nome “Chefe do Benefício” durante uma dessas lives no Kwai em que oferecia produtos com descontos.
“Minha expectativa é que o TikTok chegue com o live commerce ainda este ano, isso promete revolucionar a forma como vendemos e compramos no Brasil”, diz o chefe.
O live commerce é algo que já está acontecendo no TikTok em outros países. A companhia quer faturar 17,5 bilhões de dólares com e-commerce em 2024, chamado de TikTokShop. Esse, inclusive, é um dos recursos de crescimento mais rápido para a empresa de capital fechado com sede em Pequim, que busca um novo motor de crescimento além da publicidade nas redes sociais.
A receita da ByteDance aumentou cerca de 30% em 2023, para mais de US$ 110 bilhões, superando o crescimento projetado de rivais de redes sociais muito mais estabelecidas, como Meta Platforms e Tencent.
Como pessoas do país inteiro vão para o Busca Busca
Enquanto não consegue vender diretamente pelas redes, Alex anuncia seus produtos por meio do TikTok, atraindo pessoas de várias regiões do país para a loja física.
É o caso do Kleber Silva, gerente de vendas, que mora em São Bernardo do Campo, e que levou os sogros, que são do interior do Maranhão e que estão passando uma temporada em São Paulo, para conhecer a loja. “Queremos ver se tem alguma oportunidade de compra boa, vimos no TikTok preços bons e variedade de produtos, então, vamos conhecer a loja e ver se encontramos uma caixa de som e utilitários de cozinha para a minha esposa.”
“As promoções deixam a gente doida. Vim com um objetivo de comprar uma garrada térmica, mas vi também uma sapateira e um fone de ouvido que estão com um bom preço. Espero que o preço lá dentro esteja de acordo com o que vi nas propagandas”, diz a aposentada Waldelena Custódio Alves, que ainda estava na fila, aguardando receber a senha para entrar na loja.
Comerciantes também vão no Busca Busca para comprar para revender, como Sheila de Jesus, que mora no Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. “Vim com a minha amiga ver se tem copo térmico para vender no Carnaval, aproveitar que é o período em que o pessoal gosta de tomar uma cerveja na rua.
Depois que apareceu no TikTok, a vida de Alex mudou. “O dono da Kwai veio da China para conversar comigo e pediu para eu aparecer nas redes, porque viu potencial no meu negócio. Pensei muito sobre isso, porque sabia que acabaria a vida normal. Mas não tem jeito, é uma tendência.”
A expansão do negócio para além do TikTok
Com o desejo de mudar a história do varejo brasileiro, os sonhos do “Chefe do Benefício” são grandes. “Antes de anunciar, primeiro fiz uma análise do que o consumidor quer. Ele quer um produto barato, com qualidade, de forma rápida, com bom atendimento e novidades.”
Por isso, até março, pretende abrir a maior loja da América Latina do Busca Busca em São Paulo, com mais de 30.000 metros quadrados. “Vamos ofertar nessa unidade 4 tipos de serviços: varejo, atacado, caixa fechado e atendimento ao fraqueado. Vai ser um grande movimento do varejo no Brasil.”
O empresário também apostará em franquias: a ideia é ter 200 lojas por esse modelo até o fim do ano. “Vamos começar em fevereiro a testar as primeiras lojas em cidades ao entorno de São Paulo, como Campinas e região do ABC.”
Além das lojas físicas, o movimento do digital tende a se intensificar. Alex pretende lançar o maior site atacadista do Brasil, que já está em teste há um mês. “Assim vamos ajudar empreendedores pequenos, que gastam muitas vezes muito tempo e dinheiro para comprar mercadorias no valor de R$ 1.000.”
Perguntado sobre o faturamento atual, o “chefe” não informou, assim como não quis comentar sobre o valor do investimento na maior loja e na expansão por meio de franquias.
O objetivo inicial não é o lucro
Mesmo com tantos projetos em andamento, o executivo não quer deixar de lado a qualidade dos produtos. “Quero montar um Busca Busca em diferentes cidades do país, como Carrefour Express e o Oxxo já fazem. Quero aproximar o cliente dos fornecedores, mesmo com a margem de lucro baixa.”
Essa margem de lucro é outro diferencial dos negócios do Alex, que reforça que seus milhares de contatos, envolvendo importadores da China e do Brasil, é o que o ajudará a crescer em grande escala. “Se você vai abrir um negócio agora, onde você procura um importador? Importador não tem loja. Meus importadores a maioria são da China e tenho brasileiros também, conquistei uma agenda muito boa com anos de mercado”, diz. “São eles que me ajudam com que a taxa de lucro do Busca Busca seja competitiva, chegando a 20%, menor do que o da Shopee, por exemplo.”
Quando você não ganha muito dinheiro, você expande muito rápido, diz Alex, que com 6 milhões de seguidores no TikTok segue otimista com o mercado brasileiro sem focar no lucro inicialmente. “Na verdade, eu não estou pensando ainda em dinheiro, agora penso em como deixar o franqueado ganhar dinheiro e o consumidor beneficiado. O lucro será multiplicado e voltará um dia. Quero deixar uma marca positiva no comércio brasileiro e mostrar que os chineses podem oferecer produtos de qualidade e com preço competitivo.”
Fonte: Exame