O catarinense Jaimes Almeida Junior inaugurou neste final de semana em Criciúma o terceiro maior shopping de Santa Catarina. A ideia de erguer um gigante com 38 mil m2 de ABL (área bruta locável, a métrica principal de um shopping) foi incorporada pelo Grupo Almeida Junior como investimento quando o empresário inaugurou o Continente Shopping, maior empreendimento do Estado, em 2012. Em 14 meses o Nações Shopping foi erguido. O sétimo shopping do grupo, com capital fechado e que está entre os maiores do país, recebeu investimento de R$ 250 milhões e está gerando 2,5 mil empregos diretos.
Os lojistas do empreendimento investiram outros R$ 95 milhões em suas obras internas, capital que aqueceu a economia da região Sul do Estado. Nesta sexta, Almeida Junior recebeu o presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), Glauco Humai, que viditou os shoppings que o empresário tem em Balneário Camboriú e São José e que, sábado, vai participar da inauguração em Criciúma. Em uma entrevista exclusiva para o ND, Almeida Junior fala dos bastidores do Nações Shopping, desde o planejamento até a disputa com o Grupo Angeloni e a concretização do projeto, e detalha também os próximos investimentos em Chapecó, Joinville e em tecnologia. Confira:
Em pouco mais de um ano o Grupo Almeida Junior ergueu o terceiro maior shopping do Estado. O que contribuiu para vocês conseguirem isso?
Bem, esse é o sétimo shopping que a gente faz. Fizemos seis shoppings no Estado, contando com o Nações, e fizemos também o Santa Úrsula em Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo. Então é lógico que, durante este tempo, nós criamos uma plataforma importante de desenvolvimento com o time próprio da companhia. A Almeida Junior é uma empresa verticalizada que domina todo o ciclo da atividade shoppings centers desde o desenvolvimento aos projetos, ao marketing, a pré-operação, a operação, a locação das lojas, enfim, então a empresa tem uma estrutura orgânica muito forte.
Esse foi o ponto determinante para que tudo funcionasse tão bem e o Nações saísse exatamente no prazo?
Aqui em Santa Catarina nós criamos uma parceria muito importante com grandes fornecedores, então quando nós apresentamos o projeto para aprovação, precede isso todos os estudos de mercado, todas as avaliações, se efetivamente o nosso shopping vai contribuir com as comunidades e com a cidade, se ele será um agente transformador. Porque só faz sentido se ele for um agente transformador muito importante. Dentro desse processo o Nações Shopping vem, há um bom tempo, sendo um objeto de análise minha, pessoal, e do nosso time.
Qual foi a análise que vocês fizeram dele desde o princípio?
Partimos do princípio que o Sul de Santa Catarina era um vazio dentro da nossa indústria. Esses últimos anos, em particular, com a conclusão da duplicação da BR-101, com a inauguração do Aeroporto de Jaguaruna, com o desenvolvimento do Porto de Imbituba, e também com o desenvolvimento das indústrias da Grande Criciúma, isso tudo nos motivou. Porque a cidade e a região são muito fortes. Acho que ninguém se apercebeu que em um raio de 45 quilômetros de Criciúma tem 700 mil habitantes desassistidos de um equipamento de primeiro mundo. Se o raio aumentar, que é o que a gente tem como mercado, de Laguna a Torres (RS), passa de 1 milhão de habitantes. Então a distância que tem de Torres (RS) a Criciúma é menor do que a distância de Torres para Porto Alegre, e a distância de Laguna para Criciúma é menor do que a distância de Laguna para Floripa. E ainda Floripa tem todos os desafios de trânsito, de mobilidade, atravessar a ponte e tudo isso. Esses foram os aspectos que ancoraram o processo decisório e, enquanto estávamos desenvolvendo esses estudos, a economia brasileira começou a degringolar, a partir de 2013. O que seria natural a gente postergar o investimento.
Mas postergar o investimento não faz parte do perfil da Almeida Junior.
Não, não trabalhamos desta forma, com postergação. Nós entendemos que o que a gente está vivendo não é nada mais, nada menos, que uma crise moral e política e que nós vamos sair dela muito melhores do que nós entramos. E que o fato dos competidores também recuarem e botarem o pé no freio é o momento da gente botar o pé no fundo e ocupar espaço.
Para você este o momento de acelerar?
Sim, de acelerar. Como nós já temos uma plataforma de mais de 1,5 mil lojistas no mercado e a empresa é presente, o nosso time é presente, isso tudo também nos animou. Quer dizer, estar no Sul faz com que a gente praticamente feche o Estado de Santa Catarina, faltando somente o Oeste. Porque nós já somos líderes na região de Joinville com o Garten, nós temos dois shoppings centers importantes em Blumenau, temos o Balneário Shopping no Litoral que é um equipamento de primeiríssimo mundo, o Continente que é o maior shopping do Estado, faltava realmente o Sul e o Oeste.
Vocês vão chegar no Oeste ainda.
Já estamos chegando. Então o fato da gente ter a disponibilidade deste terreno (do Nações Shopping) na entrada da cidade, também foi um outro ponto que nos animou. Porque Criciúma também tem um problema de mobilidade. É uma cidade que cresceu desordenadamente. Então agora que eu estou convivendo lá eu vejo como é difícil você circular na cidade. Então quem chega da região não vai causar problemas na cidade porque o Nações é o primeiro terreno de Criciúma na divisa com Içara. Terminou Içara e começa o Nações. Então nós vamos criar uma barreira porque a região vai para o Nações sem ter que atravessar a cidade. Não vamos aumentar a dificuldade que tem hoje na cidade de acessibilidade. Esse foi outro ponto que nos animou. Tudo isso foram fatores motivadores para que nós decidíssemos fazer investimento na contramão do que a maioria, não só no nosso setor, mas em todos estava fazendo.
Um shopping como o Nações não demorou apenas os 14 meses de construção para ser feito. O planejamento começou muito antes. Quando vocês começaram a trabalhar no projeto?
A definição do mercado do Sul ocorreu em 2012. Foi quando eu tomei essa decisão de irmos para o Sul. Em 2012 nós inauguramos o Continente e em 2013 começamos o Balneário. Por que? Porque em Balneário (Camboriú) nós tínhamos que fazer a expansão. Havia um espaço enorme, vários lojistas importantes querendo entrar no shopping e ele não tinha como atender essa demanda. E o mercado estava ainda muito aquecido. Então inauguramos o Continente, começamos a expansão do Balneário mas já fomos desenvolvendo o projeto do Nações. Que é o que estamos fazendo com o Chapecó agora. Desenvolvemos o projeto dos Nações e na hora que fomos aprovar começou a disputa com o Angeloni, que também estava com um projeto lá na frente do nosso terreno. Então tinham dois shoppings, o nosso e o do Angeloni com um grupo de São Paulo.
Como essa disputa foi se desenvolvendo com o passar do tempo?
Foi uma disputa dura, mas nós tínhamos a convicção que o nosso propósito era mais legítimo por sermos do setor. Eles não são do setor. São uma excelente empresa, mas não são do setor. E obviamente havia do lado do terreno deles problemas de ordem ambiental que nós não tínhamos no nosso (terreno) e que acabou então a gente vencendo essa parada.
Nesse caso a experiência de vocês com shoppings contou?
A experiência contou. Nós não iríamos fazer uma parceria e adquirir um terreno com problemas ambientais. Nós sabemos que esse eixo ambiental é fundamental. Um shopping center não pode desrespeitar a legislação ambiental. Ao contrário. Nós temos que ser um exemplo, como somos no Nações. E aí eu costumo dizer que a natureza sempre prestigia aquilo que é o mais certo. Então a água corre na correnteza correta.
A experiência, imagino, contou não apenas na aquisição do terreno correto, sem problemas ambientais, mas também por causa da forte parceria com lojistas, não? Foi aí que vocês ganharam a disputa?
Também. Foram vários aspectos. Primeiro a nossa determinação de realmente fazer. Segundo, a cadeia. Como a Almeida Junior é uma rede no Estado, a facilidade da comercialização é muito maior do que de quem não é do ramo e está associado a um grupo de fora que também não conhece o mercado. Terceiro, os próprios players, os próprios lojistas queriam que nós fôssemos o empreendedor. E a cidade também. Por que? As pessoas desciam aqui no Aeroporto de Florianópolis se dirigindo para Criciúma e paravam no Continente para ir na Zara, nas outras lojas e nos cinemas maravilhosos do Continente. E a gente via que, porque temos um contador de placas de carro, que ali havia um fluxo grande de pessoas do Sul. Daí fizemos uma pesquisa na cidade.
O que essa pesquisa revelou para vocês?
Contratamos uma pesquisa externa para saber qual shopping a cidade queria. Para ver se queriam o nosso ou o deles. E eu confesso que o fato da companhia concorrente ser de lá, tinha aquele lado emocional… mas olha, 80% queria o nosso shopping. Isso foi outro grande motivador nosso. Quer dizer, a cidade nos quer, os lojistas nos querem, nós sabemos fazer, queremos fazer um negócio importante, pensamos no longo prazo. A gente não está fazendo um projeto sem primeiro pensar na cidade, sem querer contribuir para a cultura da cidade e da região, e que esse shopping seja a extensão a família do criciumense. Que ele seja a grande opção de entretenimento, lazer e varejo qualificado de toda a região Sul. Que eles se sintam, em Criciúma, como se estivessem em São Paulo, em Porto Alegre, nos melhores centros. Então foi isso que a gente levou para lá. Uma proposta com pilares, com muita sustentabilidade. Verdadeiros pilares.
Um projeto focado no longo prazo.
Tanto que hoje, com as taxas de juros que estão no país, é uma verdadeira loucura gastar R$ 250 milhões se você parar para pensar. O que custa de juros esse dinheiro, o que dá de rentabilidade ou o que eu tenho que rentabilizar esse capital eu só posso pensar no longo prazo. Isso nos ajudou muito. A história, a experiência, os cuidados que nós tivemos, a sinceridade, o respeito até ao concorrente, nunca falei mal dele. Procurei defender os nossos interesses mostrando para as autoridades de Criciúma, para as autoridades catarinenses, para os lojistas nacionais, para a Associação Comercial de Criciúma, para a imprensa de Criciúma que sempre nos prestigiou, para os formadores de opinião, o nosso verdadeiro propósito. E isso fez com que a gente ganhasse terreno e prevaleceu o nosso projeto. E aí também existe hoje, no Brasil, o Conselho Nacional do Varejo, que é formado pelos grandes varejistas nacionais e que eles também ajudam a avaliar os projetos. E obviamente este foi outro ponto que pesou para o nosso lado. Estou muito feliz porque a primeira estaca nós pregamos no terreno no dia 28 de fevereiro do ano passado e 14 meses depois nós estamos inaugurando o shopping.
Rigorosamente no prazo que você deu lá atrás, na divulgação do empreendimento.
Isso. Quando eu lancei o shopping no dia 19 de março (de 2015) no Mampituba, em Criciúma, foi uma festa muito linda… estava presente o Eduardo Pinho Moreira (vice-governador do Estado), todo mundo, eu falei o seguinte: “Vocês que estão aqui nos prestigiando já são os meus convidados para a inauguração do Nações no dia 16 de abril (de 2016) às 10h”. Me chamaram de louco, mas eu disse que ia botar esse foco e que ia conseguir. A economia piorou, de março para cá, realmente foi muito difícil, mas nós estamos inaugurando bem, com os principais lojistas, com uma locação bacana, e eu tenho certeza que vamos surpreender Criciúma, a região, e o Brasil. Porque a maioria dos projetos de shopping foram protelados para o ano que vem.
Vamos voltar para uma resposta anterior tua. Chapecó então será a próxima cidade a ter um shopping Almeida Junior? Como está avançando esse projeto?
Nós já escolhemos o terreno em Chapecó. Agora nós estamos assinando o contrato definitivo da compra do terreno. Isso nesta semana, antes de sábado (dia da inauguração do Nações Shopping). Vamos iniciar o projeto de Chapecó a partir de maio com o nosso time interno da companhia, com os nossos arquitetos. Eu quero aprovar esse projeto até o final do ano. Aprovado o projeto, com todos os licenciamentos emitidos, nós vamos iniciar a comercialização a partir do ano que vem. E, quem sabe… obviamente eu não tenho uma bola de cristal, mas eu acredito que a Dilma (Rousseff) caia no domingo. É o que eu torço. Em isso ocorrendo eu acho que o Brasil entra em uma pauta positiva. As reformas passam a ser a pauta e não a disputa política.
Isso muda muito o mercado para o teu ramo de negócios?
Isso acontecendo, eu acredito muito na mudança do consumidor, na mudança do humor dos investidores internacionais, e que o Brasil saia desse marasmo mais cedo do que nós imaginamos. Então ano que vem será um ano importante para nós já iniciarmos as locações (de Chapecó) com as grandes âncoras, com as grandes marcas, e a partir de um percentual importante de locação a gente começa os investimentos.
Normalmente o grupo começa uma obra com quanto do shopping locado? Há uma meta ou um número mínimo para fazer isso em Chapecó?
Tem. Normalmente eu começo com 40%. Agora eu quero começar com mais. Então a nossa ideia é ter pelo menos 70% do shopping comercializado para começar os investimentos. Mas isso é totalmente viável. A gente vai fazer lá em Chapecó um empreendimento tão grande quanto o Nações. Talvez até um pouco maior.
Então ele será um shopping com 40 mil m2 de ABL (área bruta locável)?
Em torno de 40 mil (m2) de ABL. O Nações tem 38 (mil m2 de ABL) e com capacidade de expansão. Essa obra iniciando no segundo semestre existe a possibilidade de nós inaugurarmos até em 2018, para o Natal daquele ano. Paralelo a isso nós temos a expansão do Garten, em Joinville, que também começa com os projetos in house (dentro da empresa) este ano. Neste ano a Almeida Junior quer aprovar dois projetos: a expansão do Garten, que aumenta a ABL de 34 (mil m2) para 44 (mil m2)…
Com essa nova metragem o Garten vai empatar com o Continente como o maior shopping do Estado.
Sim, ele empata com o Continente. O Garten terá 44 mil (m2) de ABL. Nós já temos uma importante âncora confirmada que eu não posso mencionar ainda, mas vai ser muito importante para o Garten. Lá nós estamos inaugurando o Supermercado Belém, um supermercado maravilhoso da região, mas fantástico e com um projeto super revolucionário. A Kalunga, que está no Centro (da cidade), vai para dentro do Garten. Ninguém sabe, vocês estão sabendo de primeira mão, temos o contrato já assinado e a loja vai inaugurar daqui a 60 dias. O (Supermercados) Belém inaugura daqui a 90 dias. Estamos levando mais um restaurante para o shopping, que vende super bem. A expansão aumenta em 10 mil m2 o ABL, e nós vamos fazer também um hotel e um prédio comercial no terreno ao lado.
Um pouco ao estilo do Neumarkt de Blumenau.
Isso. Nós temos um terreno de 18 mil m2 ao lado (do Garten) que foi reservado para isso.
Qual é o planejamento para a expansão do Garden? Quando ela deve começar?
O nosso projeto é não iniciar obra nenhuma até julho do ano que vem. Por uma questão de cautela porque são investimentos muito grandes. O que nós vamos fazer com o Garden? Como ele é um shopping maturado nós vamos iniciar essa comercialização mais rápido. Primeiro com essa âncora, para ela definir exatamente o espaço que ela precisa, o hotel nós já estamos mais avançados. Ele começa antes da expansão (do shopping).
Podes comentar qual será a bandeira do hotel?
É uma rede internacional que vai agregar muito valor para aquela região Norte. Joinville já é bem acessível de hotel e terá mais um importante. O Norte de Joinville está crescendo muito. O prefeito me informou que até o final do ano que vem ele já conclui a duplicação da Santos Dumont, já vindo do aeroporto até o Centro e que agora está em obras. Nossa ideia é inaugurar essa expansão já com toda essa infraestrutura de logística pronta. É como eu te falei, o Brasil está vivendo uma crise moral e política que vai ser ótimo para esse país, porque ele vai ser passado à limpo. É uma guerra o que estamos vivendo e estava na hora disso acontecer. Vamos sair dela melhor do que nós entramos. Faz parte de investimentos da nossa indústria, que são investimentos de capital intensivo de curto prazo para repor no longo prazo que essa pauta de reformas efetivamente ocorra. Pelo menos as mais importantes. Então eu entendo que no prazo de um ano muitas coisas boas vão acontecer e que vão aquecer mais a economia e que vão nos dar um ambiente mais seguro de investimento.
Falando em investimento, quanto deverá ser investido no novo shopping de Chapecó e nessa expansão em Joinville? Quanto destes investimentos e do foi feito em Criciúma são de capital próprio ou de capital de empréstimos?
No caso do Nações foram R$ 100 milhões de capital próprio e R$ 150 milhões de dívida.
Com um custo do crédito ainda razoável? O patamar de juros quando contraíste a dívida estava mais favorável que agora?
Eu contratei em dezembro de 2014. No caso de Joinville o investimento será de R$ 70 milhões. Esse investimento, nosso projeto é de fazer com recursos próprios. E no caso de Chapecó é um investimento de R$ 280 milhões que vai ter mais ou menos a mesma proporção do de Criciúma. Em torno de R$ 170 milhões de financiamento e a diferença de capital próprio.
Agora, esse novo crédito eu imagino que você vai esperar um pouquinho para acessar, não? Inclusive para ver se a taxa de juros melhora um pouco.
Sem dúvida. Não tem como fazer diferente.
Este momento de retração no consumo que está acontecendo desde 2015 prejudicou em algo as negociações com os lojistas do Nações?
O que atrapalhou os lojistas do Nações não foi nem o mau humor do mercado, mas foi a falta de financiamento para eles fazerem as lojas. Porque o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES trabalhavam muito com crédito subsidiado para os lojistas, e isto ficou parado. Obviamente isso causou problemas. Então nós estamos inaugurando o shopping com 92% das ABLs locadas, sendo que inaugurado com o shopping, das 180 lojas, nós vamos ter em torno de 100 loja. Durante o restante do mês de abril, mais maio, junho e julho já temos contratadas mais 30 lojas que vão inaugurar neste período. Se não fosse isso, nós estaríamos inaugurando o shopping com muito mais lojas. Mas quero te dizer que nem parece que teve crise. Pelo tamanho do shopping e como estamos inaugurando bem. O setor, nos últimos anos, até por muitas inaugurações, não teve lojistas suficientes para inaugurar todos os shoppings com ocupação de 98% ou 100%.
Na verdade, nem perto disso. Nos últimos anos proliferaram casos no país de shoppings que inauguraram com boa parte dos espaços vazios. Algo que vocês conseguiram que não acontecesse em Criciúma.
Isso. Fizemos com que isso não acontecesse. Mas um ponto que nos ajudou foi a exclusividade no Sul porque não tem nenhum outro concorrente. Então o fato de não ter concorrente gerou uma grande atratividade para o lojista. E não vai ter também (concorrência) porque como ele é um shopping muito grande, hoje nenhuma empresa de shopping center consegue viabilizar crédito ou aprovação nos conselhos e fazer um shopping se não tem mercado. Se não tiver mercado, ela não vai fazer. Porque, se não, vai quebrar a cara.
Quais serão os maiores diferenciais do Nações Shopping para Santa Catarina e para o Grupo Almeida Junior?
O Nações Shopping já nasce todo voltado para uma nova realidade energética. Nós estamos inaugurando o shopping 100% LED, por exemplo. Ele é o primeiro shopping do Brasil que já nasce todo LED. Porque é muito mais caro o LED. Nós importamos as lâmpadas da Alemanha, mesmo com esse dólar maluco. São todas lâmpadas Phillips alemãs. Então o shopping já nasce com sustentabilidade. São lâmpadas que tem sete anos de duração e não queimam, além de ter um lumen muito maior e uma economia de energia de 30% a 40% do que as lâmpadas alógenas. Também é o primeiro shopping da rede que já nasce 100% wi-fi. O Continente é 100% wi-fi, mas não nasceu assim. O Nações já nasce 100% assim.
Em qualquer lugar do shopping será possível acessar a internet abertamente?
Em todo o shopping, com um super equipamento. Você pode sentar em qualquer lugar e baixar um vídeo e ver esse vídeo que não vai comprometer nada. Não precisa ir para casa, nós queremos (que a pessoa) more lá mesmo. Com relação também aos aspectos energéticos e de sustentabilidade, nós temos uma grande piscina no subsolo para que aproveitemos a água da chuva para utilizar ela para fazer todas as limpezas externas sem usar a água da rede. Essa é uma forma de reaproveitamento de água, diminuindo o custo do lojista e também com sustentabilidade.
Esse seria o shopping mais sustentável do grupo e do Estado?
É um dos mais sustentáveis do Brasil. É verdade. Todo o nosso projeto de custo condominial é muito eficiente. O sistema, por exemplo, das garagens, é o mesmo sistema do Continente. É um sistema inteligente aonde temos uma gestão de vagas, toda a parte de comunicação visual digital. Ele tem contador de público. Nas portas nós contamos o público, inclusive por sexo. Sabemos o fluxo dele e por onde ele mais entra. No final do dia da operação nós conseguimos ter um report de quantas pessoas entraram no shopping, quantas eram mulheres e quantos homens.
Essa inteligência de análise do público visitante do shopping é fundamental.
Essa inteligência agora nós estamos levando para a rede. Estamos levando para o Continente, assim como o sistema de LED. Vamos trocar todas as lâmpadas de todos os shoppings. Já fizemos todos os projetos.
Esse investimento será de quanto?
Investimento de R$ 4,5 milhões só de lâmpadas. Mas isso representa uma economia muito importante. E falando em economia, a Almeida Junior virou a chave no dia 1 de janeiro deste ano quando saímos do mercado cativo de energia para o mercado livre. Todos os shoppings. Isso deu uma diminuição de 30% no consumo de energia e uma economia na rede de R$ 8 milhões a menos de energia.
Uma energia elétrica que ficou 50% mais cara em 2015.
Sim, 50% mais cara. Tanto que o lojista, não estamos colocando no condomínio a inflação do ano passado. Estamos mantendo esse custo, em alguns shoppings até menor por conta desse movimento que nós fizemos na migração para o mercado livre e também por, no ano passado, termos contratado uma consultoria que ficou oito meses nos nossos shoppings e com a qual fizemos o OBZ, o orçamento base zero, em todos os nossos shoppings para otimizar o custo do condomínio. Hoje a Almeida Junior tem, por exemplo, dimensionado o custo do m2 para limpar um banheiro, uma parede, um piso, quantas pessoas temos que ter na nossa área, e tudo com um processo muito forte de meritocracia. Dentro do nosso corpo social, que passamos a ter agora 1,7 mil funcionários com a contratação de 200 no Nações, nós temos líder de limpeza, líder de segurança, líder de manutenção, líder de supply, eles são líderes responsáveis pela qualidade e pela permanência daquilo que definimos no orçamento base zero. Obviamente com auditorias que a gente faz. Então a empresa está muito voltada para a eficiência. Ano passado e este ano têm sido muito importantes neste sentido.
Essa questão da sustentabilidade vai ser levada também para o novo projeto de Chapecó?
Sem dúvida. Cada shopping que a gente faz a gente melhora. Isso é uma coisa normal. Nós fizemos na expansão do Balneário Shopping, as vitrines do pavimento superior são vitrines de 6,50 metros de altura. Não existe no Brasil nenhum shopping com essa vitrine. Nós pegamos ela dos mais importantes shoppings do mundo e colocamos lá.
No ano passado o setor de shoppings cresceu no país (6,5%) e em Santa Catarina (3%). O grupo conseguiu crescer quanto em 2015?
O Grupo Almeida Junior cresce em vendas no ano passado 25% porque entrou em vigor a expansão do Balneário, que foi inaugurado em novembro do ano passado, e mais o processo natural de crescimento de cada shopping.
Se isolamos o impacto do shopping de Balneário, o grupo teria conseguido em 2015 um crescimento de quanto?
Se isolo Balneário nós crescemos 13%. Balneário representou 12% em crescimento orgânico de vendas do grupo. No ano passado vendemos R$ 2,5 bilhões contra R$ 1,8 bilhão em 2014.
Sendo assim, o grupo cresceu, sem contar o shopping de Balneário, o dobro do que a média dos shoppings no país no ano passado.
O Estado de Santa Catarina é um Estado diferenciado. E tem um ponto importante: como nós somos a única rede brasileira presente no Estado, não existe uma Multiplan em Santa Catarina, não tem uma BRMalls, não tem uma Aliansce, tem o Iguatemi… que tem um shopping pequeno aqui, no qual ele tem também uma participação pequena, que é o Shopping Iguatemi, e também ficou por aqui. Nós criamos uma barreira de proteção no Estado que gera para nós uma eficiência. Na hora que você pensa “Eu vou na Zara, vou nos melhores cinemas, vou em um shopping completo, vou em um shopping grande”, você vai em um shopping do Almeida Junior. Então isso facilita muito o processo de crescimento acima da média.
Comentaste o impacto de uma expansão para os negócios, mas certamente a inauguração de um shopping como o Nações terá um impacto ainda maior. Qual é a projeção para os resultados do grupo em 2016?
Nós vamos ter um crescimento orgânico dentro do shopping de mais umas 170 lojas, o crescimento orgânico do estacionamento, o mesmo no media mall, nos quiosques, em merchandising… nós estamos projetando um crescimento no nosso EBITDA para 2016 de mais 22%. Isso porque o Nações, a rigor, está na curva… não pega o ano inteiro, o full year. E terá muitas lojas inaugurando, como eu te falei, no final de abril, maio, junho, julho e agosto.
O resultado completo do Nações em um ano terás em 2017.
Sim, o full year eu teria ano que vem, quando o resultado do Nações será maior.
Tendo ele nos resultados no ano inteiro, algo que acontecerá em 2017, o impacto positivo nos negócios seria de quanto?
Como no ano passado a gente teve um crescimento do EBITDA de 28,5% em cima de redução de despesa, aumento de receita e eficiência. Com isso já tivemos uma performance muito boa. Esse ano, como eu te falei nós falamos de um crescimento de 22%. No ano que vem… claro que na medida que você vai crescendo, você coloca um shopping novo, a base é maior. Então se a gente conseguir manter o crescimento em 2017 no mesmo percentual de 2015 eu estarei feliz, entre 22% e 25%.
Com o Nações o Grupo Almeida Junior passa a ter shoppings em cinco das principais cidades de Santa Catarina. Depois de Chapecó, quais serão as próximas fronteiras de investimentos da empresa? Porque não faz parte do teu perfil parar de crescer.
Olha, a Almeida Junior é uma empresa que em 2008 definiu a estratégia de fechar o Estado. Então nós somos a única companhia de shoppings centers do Brasil… em realidade no país existem sete empresas que investem no setor de verdade.
Grupos, tu te refere? Nessa lista de sete grandes grupos, em que colocação está a Almeida Junior?
Nós somos a quarta empresa. Somos a única companhia que resolveu fechar em um Estado. Então o que ocorre? A Almeida Junior pensa em aquisições no Estado, expansões no Estado…
Como em Florianópolis, por exemplo?
Em Florianópolis, por exemplo. Então hoje o que eu posso te falar é que o foco é aqui. Obviamente não tendo oportunidades e você colocou bem que a empresa é inquieta, eu não vou ficar parado, daí vamos ver outras possibilidades. Mas eu confesso que as nossas estratégias estão dando tão certo que faz mais sentido a gente dar um passo ou para baixo ou para cima a partir do momento que se esgotar todas as oportunidades aqui em Santa Catarina.
Conversando com a Abrasce, eles comentaram que o perfil das inaugurações no país este ano são de aberturas no interior e shoppings não tão grandes. Este não me parece ser o perfil do teu grupo. Não acreditas neste perfil de investimento?
Não. A Almeida Junior tem esse DNA de shoppings regionais. Cada empresa tem um nicho, um perfil, e esse é o nosso perfil. Nós entendemos que os empreendimentos têm que ser fortes, grandes, regionais. O Nações é muito grande para Criciúma, mas ele tem o tamanho absolutamente correto para a região. Essa é a pegada da companhia.
O mesmo aconteceu com o Continente, não? Avaliando apenas a cidade ele parecia grande demais, mas fazia sentido olhando para a região. Ele trouxe o resultado esperado por você desde o início?
Trouxe. O que aconteceu com o Continente? Ele propiciou para que os moradores do Continente pudessem usufruir na área deles aquilo que eles tinham na Ilha, como uma Zara, cinemas bons. Antes eles tinham que atravessar a ponte, hoje eles não atravessam mais. Hoje eles tem as melhores opções de marcas maravilhosas no Continente e dentro de um equipamento moderno no quintal deles. Então isso foi uma coisa muito bacana. E o Continente tem muito mais massa crítica que a Ilha. A Ilha é bárbara, mas ela é estática, não cresce, e tem uma sensibilidade ambiental muito grande também. Então os shoppings que hoje tem em Florianópolis já são suficientes, porque são três shoppings. E a população do Continente é maior, e o crescimento do Continente é infinito enquanto o crescimento da Ilha é limitado. Então analisando o curto, o médio e o longo prazo eu não tenho dúvida que o Continente é um empreendimento extremamente saudável.
Ele, inclusive, tem mais chances de crescer.
Sim, tem mais chances de crescer. E no Continente nós temos área para expansão, áreas para desenvolvimento imobiliário, para hotelaria, para prédios residenciais e comerciais porque é um terreno muito grande, de 130 mil (m2). Então toda aquela parte do estacionamento…
Quanto desta área está sendo ocupada hoje?
Eu ocupo 75% desta área.
Ou seja, ali ainda você poderá fazer hotel, centro comercial…
Nós já temos o projeto. Inclusive isso você pode anunciar. Porque o mesmo grupo que está negociando com a gente em Joinville (um hotel) está negociando no Continente. Então está no pipeline da empresa para agora, em 2016, aprovar o projeto do hotel do Continente. Assim como o desenvolvimento de empreendimentos imobiliários. Obviamente os empreendimentos imobiliários, comercial e residencial, carecem dessa melhora do ambiente econômico porque o setor imobiliário está sofrendo muito, né? O hoteleiro não, porque ele, por conta do dólar, faz o turismo interno ser favorecido e muito aquecido. Eu acho que tem grandes oportunidades.
Em outubro de 2015 o grupo concluiu o programa Visões de Futuro. Quais foram os ganhos com esse projeto até agora e o que ele trará para a empresa ainda?
O programa Visões de Futuro tem tudo a ver com o OBZ, o orçamento base zero. O programa tem esse nome, e o orçamento base zero é a metodologia que a gente aplicou, uma metodologia mundial para reduzir custos de uma empresa. Você parte do princípio que a empresa não existe. Acabou, vou começar amanhã. “Para começar amanhã o que eu preciso?”. Aí você quebra um monte de paradigmas. Você passa a ter um olhar diferente, o que aplicamos em todos os shoppings. Isso gerou várias decisões.
Como quais?
Como a decisão da mudança do mercado cativo (de energia elétrica) para o mercado livre, a decisão de meritocracia em todo o aspecto de manutenção do shopping, a decisão de colocar LED e uma série de outras medidas internas.
O que mais deve vir de mudança a partir deste programa?
Começamos a aplicar ele em outubro do ano passado. Porque o programa iniciou em fevereiro e terminou em agosto. Em setembro colocamos as pessoas responsáveis em cada uma das áreas e em outubro demos o start nele. Estou muito feliz que conseguimos bons resultados. Agora tem que manter com muita meritocracia e seguir com o processo. Além disso eu quero te dar em primeira mão a informação de que a Almeida Junior, no último trimestre do ano passado, desenvolveu um LAB, um laboratório de tecnologia. Fomos a primeira empresa do setor com um laboratório de tecnologia. Então o nosso gerente de TI com a nossa superintendente corporativa de marketing juntos estão desenvolvendo vários produtos para, através do app (aplicativo) do Almeida Junior, desenvolver diversas soluções.
O que o LAB da Almeida Junior desenvolveu até agora?
O nosso app está em toda a rede e a partir deste LAB nós vamos usar o smartphone como um tool, uma ferramenta importante na linkagem do cliente, do consumidor com o lojista. Nós vamos propiciar ao lojista a nossa plataforma tecnológica de graça e a partir dela vamos levar o cliente na loja dele, ele vai fazer promoções dentro do shopping, nós vamos ter pushs dentro…
Vocês vão utilizar a geolocalização do cliente para inclusive direcioná-lo nas compras que tem mais o perfil dele?
Nós vamos, por exemplo… será um produto que vamos lançar logo logo, você vai estar andando no shopping e vamos estar chamando você pelo nome e dizendo que na loja tal tem certa promoção te esperando. A loja estará linkada e vai saber que você vai lá, vai te chamar pelo nome, por exemplo. Você vai poder comprar pelo app e buscar no shopping, vai poder fazer um monte de coisa, como marcar a mesa do restaurante pelo app, pagar o estacionamento por ele. Isso será permanente porque é uma condição sine qua non para você atender às mutações que o mercado está tendo e a mudança do comportamento do consumidor. O Nações já vai nascer com o aplicativo.