O grupo SBF, dono da rede de artigos esportivos Centauro e com faturamento de quase R$ 2 bilhões no ano passado, decidiu levar adiante o projeto de reforma de lojas, mesmo sem fazer a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). A companhia buscava levantar R$ 750 milhões com a abertura de capital neste ano. Os recursos seriam usados na abertura e reforma de lojas, no reforço de caixa e na amortização de dívidas.
“A companhia não chegou a lançar a oferta. Houve uma certa desconfiança dos investidores sobre a capacidade da Centauro de manter um ritmo de crescimento acelerado, após passar pela reestruturação financeira”, afirmou Pedro Zemel, presidente da Centauro.
A Centauro concluiu em 2017 a reestruturação de uma dívida de R$ 372,7 milhões. O processo foi negociado com Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, os principais credores. O passivo foi alongado por cinco anos, com 12 meses para o início do pagamento de juros e 24 meses para pagamento do principal. O processo contou com a assessoria financeira da Starboard Partners.
Como parte do processo de reestruturação, a companhia fechou a rede By Tennis, que tinha dez lojas. Em 2016, a empresa já havia fechado cinco lojas da Centauro.
Após renegociar as dívidas, a Centauro voltou a lucrar em 2017. A companhia obteve lucro líquido de R$ 241 milhões no ano passado, ante prejuízo de R$ 59,5 milhões em 2016. Um saldo de R$ 360,7 milhões de crédito de Imposto de Renda e Contribuição Social a levou ao lucro. O resultado antes de impostos foi um prejuízo de R$ 118,4 milhões, maior que a perda de R$ 59,5 milhões em 2016. A receita líquida cresceu 6,6%, para R$ 1,97 bilhão.
Ao voltar ao lucro em 2017 e com o novo plano de lojas em andamento, Zemel espera convencer investidores sobre o potencial de crescimento da companhia. A meta do grupo SBF é tentar de novo o IPO em 2019.
Até o fim de agosto, a companhia reformou 11 das 188 lojas que possui. Zemel disse que essas unidades tiveram crescimento médio de 50% em receita no acumulado de janeiro a julho, em relação ao mesmo intervalo de 2017. A rede total da Centauro cresceu 15,3% em receita no período.
O novo modelo de loja tem um visual mais leve, com menos produtos nas araras e mais oferta de serviços. Na área de tênis, por exemplo, o consumidor pode testar o calçado em uma esteira. No caso de bicicletas, o vendedor tira as medidas do cliente para oferecer um modelo com aro, quadro e guidão mais adequados à sua altura e ao seu porte.
A loja também é integrada com o comércio eletrônico. O consumidor pode fazer o pedido na loja e receber o produto em casa, ou comprar on-line e retirar a mercadoria na loja no dia seguinte. Nos provadores, há um dispositivo que permite solicitar outros tamanhos e cores de um produto sem sair da cabine. Os vendedores possuem dispositivos para concluir o pagamento de qualquer lugar da loja, evitando as filas nos caixas.
Além das 11 lojas renovadas, a Centauro pretende reformar mais uma unidade e abrir cinco lojas com o novo conceito neste ano.
Zemel disse que a estrutura da companhia permite reformar cem lojas em 12 meses. Mas falta dinheiro. A reforma das lojas requer, em média R$ 4 milhões por unidade – um custo muito similar à abertura de um novo ponto. A reforma das demais 171 lojas demandaria cerca de R$ 684 milhões.
“Vamos precisar de capital para fazer essa mudança. A expectativa é convencer os investidores de que os resultados compensam o investimento em uma próxima tentativa de IPO”, disse Zemel. O plano é fazer a abertura de capital em 2019. “Vamos esperar uma nova janela de oportunidades. A expectativa é que haja uma melhora no ambiente macroeconômico e político após as eleições.”
A meta da companhia em 2018 era captar R$ 750 milhões com o IPO. Sem citar números, Zemel disse que a companhia espera fazer uma captação maior no ano que vem.
Os acionistas do grupo SBF – Sebastião Vicente Bomfim Filho, por meio da Pacipar (63,5%), e a gestora de fundos de private equity GP Investments (36,5%) – não venderão suas ações.
Fonte: Valor Econômico