A C&A, segunda maior empresa de varejo de moda do país em receita, atrás da Renner, decidiu mudar a forma como desenvolve suas coleções. O objetivo é reduzir o prazo de renovação das vitrines, incorporando conceitos de moda das ruas e reforçando a integração entre lojas físicas e o comércio eletrônico. Esse novo conceito será apresentado ao público amanhã, terça-feira.
“Não se trata de fast-fashion, que é uma capacidade de replicar rapidamente tendências das grandes casas de moda. O que estamos fazendo é capturar a moda das ruas e levando-a para dentro das nossas coleções com muita agilidade”, afirmou ao Valor Paulo Corrêa, presidente da C&A no Brasil.
A companhia vai lançar semanalmente minicoleções, ou coleções cápsula, no jargão do setor. Serão compostas de 15 a 20 modelos, que só poderão ser comprados no site da varejista ou em seu aplicativo. Em princípio, essas coleções ficarão disponíveis para experimentação em duas lojas físicas — uma no shopping Iguatemi, na capital paulista, e outra no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro.
Nas lojas, as coleções ficarão em um espaço definido como uma espécie de mostruário, com uma peça de cada tamanho, cor e estampa, para que o consumidor possa provar as peças. Para comprar os produtos, é necessário acessar o comércio eletrônico da rede, por meio de tablets e computadores espalhados na loja. A entrega é feita no dia seguinte, na própria loja ou na casa do cliente.
Esse formato, conhecido coautomóveis mo “guide shop”, costuma ser adotado por empresas de comércio eletrônico que decidem ir para o mundo físico. A Amaro, de moda feminina, mantém 15 lojas com esse conceito em São Paulo, Rio, Curitiba e Belo Horizonte. A Dafiti, da Global Fashion Group (GFG), abriu uma loja temporária nesse modelo em São Paulo, em 2015.
“O plano é levar o projeto para outras capitais em dezembro”, afirmou Corrêa. De acordo com o executivo, dependendo da resposta dos consumidores, a C&A poderá implantar esse modelo de apresentação de minicoleções em todas as suas 280 lojas no país. “Não existe uma meta estipulada, mas é possível que se torne um novo formato de loja da C&A. O projeto vai crescer naturalmente dentro do sistema ‘agile’”, afirmou Corrêa.
O sistema “agile” (ágil, em inglês) é adotado tradicionalmente por empresas de tecnologia para lançar produtos e tirar do mercado rapidamente aqueles que não dão certo. Recentemente, passou a ser adotado por grandes companhias, para acelerar seus processos de inovação.
Para desenvolver as minicoleções, os estilistas da C&A passaram a trabalhar em conjunto com um grupo de fornecedores com capacidade para acelerar a produção de peças. Com o uso de aplicativos, os profissionais ficam em contato constante para pesquisar materiais disponíveis, avaliar protótipos e definir a produção.
“O ciclo de desenvolvimento de coleções foi reduzido em umas cinco vezes”, afirmou Corrêa. Entre criação de conceito e disponibilização do produto para a venda, o tempo médio para essas coleções é de 35 dias.
Corrêa observa que esse novo formato de trabalho já começou a influenciar a forma como a empresa constrói suas coleções regulares. “Acredito que, futuramente, haja um redesenho dos nossos cronogramas e calendários de coleções no mundo físico”, afirmou o executivo. A C&A lança 12 coleções por ano em sua lojas.
A C&A não divulga dados financeiros por país. Corrêa disse que o ano de 2018 tem sido “bem interessante” para a companhia, com crescimento nas vendas. “A perspectiva para 2019 é ter um ano melhor do que o atual”, afirmou. Em 2018, a C&A abriu em torno de 60 unidades, incluindo reinaugurações, e reformou 81 lojas, chegando a 282 lojas em operação no país. Corrêa disse que a empresa discutirá com a matriz neste mês o plano de abertura de lojas para 2019.