Organizado pela seção brasileira do movimento Fashion Revolution, o Índice de Transparência da Moda local teve os resultados divulgados na semana passada. A pontuação média de marcas e varejistas brasileiras foi de 17% de um total de 250 pontos possíveis de serem atingidos. A moda do país ficou pouco abaixo da média de transparência mundial de 21%, de acordo com o FTM (Fashion Transparency Index) anunciado em abril. Apenas duas participantes alcançaram pontuação em torno de 50%: a varejista C&A, com 53% ou 132 pontos; e a marca Malwee, do grupo de mesmo nome, com 51% ou 126,5 pontos.
Nesta primeira edição, o ITM Brasil analisou 20 marcas e varejistas do setor em cinco categorias, a exemplo dos critérios do índice global: Políticas e Compromissos, quanto a aspectos sociais e ambientais; Governança; Rastreabilidade, para saber se a marca publica uma lista de fornecedores, desde a confecção até a matéria-prima; e qual o nível de detalhamento; Conhecer, Comunicar e Resolver, procedimentos para reagir a problemas, como irregularidades nas instalações de fornecedores; Tópicos em Destaque, abordando políticas sobre igualdade de gênero, raça, trabalho de imigrantes, salários justos, consumo excessivo, resíduos e reciclagem.
A pontuação teve como base as informações publicadas pelas empresas em websites, em relatórios de responsabilidade social corporativa ou de sustentabilidade, além de terem recebido questionário com quase 200 perguntas, que oito não responderam, justamente aquelas que simplesmente não pontuaram. A pesquisa foi realizada pelo Fashion Revolution Brazil em parceria técnica com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces) entre maio e julho de 2018.
Conta com o apoio da ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), entidade que representa o grande varejo, e financiamento da Fundação C&A. As marcas foram selecionadas pelo volume de negócios; diversidade de segmentos de mercado; e posicionamento como top of mind, detalha o relatório que acompanha o índice.
DESEMPENHO LOCAL
Pelos critérios do ITM Brasil, ficaram com 0%: Brooksfield, Cia Marítima, Ellus, John John, Le Lis Blanc; e as três só de calçados, Melissa, Moleca e Olympikus. “Isso não significa que elas não tenham boas práticas e iniciativas, mas que, por enquanto, não estão compartilhando publicamente nenhuma informação”, aponta o relatório. Mas, a falta de pontuação puxou para baixo a média nacional, de 42 pontos, o que levou o relatório a considerar que entre as marcas e varejistas que atuam no país “ainda há um longo caminho para ser percorrido em direção à transparência”.
Pela ordem de maior pontuação, a outra metade das marcas e varejistas estão avaliadas da seguinte maneira: Zara 40% (99,5 pontos); Havaianas 36% (91 pontos); Osklen 34% (84 pontos); Renner 26% (65,5 pontos); Riachuelo 23% (58,5 pontos); Hering 17% (41,5 pontos); Farm 15% (38 pontos); Animale 15% (37 pontos); Marisa 13% (33,5 pontos); e Pernambucanas 10%(25 pontos).
CATEGORIA DE PESO
As categorias de maior peso no índice são Rastreabilidade com 34% (85 pontos) e Conhecer, Comunicar e Resolver com 30% (74 pontos). A média nacional nessas duas seções foi de 12% e 11%, respectivamente. Em Rastreabilidade, Malwee foi a marca que mais pontuou com 71%. Na faixa dos 50% ficaram Osklen (49%), Havaianas (49%) e C&A (48%). Bem atrás apareceram Marisa (14%) e Zara (12%). Renner pontuou 1% e as demais 13 tiveram 0%. Em Conhecer, Comunicar e Resolver marca ou varejista nenhuma ultrapassou os 30%.
“Tanto no índice global quanto no brasileiro, ficou claro que o nível de informação que as marcas possuem sobre suas cadeias de valor é baixo. Os resultados obtidos na seção Rastreabilidade (11% no global e 12% no brasileiro) confirmam o fato de que as empresas detêm maior controle sob a informação ‘mais próxima’, isto é, dos últimos elos da cadeia de produção, e menor controle sob aquelas informações relacionadas aos elos mais distantes, que seriam os fornecedores de matéria-prima”, ressalta o relatório.
REPERCUSSÃO
Para a ABVTex: “iniciativas como o Índice de Transparência da Moda colaboram com o desenvolvimento sustentável do setor e de sua cadeia produtiva, já que ajudam a fomentar o amadurecimento do debate das organizações, governo e da sociedade sobre a responsabilidade social de cada um”. Em sua participação no evento de lançamento do índice Brasil, o presidente da ABVTex, Edmundo Lima afirmou que “quanto mais força tiver o movimento de transparência, maior será a onda positiva capaz de motivar a adesão de uma parcela do mercado em prol da moda sustentável, mais justa e responsável”.
Em comunicado ao mercado o CEO do Grupo Malwee, Guilherme Weege, comemorou o desempenho da marca no índice por entender que reflete o posicionamento na gestão das marcas da companhia .“Mas os nossos desafios continuam e a nossa responsabilidade só aumenta, com o compromisso de fazer da moda um agente importante de transformação”, declarou.
Fonte: GBL Jeans