A C&A está em processo de retomada gradual das operações das lojas físicas, após a pandemia derrubar em 9,7% as vendas dos pontos em funcionamento há mais de um ano no primeiro trimestre. Segundo Paulo Correa, presidente da varejista no Brasil, as 39 unidades reabertas – de um total de 286 lojas – já faturam 70% do que vendiam em igual período de 2019. A maior parte delas está na região Sul e a demanda por smartphones, roupas de moletom e de inverno cresce em base anual.
“O fluxo de clientes é menor, mas convertemos mais vendas e com tíquete médio maior. […] A tendência é melhorar com o passar dos dias”, disse Correa a analistas de mercado ontem, durante teleconferência sobre o balanço do primeiro trimestre. Entre as medidas de prevenção à covid-19 tomadas nas unidades reabertas estão a verificação da temperatura dos funcionários ao chegar, distanciamento entre os clientes nas filas e reforço na higienização dos ambientes.
Como os provadores estão fechados, o prazo de troca das peças foi ampliado de 30 para 90 dias. Sobre a reabertura em São Paulo, Correa informou por e-mail ao Valor que vem acompanhando o plano do governo do Estado e que se a iniciativa for adiante, a C&A estará pronta para voltar às atividades.
De janeiro até 13 de março as vendas pelo critério “mesmas lojas” subiam 7,3%, sendo 9,3% apenas em vestuário. O fechamento do comércio, com as medidas de isolamento social, inverteu o cenário e houve queda de 8,9% no trimestre. No mês, a categoria de roupas crescia dois dígitos. “A C&A se aproximava do plano estabelecido para o primeiro trimestre, que foi interrompido, mas estamos reinventando o negócio”, afirmou o executivo.
A rede teve prejuízo líquido de R$ 55,4 milhões nos três primeiros meses do ano, ante lucro de R$ 751,4 milhões um ano antes. A margem bruta total ficou em 48,8%, alta de 0,6 ponto percentual. A receita líquida caiu 6,1%, para R$ 976,9 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recuou 87,9% e atingiu R$ 91,1 milhões.
Após a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em outubro de 2019, a rede pretendia abrir 22 lojas e reformar outras 62 este ano, mas o novo coronavírus atrapalhou o planejamento. O presidente disse que a previsão inicial de investimento de R$ 370 milhões “será razoavelmente menor”. No ano passado, somou R$ 318,8 milhões.
No primeiro trimestre, os aportes na operação totalizaram R$ 33,5 milhões, queda de 69% na variação anual. Uma unidade foi aberta na Bahia e duas foram fechadas em São Paulo. Além disso, foram concluídas cinco reformas. O investimento cresceu apenas nos centros de distribuição, passando de R$ 600 mil para R$ 2,1 milhões.
“Continuamos acreditando no plano de crescimento que temos traçado. Contudo, referente às lojas físicas, entendemos que haverá um atraso decorrente da pandemia”, afirmou Correa. O montante aplicado em lojas físicas deverá ser bem menor, mas os aportes nas iniciativas digitais e multicanal estão sendo ampliados.
Com as lojas fechadas, a multinacional holandesa acelerou os projetos de transformação digital que seriam adotados somente em 2022 e 2023. A loja virtual tem registrado crescimento de três dígitos. O número de usuários mensais ativos no aplicativo cresceu 2,85 vezes entre março e maio, para 2,67 milhões.
Diante do cenário adverso, estão sendo renegociados os prazos de pagamento e pedidos descontos aos fornecedores. O cronograma de pedidos foi revisto e alguns deles foram cancelados. Na teleconferência, o executivo disse que está conversando também com as administradoras de shoppings.
A C&A adotou ainda as medidas provisórias (MPs) 936 e 927, que permitiram reduzir a jornada e salário dos funcionários, além de suspender o contrato de parte deles. Além disso, para reforçar o caixa de R$ 280 milhões, captou R$ 850 milhões por meio de notas promissórias e cédulas de crédito bancário.
Outra medida aprovada pelo conselho de administração em meio à pandemia foi reter o pagamento de R$ 162 milhões em dividendos, para constituir uma reserva especial de caixa com o agravamento da crise econômica.
Fonte: Valor Econômico