A C&A quer provar para a concorrência que a moda sustentável precisa passar no teste que mais importa para o consumidor: o bolso.
Depois de terminar 2020 lançando a mais verde de suas coleções brasileiras até hoje sem mexer no preço, a varejista planeja abrir para outras marcas as adaptações na cadeia de fornecedores que proporcionaram o segundo nível mais alto da certificação Cradle to Cradle. O selo internacional, que avalia a responsabilidade ambiental e social em todas as etapas de produção, foi concedido à coleção Ciclos, lançada em novembro.
— Não será um monopólio nosso. Vamos abrir a fórmula para toda e qualquer empresa que deseje fazer o mesmo. Queremos deixar uma espécie de manual dentro da nossa rede de fornecedores, de modo a capacitá-los para que possam replicar os processos com nossos concorrentes — promete o CEO Paulo Correa.
A receita da C&A, explica, tem sido equilibrar os custos maiores que a moda sustentável implica com ganho de escala — o que passa necessariamente por preço. Na Ciclos, por exemplo, uma saia jeans custa R$ 79, valor equivalente ao de coleções tradicionais da marca.
— O nível de conscientização socioambiental do nosso consumidor tem sido cada vez maior. Mas ele não necessariamente aceita pagar mais por isso. Na verdade, ele acha que deve pagar o mesmo. Senão, o produto vira premium e não gera escala—explica o CEO da C&A, empresa que lidera o Índice de Transparência da Moda Brasil.
Relatório recente da XP avaliou que, dentro dos três pilares do chamado ESG — sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança —, a C&A tem dado maior foco ao meio ambiente. Mas Correa defende o retrospecto da marca em termos de inclusão.
Ele lembra que, ainda nos anos 90, a C&A foi a primeira grande empresa a ter um garoto-propaganda negro, o ator Sebastian Fonseca e seu slogan “Abuse e Use”. Segundo o executivo, 65% da liderança da C&A é formada por mulheres, 55% dos seus funcionários são negros e a varejista mantém um programa de inclusão de profissionais transgênero.
Mas Correa admite que o “contexto talvez não seja tão equilibrado assim.” Perguntado se a C&A planeja lançar programas de recrutamento só para negros, como os de Magazine Luiza e Bayer, ele diz ver méritos nesses processos e que o tema é discutido internamente:
— Muitas vezes temos que dar um passo extra para chegar ao nível adequado. Não só porque a mídia está falando, mas principalmente para ter contribuições verdadeiramente diversas.
Fonte: O Globo