Nem só de pontos, milhas e descontos dependem as grandes redes de varejo do País. A modalidade de cashback, que devolve dinheiro para o consumidor, ganha força e ajuda a criar fidelidade em tempos de concorrência acirrada.
A expressão “é dando que se recebe”, atribuída ao frade católico Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (1182-1226), incentiva a humildade, a caridade e o desapego de bens materiais, mas poderia representar a mais recente estratégia do comércio para atrair e fidelizar clientes: o cashback (dinheiro de volta, em inglês). Em vez de oferecer cartelas “de compre dez e ganhe um”, pontos que expiram antes de valer um utensílio de cozinha ou cupons para concorrer a ingressos do parque de diversões, a grande aposta é devolver em dinheiro uma parte da compra. “Com o aumento do comércio on-line, as pessoas passaram a confiar mais nas plataformas digitais. O cashback, assim como os cupons de desconto e promoções, veio ao encontro do anseio da população em economizar”, afirmou Roberto Freire, CEO Américas da MyWorld, operadora da austríaca Cashback World, uma das maiores do mundo. “A pandemia tem ajudado a transformar a mentalidade do consumidor para esse benefício.”
O cashback, de fato, existe desde 1998, mas parece ter sido desbravado com mais entusiasmo pelos consumidores e pelos próprios comerciantes somente agora. Um levantamento da Clearsale, empresa de mapeamento do comportamento e da reputação do consumidor digital, avalia o setor de cashback em mais de US$ 108 bilhões em vendas em 2020 em todo o mundo. O cenário é igualmente positivo para as redes varejistas. O estudo Global Markets Watch: Os 10 países mais quentes de comércio eletrônico em 2020 aponta que o uso de cashback gerou um aumento médio de 46% nas vendas dos produtos – de US$ 76 para US$ 106. No terceiro trimestre deste ano, na comparação com o segundo, houve crescimento de 20%.
De acordo com a Clearsale, que avaliou 450 empresas líderes globais no segmento, o Brasil está entre um dos melhores mercados para o e-commerce neste ano, com um crescimento de 22%. A pesquisa destaca o desempenho do País, único citado na pesquisa em toda a América Latina, principalmente na primeira quinzena de março, quando as vendas de comércio eletrônico aumentaram 40% em comparação com o mesmo período de 2019. Com 31 milhões de compradores on-line no ano passado, o estudo projeta, para este ano, que as vendas alcancem US$ 16,7 bilhões no País.
Para Yuri Penido, fundador e CEO da Ganhe de Volta, plataforma brasileira com expectativa de geração de R$ 24 milhões para lojas parceiras em 2020, o receio do consumidor com as compras on-line acabou e o cashback passou a ser visto como um atrativo. “É uma ótima maneira de atrair e fidelizar o cliente”, disse. Na avaliação dele, o negócio se mostra lucrativo para os três lados: consumidor, varejista e plataforma de cashback. “O dinheiro oferecido de volta ao consumidor faz parte de uma porcentagem paga pela loja à plataforma de venda, que divide esse valor percentual com o cliente”, afirmou.
“O cashback veio ao encontro do anseio da população em economizar” Roberto Freire, CEO da MyWorld para as Américas.
DIGITALIZAÇÃO Ganhando cada vez mais popularidade, o cashback está se expandindo na carona da popularização das fintechs. Criada em 2018, a Ame Digital, fintech e plataforma mobile de negócios do Universo Americanas (Americanas.com, Submarino e Shoptime), aproveitou a Black Friday para oferecer um cashback fixo de 6% em contratos de crédito pessoal, uma parceria com a fintech de crédito pessoal on-line Rebel.
Tanto sucesso ampliou os horizontes do setor e chamou atenção de grandes companhias, que passaram a desenvolver um programa próprio de cashback. Esse é o caso da Magazine Luiza. A gigante varejista anunciou, em julho, o lançamento da modalidade por meio do aplicativo da rede. A diferença é que o resgate feito pela plataforma será recebido na conta Magalu Pay, podendo ser utilizado em transferência para amigos, pagamento de contas ou novas compras dentro do aplicativo.
Fonte: IstoÉ Dinheiro