Por Maria da Paz Trefaut | O grupo suíço de luxo Richemont está retomando com mais força a operação no varejo físico em São Paulo. Dia 27/4 reinaugurou uma loja conceito da Cartier no shopping Cidade Jardim e vai abrir duas relojoarias da Panerai e IWC em parceria com a Frattina, no Shopping Iguatemi. O maior controle maior da alfândega nos últimos tempos, que inibe o contrabando; a diferença menor entre os preços no Brasil e no exterior e a possibilidade de parcelamento são fatores que podem ajudar aumentar as vendas, avalia o comando do grupo no Brasil.
No ano passado, a Cartier ultrapassou a Omega e se tornou a segunda marca de relógios mais vendida do mundo, atrás da Rolex. O mesmo aconteceu no Brasil. A nova loja da Cartier será a primeira no país a seguir um modelo que já existe no exterior e que prega o uso de materiais locais por questões de sustentabilidade e identidade cultural com o país onde a marca atua. “Teremos algo como um apartamento parisiense com um terraço brasileiro. O brasileiro tem comprado cada vez mais localmente porque gosta de falar o mesmo idioma”, diz o gerente-geral da marca no Brasil, Maxime Tarneaud, ao contar que haverá madeira, pedras alexandrite e móveis de designers nacionais, como Jader Almeida e Jorge Zalszupin.
O atendimento nas lojas brasileiras é muito diferente das europeias, onde não há as mesmas mordomias. “O brasileiro não quer fazer fila nas butiques de Paris e gosta de ser paparicado. Além disso, 90% dos clientes pagam parcelado”, diz Tarneaud. Atualmente, a Cartier tem três motores de venda: o e-commerce, criado em 2019 e responsável por 10% das vendas; duas butiques em São Paulo; e 13 multimarcas com 19 pontos de venda em nove Estados.
No Brasil, os preços são em média 20% mais altos. O item mais barato da Cartier é um perfume de R$ 700; para o mais caro, não há limite. O best-seller na joalheria é a pulseira “love”, design dos anos 1970, de R$ 40 mil. Mas a curva de vendas é constante e ascendente e, embora não forneça nenhum número, o executivo diz que entre 2020 e 21 as vendas mudaram de patamar e mantiveram a mesma tendência na pós-pandemia.
O mercado global de joias foi avaliado em US$ 340,69 bilhões no ano passado e deve ter crescimento anual de 4,6% de 2023 a 2030, segundo a pesquisa “The Plumb Club Industry & Market”. A mesma fonte indica que 50% do mercado está na Ásia e que, agora, a tendência é fechar parcerias com varejistas da região, mesmo on-line, para obter uma vantagem competitiva.
É exatamente isso que estão fazendo as marcas de alta relojoaria IWC e Panerai ao se associarem à Frattina. As duas grifes já tiveram lojas no shopping JK Iguatemi, que encerraram operações em dezembro de 2019. O e-commerce foi aberto em 2021. Agora, há uma volta para o espaço físico, mas sob outro modelo.
A Frattina, que completa 80 anos no mercado de alta relojoaria e alta joalheria, será a operadora exclusiva das duas butiques, que serão idênticas às de Milão e Nova York. “Serão as únicas da América do Sul; 40% das coleções serão exclusivas das butiques”, diz o chefe de operações da Frattina, Júlio Sato. Ele entende a parceria das marcas com o varejo como forma não só de reduzir o custo operacional, mas de evitar as complicações de uma gestão feita à distância.
Para essa volta ao espaço físico brasileiro, as duas marcas optaram por oferecer o mesmo preço do exterior. Há relógios da IWC a partir de R$ 25 mil e da Panerai a R$ 35 mil. É um mercado de nicho, assim como o da Frattina, que em pesquisa recente verificou ter clientela em vários Estados brasileiros, especialmente do Centro-Oeste, onde se concentra o agronegócio.
Sato avalia que o mercado está se acomodando e estabilizando depois do “boom da pandemia e da volta das viagens”. E chama atenção para o mercado de segunda mão, que tem crescido no mundo: “Alguns clientes começaram a ver os relógios como investimento depois que alguns modelos duplicaram ou triplicaram de preço na revenda. Então, muitas compras hoje são motivadas mais pelo investimento do que pela satisfação pessoal. Mas um mercado não prejudica o outro. A procura pelos relógios de segunda mão só existe em função da demanda do novo”.
Fonte: Valor Econômico