Por Adriana Mattos | O executivo Eric Alencar, diretor vice-presidente de finanças do Carrefour, disse, em encontro virtual com a equipe de análise do Goldman Sachs, que a empresa deveria ter começado a adicionar mais cedo serviços no Atacadão, rede de atacarejo do grupo, frente aos resultados registrados após a implementação.
O Atacadão tem crescido abaixo do ritmo de Assaí e do Grupo Mateus, em parte, segundo analistas, porque tem maior dependência da venda para empresas (bares, hotéis, restaurantes), e essa demanda cresce mais lentamente que a dos consumidores finais.
“O CFO reconheceu que o CRFB [código do grupo na B3] deveria ter começado a adicionar serviços mais cedo, dados os resultados iniciais e frente ao ‘feedback do roll out’ em andamento desde o segundo semestre de 2023. Até o final do ano, a direção espera lançar serviços adicionais para cerca de um terço das 361 lojas do Atacadão”, diz relatório do banco publicado na segunda-feira (25).
No Atacadão, cerca de 60% das vendas são para pessoas jurídicas e 40%, para pessoas físicas. No Assaí, é meio a meio.
Quando a deflação avança, como foi em 2023, as empresas que se abastecem no atacado reduzem estoques e compram mais “em cima da hora”, acreditando que os preços possam cair mais, e, com isso, ganharem mais nessa diferença. Isso afeta mais redes dependentes desse comprador.
Agora, com a inflação alimentar em casa retornando ao positivo após um período de deflação, Alencar disse que os clientes pessoas jurídicas começaram a recompor estoques num ritmo mais sustentável e normalizado. Ele acredita que isso deve levar a um melhor crescimento de vendas para o segmento nos próximos trimestres, com efeito positivo em indicadores de venda.
No ano passado, o Atacadão teve alta de 6,1% na receita líquida (afetada por deflação) e nas “mesmas lojas” (em operação há mais de 12 meses), recuou 1,1%. No Assaí, as taxas foram de 22% e 1,6%, e no Mateus, de 31% e 5,8%, respectivamente, frente a 2022.
Apesar de reforçar que a fortaleza do Atacadão são os preços baixos, o diretor disse que a empresa irá melhorar a experiência na loja — algo que tem sido foco dos concorrentes, apesar de eventuais pressões em despesas operacionais — por meio da implementação de um número maior “auto-checkout” e a introdução de novos itens nas lojas.
Alencar ainda disse, sobre as conversões do Big – rede comprada em 2021 – para o modelo de varejo (hipermercados), que o “’ramp up’ [desenvolvimento] dessas conversões têm sido mais lento que o esperado”, diz no relatório.
“Ele reconheceu que o Carrefour provavelmente subestimou o quão relevante a marca [do grupo Big] seria em alguns locais no Nordeste, onde Carrefour não estava presente anteriormente”. Na região, o Big operava com a rede Bompreço e migrou para hiper do Carrefour, inicialmente.
Agora, a direção diz que algumas dessas lojas de hipermercados estão sendo mudadas de novo, e convertidas em Atacadão, mas que o investimento inicial feito, quando converteu anteriormente em hipermercado, não está totalmente perdido, uma vez que melhorias (como ar condicionado e refrigeração) teriam que ser feitas de qualquer maneira.
Além disso, ele disse que a decisão de não adquirir o portfólio Hipercard [(cartão da rede Big), juntamente com o a rede Big, resultou em um atraso na retenção de clientes.
A respeito de conversão de Big para Atacadão, disse que estão acelerando esse processo até um pouco acima das expectativas iniciais. E explicou que não se espera que essas lojas atinjam o nível de produtividade das lojas herdadas da Atacadão, porque o Atacadão incluía locais únicos com produtividade de vendas.
A maior parte da conversa com os analistas girou em torno das conversões, otimização de portfólio, bem como as expectativas em relação à demanda.
Sobre o Banco Carrefour, o executivo disse que a empresa tem uma forte proposta de valor para os clientes, com promoções específicas para os titulares de cartões. E acredita que o banco deve permanecer relevante, apesar do aumenta do concorrência.
Ele mencionou que o crédito de origem é algo em que eles são particularmente fortes, impulsionado pela entrada de dois milhões de clientes diários nas lojas do grupo.
São desafios para a empresa, diz o banco, o processo de conversão de lojas do Big, que ainda está em andamento, a concorrência intensificada do Assaí, vendas mais fracas para consumidores e a concorrência no on-line.
O Goldman Sachs mantem a recomendação de compra do papel, com preço-alvo em 12 meses de R$ 14 — a ação hoje estava em R$ 13,34.
Fonte: Valor Econômico