Principal executivo de varejo do Carrefour no Brasil, o espanhol José Luis Gutierrez deve deixar a subsidiária no fim do mês. A área compreende as operações de supermercados e hipermercados. A mudança foi antecipada ontem pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.
O nome do substituto ainda não está definido. O presidente do Carrefour no Brasil, Noël Prioux, deve acumular a função até que se escolha um novo ocupante nos próximos meses, informou a empresa por meio de nota. Gutierrez ocupará, a partir de abril, o cargo de diretor de operações do grupo na Itália. O executivo estava no país, como CEO de varejo, há cinco anos – portanto, antes da abertura de capital da rede, quando os dados desse braço de negócio não eram divulgados.
A mudança ocorre num momento em que a operação de supermercados e hipermercados se reformula para tentar recuperar crescimento mais acelerado.
No ano passado, as vendas líquidas desse braço cresceram 1,9%, para R$ 17,1 bilhões (de outubro a dezembro, a alta foi de 0,8%). Ficou abaixo do consolidado do grupo, com alta de 7,3%. A margem bruta diminuiu um ponto, para 24,8% em 2018 (ficou estável no trimestre). O valor do lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (ajustado) recuou 12%, para R$ 825 milhões em 2018.
Durante sua gestão, Gutierrez precisou redesenhar o negócio, acelerando a venda on-line, quando alguns concorrentes já operavam na internet. A rentabilidade da venda on-line é menor que a da loja física. Neste último ano à frente da área, as vendas sentiram o efeito da deflação dos alimentos em parte do período e de uma concorrência mais forte em certos formatos.
Para reverter o desempenho, despesas foram revistas e ações comerciais foram implementadas em 18 hipermercados, que sentiam a perda de mercado, especialmente em São Paulo. De certa forma, o Carrefour passou por uma reformulação que seu rival, o GPA, enfrentou anos antes, também no braço de varejo.
Para analistas, em fevereiro, Gutierrez disse que a operação de varejo têm sido impulsionada por “iniciativas comerciais bem-sucedidas nos hipermercados” e há “uma tendência positiva no formato de lojas de conveniência e um sólido desempenho do comércio eletrônico”. Em sua gestão, ele aumentou o peso de marcas próprias nas vendas e reforçou a oferta de itens mais saudáveis.
Na última semana de fevereiro, a companhia informou outra transição, no negócio de atacarejo, responsável por pouco mais de 60% das vendas da companhia no país. José Roberto Müssnich, que comanda o Atacadão há 15 anos, deve passar o comando para o diretor Marco Oliveira, no grupo Carrefour Brasil há 25 anos, sendo 10 anos no Atacadão, segundo fonte.
Em nota, a empresa informou que Oliveira deixará de ser o CFO do Atacadão para se tornar diretor operacional, e que Müssnich será apoiado por Oliveira numa sucessão na liderança.
Questionado pelo Valor se a saída de Müssnich deve ocorrer ainda neste ano, o diretor financeiro, Sébastien Durchon, disse que é algo que ocorrerá “nos próximos anos”.
O anúncio não era esperado pelo mercado, mas a intenção era comunicar previamente, de maneira que esse processo pudesse ocorrer sem ruídos, afirmou uma segunda fonte. Esta mudança no comando será mais lenta do que a que ocorre no braço de varejo.
“O anúncio veio agora porque o Carrefour queria sinalizar que o Müssnich tem um sucessor, e isso não estava muito claro para o mercado”, disse uma pessoa a par da operação.
“Continuarei à frente do Atacadão como CEO o tempo que for necessário, dando suporte e apoio às iniciativas que estamos desenvolvendo”, afirmou Müssnich para analistas dias atrás.
“O Roberto criou uma identificação muito grande com o Atacadão. Ele conhece aquilo como poucos. Até para o bem do negócio, a saída não pode ter solavancos. Mas é difícil acreditar que ele ficará dividindo o comando e passando o bastão do Atacadão por anos”, observou um ex-executivo do Atacadão.
No ano passado, circulavam informações no setor de que Müssnich poderia sair do comando e ocuparia função no conselho de administração do grupo Carrefour. Ainda circulavam informações de que ele poderia ocupar algum cargo na operação global.
Fonte: Valor Econômico