Por Paulo Gratão | Mesmo em um período de reconstrução pós-pandemia, o varejo brasileiro tem conseguido avançar. É o que revela a nona edição do ranking das 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro, elaborado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). De acordo com o estudo, o crescimento nominal das maiores varejistas no ano passado foi de 20%.
“Movimentos que já havíamos identificado anteriormente, como a consolidação dos marketplaces, a digitalização do comportamento dos consumidores e o reforço à governança, se solidificaram e passaram a dominar a estratégia dos negócios”, afirma Eduardo Terra, presidente da SBVC.
Carrefour no topo
Cinco redes já consolidadas lideram o ranking e mantêm as mesmas posições do ano passado: Carrefour, Assaí, Magazine Luiza, Via e Americanas. O primeiro colocado, no entanto, conseguiu um recorde ao atingir R$ 108 bilhões em faturamento e se tornar a primeira varejista a romper a barreira dos R$ 100 bilhões, segundo a SBVC.
Essas cinco empresas somaram um faturamento de R$ 285,9 bilhões, compondo 27,33% do total apurado pelas 300 empresas do ranking, de R$ 1,046 trilhão. Considerando as 207 empresas que divulgaram seus faturamentos brutos em 2021 e 2022, o crescimento anual foi de 20%.
Sobre a presença da Americanas nas primeiras posições do ranking, após a companhia ter reportado um rombo contábil em janeiro deste ano, os organizadores do estudo esclarecem que a pesquisa se baseia em dados de 2022, antes do episódio. “A empresa vive desde janeiro de 2023 uma história completamente diferente: a revelação de fraudes contábeis, reconhecidas no mês de junho pela própria companhia, foi o grande gatilho de um semestre tenso para todo o varejo, que sem dúvida deixará marcas no mercado. Com dívidas bilionárias, a Americanas busca saídas para renegociar seus débitos, e dificilmente conseguirá escapar de se desfazer de vários dos negócios adquiridos ou desenvolvidos nos últimos anos”, diz o relatório.
Supermercados representam mais da metade (152) da listagem, e quatro estão no top 10. O Grupo Nós, que detém as marcas Select e Oxxo, que vem passando por uma expansão acelerada desde sua chegada ao país no final de 2020, por exemplo, subiu nove posições e está em 121°. O segundo maior é o setor de Moda, Calçados e Artigos Esportivos, com 38 empresas.
10 maiores varejistas do Brasil 2022
2022 | Empresa | Vendas 2022 |
1 | Grupo Carrefour | R$ 108 bilhões |
2 | Assaí | R$ 59,7 bilhões |
3 | Magazine Luiza | R$ 44,7 bilhões |
4 | Via | R$ 39 bilhões |
5 | Americanas | R$ 34,4 bilhões |
6 | Raia Drogasil | R$ 30,9 bilhões |
7 | Grupo Boticário | R$ 23,6 bilhões |
8 | Natura & Co | R$ 20,7 bilhões |
9 | Grupo Mateus | R$ 20,4 bilhões |
10 | GPA Alimentar | R$ 18,4 bilhões |
Quem mais cresceu
Apesar de o top 5 ficar estável em relação ao ano passado, as cinco empresas que mais cresceram em faturamento entre 2021 e 2022 foram Bagaggio (104%), Grupo Soma (71%), Bauducco (67%), Usaflex (57%) e Mart Minas (56%). Entre as 50 presentes nesta listagem, 10 são de supermercados e 11, do setor de moda.
74% vendem online
Empresas com e-commerce se destacam na listagem. No ranking anterior eram 162, e agora são 222. “Na base de empresas deste ranking, 74% vendem online, índice que sobe para 91% nas empresas de segmentos não alimentares. A diversificação de canais e modalidades de venda também foi consolidada, com 85 das 300 empresas realizando vendas por WhatsApp e 27 operando marketplaces proprietários”, diz Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e vice-presidente da SBVC.
Falando em e-commerce, os cinco maiores marketplaces em vendas em 2022 foram o Mercado Livre, Americanas, Magazine Luiza, Via e Amazon. O Mercado Livre observou uma expansão de 22%, com um volume bruto de mercadorias (GMV) de R$ 80,5 bilhões.
Clube do bilhão
De acordo com o ranking, 173 empresas tiveram faturamento superior a R$ 1 bilhão em 2022, 17 a mais do que no ano anterior. Destas, 84 são redes supermercadistas (48,5% do total). Na lista, há algumas empresas que trabalham somente (ou prioritariamente) com e-commerce no país, como Amazon, Dafiti, Privalia, Petlove e Estrela 10. Entre as estreantes, há nomes como Petlove e Usaflex.
Franquias dominam ranking de número de lojas
Se os supermercados e as grandes lojas de departamento dominam a lista no quesito vendas e faturamento, as redes de franquia ganham destaque no critério número de lojas. De acordo com o estudo, 51% das 300 varejistas utilizam o franchising para a expansão dos negócios.
As cinco maiores varejistas com lojas instaladas no país, de acordo com o ranking, são Grupo Boticário (3.828 lojas considerando as marcas O Boticário, Quem Disse, Berenice, The Beauty Box e outras), Cacau Show (3.758), Raia Drogasil (2.702), Ortobom (2.373) e Americanas (1.880). Dessas, Cacau Show, Ortobom e algumas marcas do Grupo Boticário crescem com franqueados.
Diversidade e inclusão
A pesquisa da SBVC, que também contou com apoio técnico da BTR-Educação e Consultoria, Varese Retail, Centro de Estudo e Pesquisa do Varejo (CEPEV – USP) e Käfer Content Studio, levantou informações referentes à diversidade dentro das empresas de varejo. A amostragem espontânea foi limitada, com 71 empresas que forneceram informações sobre participação de mulheres e 55 sobre pretos e pardos.
Mulheres representam 56% dos colaboradores. Já pretos e pardos são 54% nas empresas que reportaram as informações. O desafio, segundo os condutores da pesquisa, ainda é levar a diversidade para cargos de liderança: 84% das empresas possuem mais de 30% de cargos de liderança ocupados por mulheres, mas apenas 44% possuem mais de 50%.
Já nos conselhos, 23% das empresas participantes possuem mais de 30% das posições ocupadas por mulheres e somente 6% têm mais de 50%. No caso de pretos e pardos a distância é maior: 51% das empresas têm mais de 30% dos cargos de liderança ocupados por pretos e pardos – e 24% têm mais de 50%.
“Em um período em que debates e ações práticas sobre diversidade, equidade e inclusão (DE&I) se tornam mais fortes e decisivas no comportamento dos consumidores, trazemos nossa contribuição para mostrar quem, de fato, tem feito acontecer no mercado nacional”, afirma Eduardo Terra.
Fonte: PEGN