O Grupo Carrefour encontrou em telecomunicações uma oportunidade de gerar receita adicional, por meio da locação de suas lojas para a instalação de antenas de celular
Por Ivone Santana
O negócio, que se intensificou em 2018, praticamente dobrou em número de contratos entre 2019 e 2021. Agora, com a tecnologia 5G, que requer cerca de dez vezes mais antenas na comparação com 4G, o potencial de realização de negócios também se multiplica.
Atualmente, há 15 locações vigentes e outras dez em fase de análise pelas empresas, segundo Marcelo Polizell, diretor de administração e gestão imobiliária – Real Estate do Carrefour Property. Trata-se do braço imobiliário do grupo varejista no país. O executivo não revela a receita do negócio.
No primeiro trimestre de 2022, o grupo reportou no Brasil vendas brutas de R$ 20,8 bilhões. Os recebimentos futuros relacionados a locação de imóveis são de R$ 494 milhões. Nesse indicador estão shoppings e galerias, mas não há informações sobre antenas.
Os clientes do Carrefour para locação de antenas são as grandes operadoras – Vivo, Claro, TIM e Oi, que vendeu seu ativo móvel – e as gestoras de torres, ou “torreiras”, como American Tower, SBC, IHS, Highline e QMC Telecom. As operadoras competitivas e provedores ainda não negociaram com a varejista.2 de 2 Marcelo Polizeli – São Paulo, diretor de administração gestão imobiliária – Real Estate do Carrefour: Quando a compra do Grupo Big for aprovada pelo Cade, novos imóveis serão incorporados ao portfólio para locação — Foto: Divulgação
Marcelo Polizeli – São Paulo, diretor de administração gestão imobiliária – Real Estate do Carrefour: Quando a compra do Grupo Big for aprovada pelo Cade, novos imóveis serão incorporados ao portfólio para locação — Foto: Divulgação
O Carrefour opera em 15 Estados, principalmente nas capitais. Em São Paulo se concentram 60% dos negócios. Depois, vêm Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses três Estados, as lojas são de todos os formatos, do hipermercado à loja de proximidade. Nas demais localidades, o formato é simplificado. A rede está presente nos grandes centros, mas também tem alguns negócios no interior paulista.
O executivo disse que o grupo possui no país 310 imóveis próprios, desde hipermercados até lojas Express, com um total de 14 milhões de m2. Além disso, administra mais de 140 galerias e centros comerciais. São mais de 2,2 mil lojistas que ocupam 343 mil m2 de área bruta de locação. Os espaços para telecomunicações incluem os shopping centers próprios do Carrefour – Jardim Pamplona e Butantã, em São Paulo, e Boulevard, de Brasília, administrado pela Aliansce Sonae.
Além disso, Polizell disse que quando a compra do Grupo Big for aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), novos imóveis serão incorporados ao portfólio para locação – a previsão é o fim deste trimestre.
“Temos muita área disponível para que elas [operadoras e torreiras] coloquem torres, em proximidade a alto fluxo [de pessoas]”, disse Polizell, ao destacar que acima de 80% das áreas são próprias, o que pode assegurar relacionamento de longo prazo entre as partes no negócio, mitigando a necessidade de desocupação de imóvel.
As antenas pequenas são instaladas nos tetos e nas fachadas de imóveis. Há opção de colocação de mastro no topo dos prédios (“roof top”) para colocação da antena.
As empresas de infraestrutura têm interesse nas diversas redes de varejo por conta da capilaridade do comércio. Os imóveis que possuem espaço na fachada para colocar as antenas são interessantes para fazer acordos de infraestrutura para fixar míni estações radiobase (ERBs), disse Luciano Stutz, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações (Abrintel). Essas antenas podem ser instaladas também no topo dos prédios, postes, bancas de revistas, tudo que for no nível da rua, para adensamento dos sinais de 5G, principalmente nas ondas milimétricas, acima de 26 gigahertz, que precisam de mais antenas porque o alcance é menor.
A situação em relação às regras para instalar antenas é preocupante, segundo Marcos Ferrari, diretor-presidente da Conexis Brasil Digital, que representa as teles. E isso pode dificultar o cronograma de 5G. Nove capitais estão adequadas para 5G, em termos de legislação, em contraste com o resto do país, com menos de 2%. Sua expectativa é que haja um avanço nos próximos meses, embora ele considere o cenário ainda desafiador.
Fonte: Valor Econômico