De olho em novos hábitos, varejista planeja complexo multiuso em SP com áreas residenciais, comerciais e de lazer
Pegar o carro, dirigir vários quilômetros até um hipermercado no fundo de um terreno cercado de vagas por todos os lados e encher o carrinho de compras pode não fazer mais parte da rotina de todas as famílias no futuro.
De olho nas mudanças de hábitos do consumidor, intensificadas pela pandemia, o Carrefour Property, braço imobiliário do Carrefour, pretende tornar o hipermercado parte de um complexo multiúso.
Com 310 imóveis próprios, incluindo supermercados, centros de distribuição, shoppings e galerias, a empresa deu a largada em sua proposta mais ambiciosa: a construção do Alto das Nações, em São Paulo, no local da primeira loja Carrefour no país, localizada no eixo Berrini/Chucri Zaidan. O projeto inclui centro comercial com restaurantes, farmácia e serviços, torre comercial, prédio residencial e ampla área de lazer.
— O home office veio para ficar, mas nossa visão é que os negócios vão continuar e que as pessoas terão de voltar aos escritórios para algumas discussões. A diferença é que vão precisar de maior espaçamento e ventilação. É um projeto Triple A, de alto padrão, e vai competir com escritórios na Faria Lima ou em regiões mais adensadas — afirmou Yen Wang, CEO do Carrefour Property.
Mas com tantas compras a um clique de distância, qual será o futuro do modelo de negócios de hipermercados? Wang diz que o setor ainda não tem resposta definitiva, mas já sabe que é preciso proporcionar a experiência de compra com maior comodidade possível. Essa é a ideia de aumentar a atratividade, com espaços de lazer, moradia e trabalho.
O executivo lembra que as gigantes on-line mergulharam no mundo das lojas físicas quando decidiram vender perecíveis. A Amazon criou a Amazon Go. O Alibaba abriu os supermercados high-tech Hema. São experiências que aliam tecnologia à loja física.
— Em alguns momentos, ainda existe o prazer ou a necessidade de ver o alimento. Minha esposa não quer comprar perecíveis sem ver. Para meus sogros, ir ao hipermercado é uma caminhada. Parte dos jovens não precisa ver o produto, pede pela internet — disse Wang.
Mais bikes, menos carros
Na nova loja do Carrefour do Alto das Nações, a proposta é ter o máximo possível de inovações, com interatividade, serviços e área de restaurante.
O futuro do negócio pode abranger ainda mais mudanças. Parte das vagas de automóveis deve ceder espaço a bicicletário e carros de aplicativo, já que os jovens não veem a posse de um veículo como prioridade da mesma forma que as gerações anteriores, ou ainda com espaço para recarregar carros elétricos.
A empresa avalia com cuidado as novas tendências e ainda estuda se mais para a frente poderia adotar algumas áreas para entrega via drones, mas não há decisão tomada. Nesse futuro de compras à la Jetsons, o que se espera é gerenciar a despensa a partir de casa ou do escritório, de modo a repor produtos que vão terminando sem precisar ir ao mercado.
Mas definir como vai ser o serviço do futuro leva tempo. O plano do Alto das Nações começou em 2013.
Foi aprovado quatro anos depois. No meio do caminho, trocou o operador, que era a Odebrecht, pela WTorre. E ainda teve que ser adaptado por causa da pandemia. As obras foram atrasadas em um ano.
A primeira etapa deve ser concluída em setembro ou outubro de 2022, com a nova loja do Carrefour e um centro comercial.
A segunda fase, que inclui torres corporativa (a mais alta do país, com 216 metros de altura) e residencial, deve ser finalizada até 2026. O projeto terá ainda uma praça aberta. Serão no total 320 mil metros quadrados de área construída, o equivalente a quase 39 campos de futebol.
Cinco projetos em curso
Pode ser apenas o primeiro de muitos, ainda que em menor escala. A empresa já identificou potencial de adaptação em 68 imóveis. Destes, cinco já estão na praça, em conversas para definir parceiros.
Segundo Wang, alguns locais com espaço para projetos integrados são Curitiba, Rio (Barra da Tijuca), além de cidades do Nordeste, mas São Paulo tem o maior potencial, em razão da demanda. No futuro que o Carrefour vislumbra, encher o carrinho não será apenas questão de orçamento, mas de adaptação ao estilo de vida de cada um.
Fonte: O Globo