A declaração foi dada após recuperação das margens de abril a julho, depois de desaceleração no primeiro trimestre
O presidente do Carrefour, Noël Prioux, disse hoje durante teleconferência com analistas que a empresa irá acelerar crescimento com expansão de rentabilidade. A declaração foi dada após recuperação das margens de abril a julho, depois de desaceleração no primeiro trimestre.
A empresa divulgou dados do segundo trimestre na noite de ontem. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, que exclui itens não recorrentes, subiu 27,5%, para R$ 1,4 bilhão. A margem subiu 0,9 ponto, alcançando 9% com a contribuição de todos os segmentos da empresa. A margem bruta caiu 0,2 ponto, para 21,5% por causa das provisões do braço financeiro da empresa (margens das lojas de varejo e atacado subiram).
Desafios em vendas
A capacidade do Carrefour de manter resultados de vendas e margem registrados no segundo trimestre nos próximos meses foi alvo de perguntas por parte de analistas, na teleconferência da empresa nesta manhã. Especialistas entendem que, apesar da boa fase do varejo alimentar, o setor pode ser afetado pela recessão nos próximos meses.
Segundo Sebastien Durchon, diretor financeiro, a empresa vê movimento ainda forte em julho, na linha do verificado no segundo trimestre. Isso tende a manter desempenho ainda em patamares elevados no terceiro trimestre. A empresa não faz projeções para 2021.
Outro executivo, Luis Moreno, presidente do braço de varejo, afirmou que a empresa deve atuar de maneira a manter clientes após pandemia, evitando perda dessa base obtida de novos consumidores, especialmente no on-line — negócio que cresceu cerca de 370% em vendas totais de abril a julho.
“O que estamos criando é um modelo, um ecossistema único [off-line e on-line] que leve ele [cliente] a ficar conosco”, disse Moreno. “Crescemos porque montamos um modelo que funcionou antes da pandemia, com baixa ruptura, porque viemos com estoque para atender a demanda, e uma simplificação do modelo promocional [implementada no segundo trimestre]. Para mim, a concorrência não antecipou isso no mesmo ‘timing’. Desafios que vierem podem vir mais lá na frente”, disse.
O grupo Carrefour registrou expansão de 14,7% nas vendas líquidas no segundo trimestre, para R$ 15,9 bilhões, acima do projetado pelo mercado, que já contabilizava em suas estimativas o efeito do aumento da demanda após a pandemia.
Prioux afirmou que, no braço de supermercados e hipermercados, a empresa fez três anos em um único trimestre. Ainda disse que com o Atacadão, operação de atacado, por conta da aquisição do Makro meses atrás, a empresa encurta seu plano de crescimento em um ano e meio. A operação depende de aval de órgão antitruste e ainda não foi integrada ao grupo.
O Carrefour disse ainda que não retirou gastos com covid-19 do Ebitda.
Promoções
O Carrefour mudou a sua política promocional no braço de hipermercados, formato que tem crescido após a pandemia, e isso será mantido após o fim da crise sanitária. A empresa reduziu o número de itens promocionais, mas estendeu prazo de promoção das categorias com ofertas, disse o grupo. Mercadorias que ficavam alguns dias com preços menores passaram a ficar pelo menos uma semana. Mas o volume de itens promocionais caiu.
Há pouco, a ação do grupo na bolsa subia 7%, maior alta do Ibovespa, após publicar números acima do projetados pelo mercado, conforme análise antecipada pelo Valor, publicada na noite de ontem.
O grupo disse hoje a analistas que o investimento em ações promocionais não caiu, mas o modelo, próximo do “preço baixo todo dia”, dizem especialistas, ajudou nos ganhos de venda e margem no segundo trimestre.
A empresa diz que não subiu preços, mas que “redimensionou promoções”, afirmou Moreno, presidente do braço de varejo do grupo.
O presidente do Atacadão, divisão de atacarejo da companhia, José Roberto Müssnich, afirmou que o ambiente competitivo “é o mesmo, ou seja, tem se acirrado”.
No Atacadão, as vendas cresceram 13,5% de abril a junho, impulsionadas pelo aumento de 8,6% nas vendas de lojas com mais de um ano. A alta ocorreu mesmo sem o chamado “Dia A”, dia de promoções mais forte em abril. Mas a empresa teve a “Semana do Comerciante”, outro evento em junho, que ajudou no número.
O lucro antes de juros, impostos, amortização depreciação (Ebitda, da sigla em inglês) do Atacadão aumentou 28,3%, atingindo R$862 milhões e 8,1% de margem, alta de um ponto percentual.
Sobre o braço de varejo, as vendas cresceram 17,2%, para R$ 5,2 bilhões. Houve aumento de 78,2% no ebitda, que atingiu R$ 424 milhões com margem de 8,1% (alta 2,8 pontos percentuais sobre 2019).
Na teleconferência, a empresa disse que essa alta no varejo ocorreu em cima de uma base comparação das vendas “mesmas lojas” de 2019 que era forte (esse índice cresceu 30% sobre 2019).
Sobre o negócio de venda on-line do Atacadão, plano antecipado pelo Valor na semana passada, a ideia é um crescimento gradual, mas “de forma segura”, disse o presidente do Atacadão. “Somos como um elefante, que quando anda, dá passo certeiro”, afirmou aos analistas.