Por Claudia Penteado
Uma história longa impõe inúmeros desafios, como a necessidade de se adaptar e mudar. Segundo especialistas, o que as redes de franquias mais longevas do mercado têm em comum é a capacidade de inovar. “As redes que navegam bem ao longo do tempo têm a inovação constante como parte da cultura. Possuem um mindset de inovação para a digitalização, para a diversificação e a criação de ecossistemas de negócios, para o desenvolvimento de sistemas de inteligência de dados”, analisa Lyana Bittencourt, especialista da consultoria para franquias Grupo Bittencourt.
O psicólogo especialista em negócios Greg Nathan costuma dizer que confiança e interdependência geram relações longevas e parcerias lucrativas. Valorizar a construção do relacionamento com seus franqueados também é essencial para garantir a longevidade. Afinal, um franqueado tem mais de 3.000 marcas entre as quais escolher para montar seu negócio no país. “A relação bem construída passa por equilíbrio financeiro, suporte por parte do franqueador, papéis das partes bem definidos, respeito mútuo”, diz Lyana.
Bruno Zemenzato, CEO da SMZTO, Private Equity especializado em franquias, dá a fórmula da longevidade para rede de franquias: franqueados felizes, engajados e com operações rentáveis. “O franqueado é o principal cliente de uma franqueadora e só vai crescer se a relação for positiva”, garante.
Um bom exemplo de como as redes investem nessa relação é o programa de sucessão para franqueados da rede Bob’s. O primeiro franqueado, há 40 anos, foi em Vitória, no Espírito Santo, e já está na segunda geração. “Com o programa de sucessão fomentamos e estimulamos que filhos ou parentes se envolvam nos negócios para assumir a marca. Assim mantemos alguns franqueados por décadas conosco. Gostaria de ver alguns negócios chegarem aos netos”, diz Antonio Detsi, diretor geral do Bob’s.
Marco Vidal, executivo de gestão, expansão e sustentabilidade do grupo Arezzo & Co, diz que ter os papéis de cada parte muito claros na relação é fundamental. “Temos isso muito bem estabelecido. Quando trago o franqueado novo para a rede, preciso deixar claro o que espero na execução, como operador do meu negócio e representante da minha marca. E deixo claro o que ele pode esperar de mim”, comenta.
Ele prefere não trabalhar com master franqueados, que operam com diversas marcas, em diversas cidades. Prefere apostar em franqueados menores, que se identificam com cada marca e se mantém envolvidos diretamente com as lojas. “Meu franqueado tem que ser a cara da minha marca em uma cidade”, afirma.
Os últimos anos foram especialmente desafiadores para algumas redes, que lidaram com crescimento mais modesto ou mesmo próximo de zero. A Levi’s, que teve sua primeira loja franqueada no país em 1981, buscou manter o foco na consistência da marca.
“A maior mudança dos últimos anos foi silenciosa e abrangente, diferente de outras mais tradicionais: foi a relevância dada ao consumidor. Hoje, praticamente todas as decisões tomadas em todas as áreas da empresa têm como foco levar uma melhor experiência ao consumidor”, diz Francisco Alves, General Manager da Levi ‘s no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
No caso do Mundo Verde, cuja primeira franquia data de 1993, a diversificação de canais foi fundamental, além da transformação digital da lojas para atender clientes onde quer que estejam. “O destaque deste ano é a transformação digital, integrando canais on e off”, afirma o CEO do Mundo Verde, Lincoln Martins, que também lança a microfranquia.
No caso do Yázigi, a escola de idiomas cuja rede de franquias nasceu em 1954, o desafio de expansão foi a diversificação. Em 2021, a rede posicionou-se como um hub educacional de idiomas. “Para investidores e franqueados, o negócio é capaz de gerar cinco possíveis fontes de renda, tornando-o mais lucrativo e atrativo. Atualmente, a diversificação de fontes de receita e de oportunidades de gerar negócios é uma grande tendência”, diz Juliana Mello, gerente comercial da Pearson Latam, dona da rede.
Para a rede Divino Fogão, que iniciou o franchising em 1994, a diversificação veio do modelo tradicional de refeições por quilo, a la carte e delivery. A dark kitchen, cozinha invisível ou fantasma destinada a delivery, foi implementada em 2021. A empresa também criou duas novas marcas: Delícias da Fazenda e Divino Box. “Este ano será um dos melhores da nossa história”, comemora Reinaldo Varela, fundador e presidente do Divino Fogão.
Fonte: Valor Econômico