O grupo de varejo de vestuário Colombo, mais conhecido como Camisaria Colombo, entrou com pedido de recuperação judicial na vara cível de Cuiabá, no Mato Grosso. O pedido ocorre após um processo de recuperação extrajudicial que implicaria no início do pagamento das parcelas de dívidas com credores a partir deste mês de março – após três anos de carência. A dívida da companhia totaliza R$ 1,89 bilhão.
A Colombo tem como assessor no processo a consultoria X Infinity Invest e o escritório Nunes D’Alvia e Notari (NDN Advogados). Nesse período de pouco mais de três anos entre o pedido da recuperação extrajudicial e o pedido da recuperação judicial, a companhia deveria pagar só os juros da dívida – mas isso ocorreu parcialmente. “A recuperação extrajudicial não solucionou o problema de alavancagem da companhia, que só pode ser resolvido com um deságio considerável da dívida, que permitirá em seguida a atração de novo investidor para a empresa voltar a crescer”, diz Fábio de Aguiar, presidente da X Infinity Invest.
O grupo foi fundado em 1917, como uma loja de roupas masculinas em São Paulo, e permaneceu apenas com esta unidade por quase 70 anos. Em 2014, quando tinha entre seus acionistas um fundo de private equity da gestora Gávea e estava em expansão, a Colombo chegou a 434 lojas. Atualmente, são 140, entre unidades próprias e franqueadas. Em 2014, a Colombo faturou R$ 721,5 milhões e, desde então, a receita caiu ano a ano. Em 2019, foi de R$ 107,1 milhões.
As dificuldades da Colombo se arrastam há pelo menos cinco anos. A Gávea revendeu sua participação acionária ao empresário Álvaro Jabur Maluf Junior, controlador da rede – o que, segundo a petição da empresa, fez com que bancos suspendessem linhas de crédito para a empresa. Aliado a isso, as vendas no comércio logo começariam a encolher com a recessão no país. Já em dificuldade financeira, em 2016, a gestão da Colombo foi assumida pelo banco Brasil Plural (que tinha um fundo como investidor da varejista) e posteriormente passou à gestora Starboard. A gestora tocou parte do plano de recuperação extrajudicial, depois assumido por Maluf.
Um grupo de credores tem uma ação judicial paralela que envolve a negociação entre Maluf e Gávea. De acordo com esses credores, a Gávea teria solicitado uma investigação à consultoria Kroll, para identificar supostas regularidades na contabilidade da companhia e utilizado esse material para pressionar a recompra de suas ações. O empresário teria feito parte do pagamento em dinheiro e parte em transferências de imóveis – patrimônio ao qual os credores entendem que também deveriam ter acesso. Capitaneado pelo escritório Warde Advogados, esse processo corre em segredo de Justiça – razão pela qual os envolvidos não comentam o assunto.
Questionado sobre o tema, Aguiar afirma que o acionista fez um aporte relevante à época para a saída da Gávea da composição acionária. “Isso foi feito com capital efetivo e também com imóveis particulares. Todos os temas que sejam inerentes à companhia e sua situação financeira serão abordados no processo da recuperação judicial, inclusive se a companhia entender que tem buscar alguma transação passada, se entender que houve alguma operação regular ou irregular que a tenha prejudicado”, explica o assessor.
Credores ouvidos pelo Valor questionam o fato de o processo correr em Cuiabá, dado que a maioria das lojas e a atividade econômica da empresa estão em São Paulo. Conforme Aguiar, a empresa transferiu sua sede para aquela cidade já em 2013 e o processo de recuperação extrajudicial só correu em São Paulo porque os gestores à época tinham sede na capital paulista. A X Infinity Invest entende que isso não será um problema. “Já iniciamos as negociações com os credores de antemão, nos próximos dias já apresentaremos a eles um primeiro plano e convocaremos a assembleia”, diz Aguiar.
O executivo entende que a recuperação extrajudicial já não era a solução adequada, uma vez que a empresa não estava gerando caixa suficiente, e acabou postergando a recuperação judicial. Outra varejista com problema semelhante é a fluminense Leader. Após passar por um processo de reestruturação, que incluiu uma recuperação extrajudicial, a empresa ainda tem dificuldade de pagar credores, segundo uma fonte.
“A recuperação extrajudicial não resolve normalmente, ela só dá prazo, e é uma ferramenta usada de forma equivocada. Qualquer coisa que não traga a alavancagem de uma empresa muito endividada para patamares aceitáveis é paliativo”, diz Aguiar, que entrou este ano na reestruturação da Colombo.
Fonte: Valor Econômico