A figura de um garoto transportando cacau em meio a um mar de chocolate chama a atenção de quem passa pelo quilômetro 35 da Rodovia Castello Branco, na cidade de Itapevi (SP). Com 5.742 m², o maior mural de tinta spray do mundo, certificado pelo Guinness Book em 2017 e pintado pelo artista Kobra, é a fachada da fábrica de 55 mil m² da maior rede de chocolates finos do mundo. Tanta grandiosidade, porém, não isentou a Cacau Show de sofrer os impactos da crise econômica. Foram três meses de fábrica fechada e 10% dos 12 mil funcionários demitidos. Em meio a um cenário com 100% das mais de 2,3 mil lojas fechadas durante a Páscoa, período em que o market share da empresa passa de 12% para 30%, a marca encontrou no e-commerce a saída para apostar em um novo modelo de negócio e manter as vendas. Para o CEO e fundador, Alexandre Costa, “neste ano, o mundo andou pra trás. E a Cacau Show andou junto”.
Com faturamento de R$ 3,5 bilhões no ano passado, a companhia espera um potente desempenho nas vendas do Natal, para fechar 2020 com redução de 10% no faturamento, o equivalente a R$ 3,15 bilhões.
A queda pode chegar a 20%, caso as vendas natalinas não correspondam à expectativa. Já para 2021, a previsão é otimista, com uma receita 18% acima em relação ao ano passado, chegando aos R$ 4,13 bilhões. Apesar de manter a diversificação com o lançamento de 50 novos produtos e embalagens para a Páscoa de 2020, por meio de parcerias com grandes times de futebol – como o italiano Juventus e o inglês Manchester City –, e a estreia da linha infantil –com a série de animações americana Looney Tunes– , a Cacau Show precisou segurar as apostas e guardar algumas fichas durante o primeiro semestre do ano, principalmente na busca por novos espaços, por meio de cafés em ambientes corporativos. Nesse novo cenário e com alguns ingredientes retirados de circulação à força, a companhia mudou quase todo o seu modelo de negócio. Essa reinvenção deu início a uma nova receita de distribuição, ancorada no e-commerce.
Com baixa representatividade no canal antes da pandemia, a empresa viu as vendas diárias por e-commerce passarem de 200 para 30 mil, crescimento de quase 15.000%. Os meses de abril e maio apresentaram alta de 400% em relação ao ano passado. Uma semana antes da páscoa, foram realizados cerca de 60 mil pedidos pelos canais de venda digitais. O período, que representa 23% do faturamento anual da marca, registrou a venda de 15 milhões de ovos.
VENDAS DIRETAS Não foi somente o e-commerce que apresentou crescimento significativo neste ano. O faturamento de vendas diretas, que tem 50 mil representantes, apresentou aumento de 43,5% em relação a 2019. Somente no estado de São Paulo, o número de novos cadastros passou de 246, em julho-agosto de 2019, para 683 nos mesmos meses de 2020 (aumento de 177%). Para o consultor de varejo Alberto Serrentino, CEO da Varese Retail, o caminho de sucesso da Cacau Show é reflexo de diferenciais que a tornaram única no mundo, a começar pela acessibilidade a grande fatia do público. Para ele, isso a tornou uma varejista não de chocolates, mas de presentes. A aposta em um negócio verticalizado também é considerada, por Serrentino, um diferencial. “É um negócio muito lucrativo, pois conseguem controlar completamente a experiência da marca”, afirmou o consultor.
Com 230 lojas próprias, 10% do total de unidades, a marca recebe mais de 19 mil cadastros de interessados pela abertura de franquia a cada ano. Com essa performance, mesmo sendo o quinto maior mercado em volume de vendas de chocolate no varejo mundial, segundo a Euromonitor, o Brasil passa a ser pequeno para as ambições da Cacau Show, que já estuda a atuação em outros países. Com 97% das suas lojas reabertas, a gigante global dos chocolates vê o retorno gradual da economia com otimismo, e confia no segundo semestre do ano para manter índices positivos. “É líquido e certo que vamos crescer dois dígitos, como tem sido a história da empresa”, disse o CEO, Alexandre Costa. “Vamos alcançar 4 mil lojas e chegar a outros países”.
“Mercado internacional é um plano”
Ceo da Cacau Show, Alexandre Costa fala dos desafios de ser líder e dos planos de levar sua marca a outros países.
Quando você é líder, vira alvo. Todos estão atrás, tentando te alcançar. O maior desafio é continuar inovando sempre.
Como vocês fazem isso?
Por meio do desenvolvimento de pessoas, produtos e processos que tornem a nossa marca cada vez mais relevante.
Existem planos de entrar no mercado internacional?
Agregamos muito valor, ao oferecer experiências por preços possíveis. Somos “top of mind” das classes A, B, C e D. O mercado internacional é um plano e estamos estudando alguns países. Mas não queremos exportar commodities. Queremos levar nossa experiência ao mundo.
Qual o impacto da pandemia na Páscoa, data decisiva para a empresa?
Fomos atingidos de uma forma muito importante. Os dois últimos dias úteis que antecedem a Páscoa correspondem ao faturamento de janeiro e fevereiro juntos. Imagina passar por esses dias com as lojas fechadas. Foi absolutamente drástico, mas fomos ágeis ao ativarmos os canais de venda pela internet.
A Cacau Show possui três fazendas de cacau. Qual a relevância delas no abastecimento da rede?
Elas representam apenas 5% do nosso abastecimento, o restante é comprado de fornecedores brasileiros. Para nos abastecer por completo, precisaríamos de 60 fazendas iguais às que temos.
Então, qual a importância delas?
Principalmente, a experiência do processo tree to bar, desenvolvendo desde a árvore até o produto vendido na loja. Nós buscamos entender mais sobre o cacau para desenvolver novas técnicas e produtos.
É algo muito trabalhoso.
Fonte: IstoÉ Dinheiro