Por Marina Filippe | O preço do cacau atinge níveis recordes na bolsa de valores de Nova York. Os lotes da amêndoa para maio foram negociados, pela primeira vez na história, a 11.311 dólares a tonelada. A alta tem efeito direto nas margens das varejistas de chocolate e é refletida em movimentos inéditos, como da Cacau Show, que investirá 1 bilhão de reais para o desenvolvimento de 7.000 hectares de cacau no Brasil, em até 10 anos. “O Brasil tem cerca de 600.000 hectares para a produção de cacau. Neste cenário, o anúncio de novos 7.000 hectares é um desafio hercúleo”, diz Alexandre Costa, fundador e presidente da Cacau Show, em entrevista exclusiva à EXAME.
Há onze anos a Cacau Show investe na fazenda própria, a Dedo de Deus, em Linhares, no Espirítio Santo. É de lá que sai o cacau para a produção do chocolate Bendito Cacao. Mas, atualmente, apenas 3% da matéria-prima utilizada nos produtos são oriundos dessas fazendas.
“Este plano de expansão da cacauicultura começou, praticamente, na semana passada. A intenção é plantar para colher nos próximos anos, em microregiões da Bahia, do Pará e do Espírito Santo, de modo a abastecer nossa demanda de 25.000 toneladas de grão ao ano”, afirma. Os outros 97% são comprados de forncedores, de fazendas do mundo todo, ligadas, por exemplo, à Cargill, a maior comercializadora do mundo de produtos agrícolas.
Na semana passada, Alexandre esteve em Riachão das Neves, no Oeste da Bahia, no evento Cacauicultura 4.0, para conhecer as possibilidades de avanço a partir de técnicas de plantio de outras culturas. “Tivemos trocas com uma das maiores produtoras de laranja do país, pois entendemos que outras culturas têm muito a nos ensinar”.
Com a novidade, a Cacau Show amplia sua presença como produtora de cacau e diversifica o negócio, que agora inclui parques de diversões após a compra do Playcenter. “Nosso negócio é tocar a vida das pessoas pelo cacau. Ter um parque temático é extremamente ligado à essa estratégia porque vamos não só gerar entretenimento, mas como contar a história do cacau e dos produtos derivados. Queremos que o consumidor conheça o que ele compra e entenda os desafios da cadeia”, diz.
Um exemplo disto, de acordo com o executivo, é o que acontece nos investimentos em hotelaria. “A Cacau Show vai crescer por meio de todas as manifestações ligadas ao cacau. Seja na fazena, na hotelaria, como o que fazemos com o Bendito Cacao — resort inaugurado em 2021, em Campos do Jordão– ou nos parques”, afirma. A companhia prevê também a inaguração de um hotel em Águas de Lindóia neste ano e de um parque indoor, em junho, no shopping Grand Plaza, em Santo André (SP).
Mudanças climáticas x produtividade
Em um cenário no qual a produção de cacau é duramente afetada por mudanças climáticas e fenômenos como o El Niño, o deasafio da cacauicultura está na eficiência. Mas, Alexandre acredita que a companhia supera os desafios. “O Brasil colhe, em média, 450 quilos por hectare, porém, temos áreas com 2.000 quilos colhidos por hectare. Isto é quatro vezes mais do que a média do Brasil”.
A chave da produtividade é o desenvolvimento em tecnologia. “A maior parte do Brasil trabalha com o sistema de cabruca, que é poético, mas não permite grandes automatizações. É um processo caro e que tem mais desafios para fechar a conta. Nós estamos trabalhando com um sistema de colheita que permite mais tecnologia por ações como o maior espaçamento entre as árvores”, diz.
De acordo com ele, a fazenda da companhia tem técnicas de manejo necessárias para o crescimento do cacau, com árvores nativas de diferentes espécies próximas. o desenvolvimento de sistemas de sombra e irrigação. “Trabalhamos com a muda PS1319, que é de altíssima qualidade e temos o selo Rainforest Alliance”. Para conseguir a certificação, a companhia passa por um processo de avaliação que comprova as boas práticas sustentáveis, ambientais e de bem-estar no trabalho dos funcionários envolvidos.
Alexandre ainda prevê o uso do cacau em outras frentes. “Já estamos usando o mel do cacau em nosso hotel. Vamos produzir geléias, doces, entre outros”. Enquanto isto não acontece, a companhia segue comprando grande parte do cacau e de olho no mercado para reavaliar as políticas de preços do produto final. “O mercado está emocional, mas a demanda não vai segurar o preço atual. Estamos trabalhando para suavizar o repasse e a partir da produtividade, qualidade dos produtos e crescimento da empresa”, finaliza.
Fonte: Exame