Se você já assistiu ao documentário The True Cost, deve ter ficado impressionado com as consequências ambientais da indústria da moda evidenciadas pelo diretor Andrew Morgan. Nele, é exposto que o plantio do algodão é um dos principais responsáveis por esses efeitos colaterais, especialmente pela quantidade enorme de agrotóxicos e pesticidas utilizados, que são nocivos aos animais, ao solo e aos humanos que trabalham na colheita. Considerando esse cenário, a C&A traçou um plano em que pretende, até 2020, passar a trabalhar apenas com tipos de algodão mais sustentáveis em suas produções. Atualmente, cerca de 27% de fibra sustentável é utilizada pela C&A.
Na mesma linha de ação, a marca agora se une a Malha, projeto de André Carvalhal e Herman Bessler, que visa desenvolver uma espécie de ecossistema de criadores, produtores e fornecedores empenhados em procurar formas de alcançar uma moda mais sustentável. Hoje, a iniciativa funciona em um galpão em São Cristóvão, Rio de Janeiro, com containers e escritórios onde estão instaladas algumas marcas que colaboram umas com as outras e dividem estações de trabalho comuns, como estúdios de fotografia e ateliês com máquinas de costura.
“Alguém precisa começar e patrocinar essa mudança e é isso que estamos fazendo. O que vai ditar o futuro da moda é a expressão do indivíduo, conectado com seus próprios valores e com respeito à natureza. Vai ser a moda a serviço do indivíduo e não das marcas. Tem que abraçar esse processo como causa e não como modismo”, Paulo Correa, CEO da C&A.
Como resultado, em 2017 passarão a existir quatro grandes projetos:
Núcleo de upcycling
Ele vai funcionar em um ateliê dentro da Malha. A ideia é usar três fontes de matéria-prima: tecidos e peças descartados pelos fornecedores da C&A, uniformes de funcionários e roupas dos clientes. Para esta, está sendo estudada uma maneira em que os consumidores possam doar suas peças nas lojas e, assim, elas sejam recriadas, algo similar à semana de reciclagem da H&M lá fora.
Esse núcleo será composto por 12 costureiras da região de São Cristóvão, que vão ser capacitadas e remuneradas para esse trabalho de recriação, e liderado por Gabriela Mazepa, do Re-Roupa. A designer tem experiência em transformar peças a partir de memórias afetivas, e ensina como ressignificar e recriar suas roupas em workshops pelo Brasil. Junto com estilistas da C&A, Gabriela e as costureiras têm como objetivo criar duas coleções de upcycling para 2017, compostas por algumas milhares de peças, com lançamento previsto para julho, uma vez que o ateliê começa a ser montado já em dezembro. “Queremos que o consumidor tenha sempre onde descartar suas peças para que as roupas da coleção de upcycling também sejam descartadas em algum momento e virem novas peças, fechando um ciclo”, diz Gabriela.