O ano tem sido de crescimento para a C&A no Brasil, apesar das dificuldades, afirma o presidente da varejista de moda de origem holandesa, Paulo Correa. A empresa, que tem uma rede de 270 lojas no país, fechou 12, mas abriu outras 29 neste ano.
“A C&A está tendo um bom ano de 2016”, disse Correa ao Valor. Segundo ele, a empresa está ganhando participação de mercado, enquanto concorrentes encolhem. “Não é um excelente ano, porque o mercado está muito sofrido, está muito difícil, mas eu posso dizer que a C&A está crescendo”, acrescentou o executivo, sem revelar números. De acordo com dados do IBGE, o varejo de vestuário acumula queda de 11,4% nas vendas em volume de janeiro a agosto deste ano.
Em 2015, um ano em que a retração do setor foi de 8,7% em volume, a C&A e outras grandes redes como Renner e Riachuelo ganharam mercado em valor, de acordo com levantamento da empresa de pesquisas Euromonitor. A fatia da C&A na receita do setor cresceu de 4,2% em 2014 para 4,9% no ano passado, a segunda maior participação do mercado brasileiro. A rival Renner cresceu um pouco mais, de uma fatia de 4,2% para 5%, e ficou com a primeira colocação.
As lojas da C&A fechadas em 2016 eram operações consideradas recentes, abertas há um ou dois anos. Correa disse que na época em que foram planejadas, as perspectivas econômicas para o período a 2016 a 2018 eram outras. “Então a gente tomou a decisão de esperar e voltar para estas praças à medida que estes lugares tenham uma relevância”, afirmou.
O procedimento, no entanto, é considerado normal no varejo, diz ele. “Você tem que estar sempre revisando seu portfólio e olhando aquilo que está funcionando e aquilo que não está funcionando”, acrescentou.
Para 2017, não há previsão de novos fechamentos. Tudo depende de como a economia vai evoluir. “A princípio, a gente não deveria ver uma involução na economia, mas não temos nenhum fechamento programado”, acrescentou. Há inaugurações previstas, mas ele não revelou quantas. A empresa tem hoje mais de 270 unidades no Brasil.
O executivo avalia que a equipe econômica à frente do governo federal é bastante competente e que as medidas que estão sendo discutidas podem fazer a economia voltar a crescer. “Não tem ninguém prevendo uma grande evolução, um grande crescimento do mercado. A gente está trabalhando com um cenário de crescimento limitado, bem baixo”, afirmou.
A filial brasileira da C&A tem cerca de 1 mil fornecedores no mundo, sendo 500 brasileiros. Sem relevar proporções anteriores, o executivo disse que a empresa vem “há algum tempo” aumentando o número de fornecedores dentro do país, com o objetivo de reduzir o ciclo de fabricação do produto. “Tem muito mais um propósito de velocidade [na entrega] do que única e exclusivamente por causa do câmbio”.
A varejista assinou nesta semana uma parceria com a Malha, empresa instalada no Rio de Janeiro que oferece cursos de moda e facilita o contato entre produtores, empreendedores e consumidores. A ideia da C&A é patrocinar a incubação de 10 novas marcas e a criação de um polo de “upcycling” (transformar resíduos ou peças de roupas que seriam descartados em novos produtos), com inauguração prevista em 2017. O projeto também contempla palestras, workshops e bolsas de estudo.
“A C&A é uma empresa de uma família que existe há 175 anos, há 40 aqui no Brasil, e é europeia. Isso dá uma dimensão de longo prazo. Como é uma empresa fechada, não tem aquela pressão de próximo trimestre, [do desempenho] da ação”, afirmou, quando questionado se a crise atual teve impacto neste tipo de investimento.
Apesar de acreditar que não haverá um retorno financeiro no primeiro momento, Correa avalia que as novas marcas poderão ajudar a C&A. “A medida que elas se estabeleçam, a gente vai ajudá-las no processo de organização, consultoria etc. Ao longo do processo vão surgindo as propostas comerciais, produtos, coleções, isso poderia gerar, sim, uma integração com o ponto de venda [da C&A]”, disse.
As marcas selecionadas vão “oxigenar criativamente” a C&A, afirmou um dos cofundadores da Malha, André Carvalhal.