Na varejista holandesa C&A, a moda em tempos de crise econômica no Brasil é ser básica. Nas araras há mais cores sóbrias e modelos clássicos, para atender a um consumidor cauteloso, que diminuiu a quantidade comprada por visita e sabe que está gastando mais que antes, seja pela inflação ou pela queda de renda.
“Tivemos que rearranjar a coleção para uma dimensão de valor e de estilo mais adequada”, afirma Paulo Correa, presidente da C&A Brasil. “Peças com excesso de elementos de moda, estampas muito chamativas ou cores marcantes têm hoje um valor menor porque podem ser usadas em menos ocasiões.”
No ano passado, a C&A perdeu a liderança no varejo brasileiro de moda e calçados para a Lojas Renner, segundo dados da empresa de pesquisas Euromonitor International. A Renner avançou de uma participação de mercado de 4,2% para 5% na comparação anual, enquanto a C&A cresceu em ritmo levemente menor – de 4,2% para 4,9%.
A C&A recebe, por dia, 1 milhão de consumidores nas mais de 280 lojas pelo país. Neste ano, abriu dois novos pontos de venda, um no Rio e outro em São Paulo. Mas as inaugurações vêm perdendo ritmo – passaram de 29 em 2014 para 16 em 2015. A companhia não informa a projeção para este ano. “A previsão de abertura de lojas é um número flutuante, porque muitos empreendimentos de shopping centers têm sido postergados ou adiados”, diz Correa.
A varejista espera fechar 12 pontos de venda no Brasil em 2016 – a empresa defende que o movimento faz parte da rotina normal de negócios. Assim, engrossa a lista de grandes redes que preferiram encerrar a operação de lojas com resultado abaixo do esperado, como Marisa, Ponto Frio e Walmart.
Como aconteceu com outras redes de vestuário, as vendas de itens de inverno tropeçaram no veranico que tomou quase todo o mês de abril no Sul e Sudeste, mas “no fim daquele mês a tendência mudou e podemos ver alguma recuperação”, diz Correa. Além disso, as adaptações no portfólio têm surtido efeito. “A coleção de outono-inverno teve peças mais versáteis e temos visto uma resposta bastante positiva”, afirma, sem citar números. Segundo ele, o nível de promoções está menor neste ano.
O executivo considera que a mudança de governo no país pode significar “a esperança de tomar os passos corretos para reorganizar a economia”. Ele lembra que a empresa está no Brasil há mais de 40 anos e o diálogo com os acionistas é maduro. “Eles viram o país em situações melhores e piores e têm confiança que em dois ou três anos voltaremos a ter força econômica.”