O algodão cultivado organicamente é o tema do documentário que a C&A, em parceria com a National Geographic, lançará amanhã de manhã (18), em pré-estreia em São Paulo, no Museu da Imagem e do Som (MIS), nos Jardins. O filme, narrado pela ambientalista Alexandra Cousteau e intitulado “For the Love of Fashion”, será exibido posteriormente no canal NatGeo no dia 25 de maio, às 17h15. A multinacional holandesa do setor de varejo de roupas quer marcar posição cada vez mais consolidada no segmento de sustentabilidade e o algodão orgânico é parte importante desta intenção. Desde 2014, conforme relata o presidente da C&A Brasil em entrevista exclusiva ao Estado, Paulo Correa, a companhia dispõe no País de uma linha de algodão orgânico na linha infantil & bebê. “No mês passado lançamos também uma coleção de jeans de algodão sustentável e orgânico”, comenta. “Nosso compromisso é até 2020 trabalharmos apenas com a fibra proveniente de cultivos orgânicos ou sustentáveis.” Além disso, a C&A dispõe de outras peças sustentáveis, como roupas feitas a partir de fibras de garrafas PET.
Atualmente, relata o executivo, dois terços do algodão produzido no Brasil já detém o selo internacional Better Cotton Iniciative (BCI), que certifica a fibra produzida em respeito ao meio ambiente, à legislação trabalhista e com economia de recursos naturais, entre outras iniciativas. “É um selo que certifica a sustentabilidade em todo o processo, até o consumidor”, define Correa, lembrando porém, que, como parte da cadeia produtiva ainda não é sustentável, apenas 15% de todo o algodão consumido pela C&A no Brasil pode ser classificado como BCI. “Utilizamos cerca de mil toneladas de algodão BCI em pluma por ano no Brasil”, diz. Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve produzir na atual safra 2015/16 um total de 1,5 milhão de toneladas de algodão em pluma. Ou seja, ao menos 1 milhão deste cultivo já detém o selo. “A cadeia, como um todo, é que ainda não tem”, reforça Correa.
Já o cultivo de algodão orgânico no Brasil é incipiente. Dados levantados pela BCI estimavam que, em 2010, existiam no Brasil 6.278 produtores de algodão, sendo que, destes, 5.825 eram agricultores familiares e 453 eram produtores empresariais. No semiárido nordestino, atualmente existem cerca de 1.300 agricultores familiares, distribuídos em cinco Estados, dedicados à produção de algodão agroecológico e/ou orgânico e que realizam beneficiamento por meio de pequenas unidades pertencentes a associações de agricultores, conforme a C&A. Além disso, dados levantados pela própria empresa têxtil no Brasil indicam que, em 2015, o total da produção de algodão orgânico no País se aproximou de 100 hectares, com uma produção de 30 toneladas de pluma, das quais 80% eram de algodão colorido e 20% de algodão branco.
“Assim, por enquanto, não podemos depender 100% do algodão orgânico brasileiro”, comenta Correa, acrescentando que toda a produção nacional da fibra agroecológica seria suficiente para menos de um dia de consumo de roupas nas lojas C&A. “Das 30 toneladas em pluma/ano produzidas no Brasil, sendo que só 20% são de algodão branco, seria possível fazer 30 mil peças. É menos do que a venda diária da companhia”, garante.
Diante disso, a C&A pretende estimular a expansão do cultivo da fibra orgânica no País, por meio de colaboração da Embrapa, por exemplo, entre outros parceiros. Amanhã, inclusive, no lançamento do documentário no Museu da Imagem e do Som (MIS), nos Jardins, estarão presentes, para uma mesa redonda sobre o cenário do algodão orgânico no Brasil, o pesquisador Fabio Aquino de Albuquerque, da Embrapa; Andrea Aragon, precursora do BCO no Brasil; o professor Lucílio Alves, do Cepea/Esalq-USP, além de Correa, da C&A, e JefreyHogue, diretor global de Sustentabilidade da C&A.
Enquanto a cadeia produtiva de algodão 100% orgânico não se consolida no País, a C&A tem lançado mão da fibra produzida em outros países, principalmente Índia. “Atualmente, mais de 40% do nosso algodão vem de fontes globais mais sustentáveis, tais como o algodão orgânico e BCI. Globalmente, a C&A trabalha com algodão orgânico, algodão BCI e REEL (Responsible Environment EnhancedLivelihoods)”, diz Correa.
E, em 2015, pela terceira vez, a C&A foi nomeada globalmente como o maior consumidor orgânico no Relatório Organic Cotton Market da Textile Exchange, organização mundial sem fins lucrativos. Na ocasião, a Textile Exchange estimou que, por meio da compra de algodão orgânico, a C&A economizou 133,8 bilhões de litros de água, evitou que 123 toneladas de pesticidas fossem usados e melhorou a qualidade do solo em mais de 136.000 hectares de terra.