Por Giuliana Rovai – Prestes a completar dois anos de existência, a plataforma colaborativa Nordestesse vai dar um de seus mais importantes passos: comercializar as criações de dez marcas nordestinas lideradas por mulheres no marketplace da C&A. A parceria está sendo viabilizada pelo Instituto C&A, braço da companhia responsável por iniciativas de impacto.
Os produtos, de roupas íntimas até acessórios como bolsas, estarão disponíveis para compras a partir de 4 de julho no Galeria C&A, como é conhecido o e-shop da gigante do varejo de moda. São 26 itens no total com valores de R$ 79,00 a R$ 299,00.
“Estar em um marketplace de um grande player como a C&A funciona como um aval, uma chancela para que as marcas possam continuar prosperando”, disse ao NeoFeed Daniela Falcão, idealizadora do Nordestesse e também responsável pela curadoria das marcas que foram contempladas no projeto.
O modelo de parcerias tem sido uma forma que a Nordestesse vem utilizando para acelerar o desenvolvimento dos empreendedores nordestinos, revelando talentos criativos para além da caricatura que se faz da região. De janeiro a dezembro do ano passado, outra gigante do varejo brasileiro, a Magazine Luiza, disponibilizou produtos para venda no seu site, mas o foco da iniciativa era contribuir no processo de digitalização desses empreendedores.
“Muitos não sabiam nem como obter um certificado digital e a Magalu foi importante neste processo”, relembra Daniela ao ressaltar que uma das missões da plataforma é contribuir com a profissionalização das marcas.
Ainda no fim de 2022, a plataforma expandiu as fronteiras do digital e abriu a Casa Nordestesse, um showroom com itens de moda e design dos produtores, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Para abrir a loja física e expandir a atuação online, Daniela contou com um aporte de R$ 1 milhão de um family office.
Para a parceria com o Instituto C&A, Daniela levou em consideração dois aspectos para selecionar as marcas participantes: distribuição geográfica, de modo que os nove estados da região fossem representados, além do resgate de tradições ancestrais como bordados, crochê e cestaria. “O craft hand está em alta e é uma oportunidade que temos que aproveitar. Essas marcas podem e devem ser mais conhecidas nacionalmente.”
Oriunda de Feira de Santana, na Bahia, a marca Seja Balbina, por exemplo, faz uso de diversas técnicas manuais como fuxico e patchwork, além de misturar tecidos como algodão, linho e viscose para compor suas peças, que também carregam a preocupação em vestir todos os tipos de corpos. Já a pernambucana Vem Meu Bem se apropria do crochê de uma forma contemporânea para atender um público jovem.
À frente da direção do Instituto C&A desde 2020, o diretor executivo Gustavo Narciso é um entusiasta da inclusão produtiva de mulheres, pessoas negras e indígenas, comunidade LGBTQIAP+ e refugiados, dentre outros. “Estar no Galeria C&A legitima as marcas no mercado.”
A visibilidade é, sem dúvida, umas das grandes alavancas para a expansão destes negócios que, em sua maioria, têm até quatro anos de vida, e ainda são pouco conhecidas fora de suas regiões.
Segundo Daniela, “mais do que vender, os designers ganham uma exposição inédita diante de consumidores de todo o país que gostam de moda, estão acostumados com bom serviço e bons preços”.
Com a parceria, os criadores têm a venda de toda a produção garantida pela varejista e o instituto se encarrega da estratégia de comunicação, incluindo conteúdos nas redes sociais e até um editorial de moda.
Na comunicação, vão ressaltar a trajetória dos criadores para valorizar as raízes de quem está por trás dos produtos. O mais importante desta parceria, defendem, “é viabilizar a inserção dessas marcas e da respectiva cadeia produtiva no ecossistema de produção da moda”.
A estratégia contempla ainda embaixadores como o ator Lázaro Ramos e a influenciadora socioambiental Giovanna Nader, apenas para citar dois exemplos.
“Os embaixadores podem ter dois tipos de conexão com as marcas – ou são da mesma região geográfica que os designers, ou têm relação com a causa”, explica Daniela. A marca MB Conceito, do estilista Moab Barros, por exemplo, é da Bahia, mesmo estado do ator.
Adequar fichas técnicas, trabalhar com grade de tamanhos, dimensionar a capacidade produtiva e atender prazos são alguns dos desafios que as marcas passaram para se encaixar nos processos exigidos pela C&A.
“Foram meses de trabalho e durante esse tempo as empresas vivenciam um choque de profissionalização”, afirma Daniela, ao explicar o trabalho de mentoria que a Nordestesse desempenha com os criadores.
Em princípio, a parceria tem duração de três meses e os primeiros 15 dias são cruciais para avaliar o desempenho das vendas e, assim, determinar novas oportunidades para os designers.
Gustavo é cauteloso ao falar de expectativas em relação às vendas, mas diz que há um leque de oportunidades, inclusive abrir portas para outras parcerias.
Já Daniela, diz, que espera “vender 90% do estoque em uma semana e, spoiler, posso dizer que nossa parceria não termina por aqui”, adianta ela ao NeoFeed.
Fonte: Neofeed