A rede de fast-food Burger King, dos sócios Vinci Partners, 3G Capital e Temasek, lidera um projeto de investimentos no país, por meio de abertura de lojas e compra de franqueados – foram quatro aquisições em um ano – que tenta ocupar espaços no mercado mais rapidamente, apesar do efeito colateral do aumento da alavancagem financeira. É uma estratégia que fica mais clara agora que a Vinci completa cinco anos no controle da operação no país. A BK Brasil registrou R$ 1 bilhão em vendas brutas em 2015, alta de 46%.
A empresa, que reúne o negócio dos três sócios, terminou o ano passado com 419 lojas próprias, de um total de 531 – o equivalente a quase 80% do total, versus 70% no ano anterior. Balanço anual da rede mostra quatro negócios adquiridos desde março, envolvendo R$ 65 milhões e 31 lojas de franqueados em cinco Estados.
Em 2014, a movimentação foi bem mais tímida: foram cerca de R$ 10 milhões desembolsados na aquisição de 11 restaurantes no país. Outros negócios devem ser fechados, segundo fontes próximas à operação. Circulam informações que a ideia é superar a taxa de 90% de lojas próprias da base total.
Na ponta oposta, a Arcos Dorados, que opera o McDonald’s no Brasil, anuncia venda de ativos e reduz consideravelmente aberturas (deve tentar retomar ritmo em 2016). Foram 17 inaugurações do McDonald’s no país em 2015 – um terço do verificado em 2014. A rede fechou o ano passado com 883 restaurantes no Brasil e US$ 1,4 bilhão em vendas líquidas (R$ 5 bilhões). A BK apurou vendas líquidas de R$ 939 milhões.
Internamente, segundo fontes, o comando do Burger King calcula que, com as 531 unidades em operação, a empresa passou da sétima posição do mercado de fast-food em número de pontos para a terceira em 2015, atrás de Subway, McDonald’s e Bob’s. No ano passado, 98 novas unidades forma abertas, versus 92 em 2014.
A BK tenta ocupar terreno num período de crise com ativos mais baratos e outros mais endividados – duas das quatro compras em 2015 envolveram negócios com assunção de dívidas, somadas, na faixa de R$ 20 milhões no ano passado. Os investimentos têm sido sustentados, em parte, com emissões de debêntures, em mais de R$ 400 milhões.
O último aporte dos sócios foi em 2014, quando a empresa do governo de Cingapura, a Temasek, adquiriu por R$ 230 milhões pouco mais de 20% da rede – a Prima Cena, subsidiária da Vinci, tem 59,5%. Foram três operações com debêntures desde a entrada da Vinci, negociadas com bancos, uma de R$ 150 milhões e duas de R$ 100 milhões cada. Outra operação, de oferta de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de R$ 150 milhões, está em andamento e outras emissões não estão descartadas.
A dívida líquida na BK Brasil subiu mais de seis vezes de 2014 para 2015, atingindo R$ 264 milhões. Apesar do aumento de lucro antes de juros, impostos amortização e depreciação (Ebitda), de quase 50%, isso ocorreu num ritmo abaixo da dívida, por isso, a relação dívida sobre Ebitda passou de 0,6 para 3,1 entre 2014 e 2015.
Avaliação feita internamente é que uma maior alavancagem faz parte dos planos, assim como prejuízos nos primeiros anos. O que a empresa tem olhado mais, para sustentar que o projeto tem dado resultados, é este aumento do Ebitda – a margem Ebtida saiu de 8,6% para 9%. Entendem que, na prática, é difícil crescer da forma como querem sem que despesas e dívidas pressionem resultados. Só em depreciação e amortização como reflexo das aberturas foram R$ 75 milhões em 2015. O prejuízo acabou dobrando no ano passado, para R$ 37,6 milhões.
Da loja para dentro, não há questionamento sobre foco da operação. Se nos EUA, o Burger King lançou produtos demais, chegando a confundir clientes, por aqui evita-se cardápios abarrotados. Pode ser feita uma tentativa de venda de cachorro- quente, por exemplo, como ocorre hoje nos EUA, apurou o Valor. Mas não haveria ainda data para isso.