Num ano em que a recessão derrubou o consumo, o Burger King apurou receita líquida de R$ 1,77 bilhão no Brasil, uma alta de 34,5% – a master franqueada BK Brasil cresceu mais, 47%, com vendas de R$ 1,39 bilhão. Parte da expansão foi sustentada pelo ritmo acelerado de aberturas: foram 73 inaugurações no ano passado, atingindo um total de 601 restaurantes. Há cinco anos, a rede tinha pouco mais de 200 pontos e receita de menos de R$ 600 milhões.
Para efeito de comparação, seu principal rival direto no mundo, o McDonald’s cresceu 3% no país em 2016 (em reais). Sua operação no Brasil é mais madura que a do Burger King, com receita bruta bem maior: US$ 1,3 bilhão no ano passado ou R$ 4,5 bilhões considerando a conversão pelo câmbio médio.
A Arcos Dorados, operadora do McDonald’s na América Latina, fechou 2016 com 902 restaurantes no país, versus 883 unidades um ano antes, uma diferença de 19 unidades. A expansão desacelerou. Há dois anos, o McDonald’s somou 60 novos pontos (saldo líquido) à sua base de restaurantes. No fim de 2012 – quando o Burger King era menos da metade do que é hoje – o McDonald’s chegou a somar 70 lojas à sua base.
Ao se retirar dos números o efeito das inaugurações das duas redes, as diferenças se mantém. O Burger King fechou o ano passado com expansão em “mesmas lojas” (indicador que considera apenas pontos em funcionamento há mais de um ano) de 9,9%. Na Arcos Dorados, a taxa tem ficado abaixo de 10% – de outubro a dezembro subiu 0,1%, e de julho a setembro, pouco mais de 6%.
Ao atingir 601 lanchonetes no fim de 2016, o Burger King afirma que passou o Bob’s no ranking geral de redes de fast-food no país. A base de dados é da empresa de análise de mercado Geofusion e conta apenas os restaurantes – exclui outros pontos como quiosques. Perguntado, o Bob’s informou ontem ter encerrado 2016 com 1,1 mil unidades, incluindo todos os formatos. Segundo o Burger King, em primeiro lugar está a rede Subway (2.243 restaurantes), seguida por McDonald’s (893), Burger King (601) e Bob’s (571).
Além do ritmo de aberturas, o Burger King explica seu crescimento por mudanças em hábitos de consumo. Iuri Miranda, presidente da BK, diz que aumentou o tráfego de consumidores de classe média, que antes frequentavam restaurantes mais caros, e buscaram na rede preços mais baixos – paga-se até R$ 25 por um sanduíche, fritas e refrigerante.
Nas classes de menor renda, a manutenção do tráfego foi obtida, em parte, com produtos a preços menores – há sanduíches e sobremesas de menos de R$ 8. Também pode pesar o direito ao refil do refrigerante, que permite ao cliente encher o copo quantas vezes quiser. “A conta que tem que ser feita é a que mede o valor percebido da compra. Aquele R$ 1 que eu disputo com todo mundo vale muito mais hoje com a crise. E eu tenho que entender isso. Quem não percebeu isso, não vendeu”, afirmou Miranda.
Apesar das vendas altas, a BK Brasil, a master franqueada, apurou prejuízo de R$ 84,5 milhões no ano passado, 130% superior ao de 2015 – na linha de passivos, os prejuízos acumulados somam quase R$ 160 milhões (a empresa existe desde 2011). O efeito dos investimentos na expansão da operação, ainda em busca de escala, explica, em parte, os números. Com abertura acelerada de lojas, custos e despesas acabam pressionando mais o resultado final.
Houve um volume elevado de despesas operacionais (as gerais e administrativas subiram 65% em 2016) e as despesas financeiras subiram 46% no ano passado, como reflexo da alta na taxa de juros básica. Sobre os números, Miranda diz que os sócios controladores “têm olhado especialmente os resultados operacionais e estão satisfeitos com esse quadro”. O Ebitda da empresa, um indicador ligado à saúde da operação, subiu 59%.
São acionistas da BK a gestora Vinci Partners, com 38% de participação; Capital Group, com 31%; Temasek, 16%; e Restaurant Brands International, dona da marca (cujo um dos sócios é a 3G Capital), com 15% das ações.
Para 2017, a rede decidiu avançar com um novo padrão de loja no Brasil, com um layout que deve substituir, ao longo dos próximos anos, as unidades atuais. Chamado de projeto de lojas “Garden”, o formato começou a ser implementado no fim de 2016 e está em 12 lojas. O ambiente interno foi repaginado – com algumas semelhanças com restaurantes “casual dining”.
Paralelo a isso, o Burger King começou a se expandir para áreas onde não possuía restaurantes com os chamados “subfranqueados” – empresários locais com conhecimento desses mercados. Hoje, há 13 lojas franqueadas geridas por esses investidores, em cidades como Manaus, Palmas e Macapá. Para os próximos meses, os “subfranqueados” devem abrir pontos no Rio Branco, Porto Velho, e Boa Vista.
Fonte: Valor Econômico