Maior empresa de shoppings do país, a BR Malls vai investir R$ 400 milhões em cinco anos na remodelação de 10 de seus 40 empreendimentos, para adaptá-los aos novos hábitos do consumidor. O foco em tornar mais rentável os ativos que já possui não significa o abandono da estratégia de aquisições, marcante na expansão do grupo: neste momento, a companhia negocia a compra de seis shoppings do Grupo Almeida Jr. em Santa Catarina.
“Costumo dizer que estamos esculpindo o portfólio”, afirmou ontem Ruy Kameyama, CEO da BR Malls, após evento com investidores em São Paulo. “Para alguns shoppings estamos diminuindo a exposição e para os maiores, estamos aumentando.” Esse processo resultou na saída de seis empreendimentos no ano passado – a venda das participações gerou R$ 824 milhões. Ao mesmo tempo, em agosto, a companhia aumentou sua fatias em três shoppings no Paraná que já faziam parte da carteira – Catuaí Londrina, Catuaí Maringá e Londrina Norte -, num desembolso total de R$ 563,5 milhões.
A empresa continua “seletiva” com projetos “greenfield” – construções a partir do zero. Durante a recessão, o excesso de shoppings centers (construídos quando a economia estava crescendo) e a retração do consumo jogaram para baixo a rentabilidade do setor.
Agora, a companhia vê sinais de inversão desse movimento, mas quer ter mais certeza do aumento da demanda para iniciar novas construções – como a do Catuaí Cascavel, projeto antigo, também no Paraná, que teve a comercialização retomada no ano passado, mas não tem data para ser erguido.
A cautela com novos projetos não é exclusiva da BR Malls. Dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) mostram que a área bruta locável do setor deve aumentar 2,4% este ano e apenas 1,1% em 2019. “Provavelmente até 2021 a oferta nova de área bruta locável deve permanecer baixa”, disse Kameyama.
Essa tendência deve se traduzir em melhores resultados para os shoppings, à medida que a economia ganha ritmo. Este ano, segundo o executivo, é o primeiro com saldo líquido positivo entre aberturas e fechamentos de lojas no setor, depois da recessão. Outro sinal de melhora é o aumento do índice de confiança do consumidor medido pela FGV, que em novembro atingiu o maior nível desde julho de 2014. “Essa dinâmica de demanda crescente e oferta estável vai levar as empresas de shoppings, inclusive a BR Malls, a melhorar a taxa de ocupação e recuperar um pouco da rentabilidade”, afirmou Kameyama.
Como parte dos projetos que já estavam em desenvolvimento nos últimos anos, a companhia inaugurou em outubro o Estação Cuiabá. O empreendimento consumiu R$ 412 milhões e seu conceito servirá de modelo para a revitalização dos shoppings do grupo, com mais espaço para gastronomia, serviços e entretenimento, incluindo áreas de diversão para bichos de estimação dos clientes – uma espécie de ‘playground’ para pets.
“O objetivo é criar uma experiência muito melhor e mais completa para o consumidor, seja na arquitetura, no mix de lojas, ou em atrações novas como são os parques infantis e as áreas abertas de restaurantes”, disse Kameyama, sobre as tendências que estão norteando os projetos do grupo.
Nesse novo contexto, o investimento em tecnologia também ganha importância. Em maio, a BR Malls comprou uma participação minoritária na startup Delivery Center. Esta faz entregas de produtos comprados pela internet de lojas de shoppings no mesmo dia (ou em até uma hora, no caso de refeições). Os motoboys da Delivery ficam em estações dentro dos centros comerciais.
Outra frente é a venda de anúncios digitais, em painéis eletrônicos dentro dos shopping. O projeto começou a ser adotado este ano em 11 empreendimentos e será expandido. “A receita com mídia tem sido uma das linhas de maior crescimento dentro da companhia. Vemos um potencial bastante interessante no longo prazo”, disse o CEO.
Kameyama observou que o investimento nesse e em outros projetos só tem sido possível porque a companhia está numa nova fase. “No ano passado, diminuímos o endividamento, eliminamos o risco cambial. Este ano ficamos com um balanço muito mais forte, que nos dá capacidade de investir e retornar capital para os acionistas.” A relação entre dívida líquida e Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que chegou a 4,6 vezes no terceiro trimestre de 2016, foi reduzida para 2 vezes em setembro deste ano.
Fonte: Valor Econômico