Por Vanessa Barone | Estratégia bem desenhada, altos investimentos, persistência e qualidade de produto. É tudo isso e mais um pouco o que exige o superlativo mercado de moda americano, a qualquer marca que deseje se aventurar por lá.
— Esse é um mercado sólido, porém competitivo, exigente e caro — diz Rafael Azzi, da Azzi&Co de Nova York, agência de relações públicas e estratégia de negócios, especializada em trabalhar marcas brasileiras de luxo nos Estados Unidos.
Por isso, Azzi orienta investir em estudos de mercado para encontrar onde e como aquela marca melhor se encaixa:
— Todo mundo quer estar em Nova York, pelo glamour, mas não sabe que há lojas multimarcas no Texas com vendas altíssimas
Thomas Simon, CEO da S2 Holding, que detém a marca de calçados Kenner e as de vestuário Redley e Cantão, acredita que pode conquistar os consumidores americanos pelos pés. O primeiro passo foi criar um e-commerce internacional, que começou a funcionar em abril e atende a todo os EUA.
Até o fim do ano, a empresa investirá US$ 2 milhões no projeto. O próximo passo, diz Simon, é buscar lojas multimarcas de moda. E para trazer um ar fashion aos produtos, a marca aposta na campanha internacional, que traz a cantora Anitta e músico jamaicano Masego como garotos-propaganda. Ano passado, a Kenner vendeu 6,5 milhões de pares, no Brasil, e em 2024 pretende crescer 20%.
Impostos são entrave
De acordo com Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a carga de impostos que incide sobre produtos brasileiros ainda é o principal entrave para o crescimento das exportações de moda para os EUA:
— O jeans brasileiro é taxado em 17%. Uma das saídas para fomentar os negócios com os EUA é a participação em feiras do setor, onde compradores podem ver de perto os artigos de moda “made in Brazil”.
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Fusão de grandes marcas do setor já é uma tendência consolidad no exterior
Em fevereiro deste ano, o Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil) ajudou a levar 24 empresas brasileiras à feira de negócios Coterie, em Nova York.
O programa é resultado da parceria entre a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e a Abit. A delegação brasileira gerou um total de US$1,47 milhão em negócios. Mas ainda há um universo a ser explorado.
Comércio eletrônico
Reconhecida por sua estamparia com estilo tropical-contemporâneo, a marca Farm, do Rio de Janeiro, iniciou em 2016 a sua investida nos EUA. Em 2019, a empresa abriu dois pontos de venda, em Miami e Nova York.
Com a pandemia e as lojas temporariamente fechadas, a Farm redirecionou os investimentos para um e-commerce. Agora, começa uma nova etapa de expansão com a abertura de mais três lojas: no Brooklin, em Nova York, em Washington DC e em Los Angeles.
Para evitar a concorrência com o fast-fashion, a estratégia da Farm incluiu adaptações na modelagem e na matéria-prima de suas peças, para conseguir que a grife seja percebida como contemporary brand. As peças são produzidas na Turquia, no Marrocos e na Índia.
Segundo Marcello Bastos, diretor da Farm, são produtos mais sofisticados e que exportam a força da marca. Com 26 anos de história, a Farm faturou mais de R$1 bilhão, em 2023. Nesse mesmo ano, a operação internacional (Farm Global) teve faturamento de cerca de R$500 milhões.
A Farm é parte do grupo Soma, que detém as marcas Animale, Cris Barros e Hering. Recentemente, o Soma uniu-se ao grupo Arezzo&Co.,que também atua no mercado internacional, com os produtos da marca comercializados por meio de franquias e lojas multimarcas.
Alexandre Birman, CEO da Arezzo, foi homenageado na semana passada como “Personalidade do ano”, pela Câmara Americana de Comércio (Amcham).
Feira e showrooms
Já a marca feminina DressTo foi uma das que participou a feira americana Coterie, no início do ano, além de realizar showrooms em Los Angeles, Dallas e Nova York.
— Vendemos para cerca de 56 multimarcas. A expectativa de vendas, nessa primeira etapa, era de US$500 mil, mas atingimos US$1 milhão — diz Rodrigo Braga, CEO da marca.
A partir de junho, o e-commerce da DressTo começa a efetuar vendas internacionais e, para 2025, está prevista a abertura de uma loja própria em Miami. A expectativa é que as vendas internacionais representem 30% do faturamento, até 2026.
Fonte: O Globo