Administradora de shoppings diz que negociação de descontos no aluguel será feita caso a caso e de forma cirúrgica
Por Adruiana Mattos
O cenário atual dos lojistas de shoppings é diferente daquele de 2020, quando havia uma “menor rede de apoio” às lojas, disse o comando da BR Malls hoje, e mesmo com o novo fechamento temporário dos empreendimentos neste ano, a companhia não fará negociações coletivas envolvendo aluguel ou condomínio com os varejistas.
Segundo a empresa, a negociação de descontos ocorrerá “caso a caso” e será avaliada de forma “cirúrgica”.
Em abril de 2020, quando os shoppings no país ficaram fechados, houve isenção total de aluguel, condomínio e fundo de promoção, e em março, houve isenção proporcional ao funcionamento na maioria das grandes empresas do setor.
“Estamos tratando caso a caso. Em 2020, ajudamos mais os lojistas porque tinha uma menor disponibilidade de ‘funding’, mas, ao longo do ano, foi ocorrendo uma reação do mercado, e também franqueadores foram apoiando mais as franquias. Em 2021, entendemos que vamos ajudar menos. Antes era mais automático, agora é cirúrgico”, disse Ruy Kameyama, presidente da empresa.
“Os lojistas sabem que a vacina está aí, e que a retomada vai acontecer, há uma visibilidade melhor”, disse.
A Iguatemi já havia mencionado dias atrás a analistas que não negociará isenção em despesas após o fechamento de shoppings em determinadas regiões em março, e já havia ressaltado que as análises de desconto seriam individuais.
Historicamente, os relatórios de vendas mensais das lojas são acompanhados pelos empreendimentos para definir o formato de pagamento do aluguel, que pode ser um valor mínimo, definido em contrato, ou um percentual das vendas — vale o que for maior. Então, os shoppings têm dados sobre desempenho dos lojistas.
Apesar desse cenário de fechamento pontual, a BR Malls já projeta efeito negativo para o primeiro trimestre, informou sem relevar estimativas. O presidente da empresa entende que haverá efeito no período, apesar de os fechamentos, a princípio, se concentrarem em março e num conjunto de estados.
Ele lembrou que Norte e Nordeste têm registrado impacto negativo menor nas vendas.
A BR Malls tem 12 shoppings abertos e 19 fechados hoje, e aqueles em funcionamento representam 57% do lucro operacional, com base em 2019.
Cinemas sob pressão
O executivo ainda disse que o braço de entretenimento nos shoppings continua sob pressão, mas acredita que as empresas de cinema devem se movimentar para “proteger” o seu negócio, por conta do aumento da competição do “streaming”.
“Se eventualmente tiver uma redução no número de salas, vamos nos adaptar com novas âncoras e megalojas. Se tiver que mudar, não teremos grande dificuldade”, afirmou.
A questão discutida no mercado hoje é o impacto de menor número de salas no tráfego de clientes. “É algo que ainda não sabemos como irá ficar, mas estamos acompanhando”, afirmou ele.
O executivo ainda crê que, após pandemia, cinema, games e restaurantes terão “boom” de vendas.
A empresa publicou na noite de ontem seus números do quarto trimestre, com lucro líquido de R$ 199,4 milhões, queda de 51,1% em relação aos R$ 407,6 milhões registrados no mesmo trimestre de 2019. Em 2020, a BR Malls teve prejuízo líquido de R$ 293,8 milhões, revertendo parte do lucro líquido de R$ 1,24 bilhão em 2019, em um resultado atribuído aos impactos da pandemia de covid-19.
A BR Malls diz que a alta no endividamento no fim de 2020 não levou a quebra de “covenants” — os indicadores financeiros que norteiam investidores e instituições financeiras. Quando uma companhia ultrapassa limite de endividamento, por exemplo, instituições podem pedir antecipação de vencimento de dívida.
A dívida líquida da empresa atingiu de R$ 2,4 bilhões ao final do trimestre, com um indicador de dívida líquida versus lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de 4,6 vezes, segundo o relatado em balanço. O índice era de 1,9 um ano antes.
Fonte: Valor Econômico