Por Daniela Braun | Aplicações da inteligência artificial (IA) generativa nas relações com o consumidor serão relatadas por empresas como Grupo Boticário, fabricante e varejista de cosméticos, e a empresa chilena de alimentos NotCo durante a primeira edição latino-americana do evento de inovação Web Summit Rio, que teve início nesta segunda-feira (1) e vai até 4 de maio, no Rio de Janeiro.
Desde o início do ano, o Grupo Boticário vem conversando com a americana Open AI, criadora do popular aplicativo de IA generativa ChatGPT.
A holding de cosméticos planeja aplicar a IA generativa para aprimorar o atendimento ao cliente, a revendedores e para acelerar a criação de códigos de programação.
“Estamos conversando muito com a Microsoft, que tem feito uma ponte com a Open AI, garantindo todos os padrões necessários para que a privacidade seja preservada. Até porque entraremos em um nível de intimidade maior [com o cliente] em relação às ferramentas atuais”, diz Daniel Knopfholz, vice-presidente de Gente, Tecnologia e Inovação do Grupo Boticário, ao Valor.
No dia 3, Knopfholz compartilha sua visão sobre a tecnologia durante o painel “IA generativa: para onde [caminha] depois do hype?”, durante o Web Summit Rio, no Riocentro.
“É legal entrar no ChatGPT e fazer perguntas sobre qualquer coisa, mas o que tem de útil na tecnologia é economizar o tempo do cliente em um call center, algo que é revolucionário na experiência de relação com uma marca, especialmente em serviços vinculados a pós-vendas”, observa o executivo.
No Carnaval deste ano, o grupo fez o primeiro teste comercial da tecnologia na criação de ‘looks’ com maquiagens da marca ‘Quem disse, Berenice?’ na campanha batizada de F.O.L.I.A.
A intermediação da subsidiária brasileira da Microsoft nas conversas entre a criadora do ChatGPT e a holding de cosméticos, iniciadas na primeira semana do ano, se deve ao apoio da gigante de tecnologia à Open AI. Em janeiro, a Microsoft anunciou investimento robusto, estimado em US$ 10 bilhões, na Open AI, após ter investido US$ 1 bilhão, em 2019, para apoiar o projeto da empresa americana.
Na avaliação do executivo, a IA generativa está em uma curva muito mais avançada de uso comercial do que outras tecnologias em um passado recente como o metaverso ou os tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês). “A IA generativa tem grande chance de aplicação comercial rápida, escalável e economicamente viável”, avalia.
No entanto, antes de colocar em uso em escala comercial, Knopfholz pondera que há questões a serem resolvidas quanto ao uso dos dados de forma ética e segura.
“A gente está se preocupando não só com o uso, mas com a garantia de que isso vai ser feito do jeito correto, que proteja nosso cliente, franqueado e nos proteja em paralelo”, observa Knopfholz.
O impacto da inteligência artificial para as marcas também será um tema abordado por Fernando Machado, diretor de marketing global da chilena NotCo, durante o painel “A IA generativa transformará o marketing e a publicidade?”, nesta terça-feira (2), no Web Summit Rio.
A inteligência artificial já é a âncora do negócio da empresa chilena de tecnologia para o desenvolvimento de alimentos a base de plantas.
“A gente já vem trabalhando com IA há muito tempo, antes dela se tornar um tema quente, como hoje em dia”, comenta Machado.
Na visão do executivo, o envolvimento da empresa com a inteligência artificial dá mais sentido a aplicações de IA generativa. Machado recomenda cautela na avaliação das empresas sobre o uso da tecnologia do momento.
“Vejo muitas marcas e empresas com projetos de IA generativa pelo fato de ser um tema do momento, mas isso não deve ser algo forçado, mas sim autêntico”, alerta.
Em abril, a NotCo usou a IA generativa para criar uma campanha gerando imagens de animais como porcos, galinhas e vacas envelhecidos. “Fizemos a campanha mostrando que os animais não costumam envelhecer na indústria alimentícia convencional”, conta Machado.
Para o executivo, a IA generativa não é um substituto de pessoas no processo de criação. “Ela pode ser usada para melhorar o trabalho do dia-a-dia, gerando ideias de forma rápida”, observa.
O algoritmo de IA da NotCo, batizado de Giuseppe é o ‘chef’ de cozinha da companhia, ajudando a identificar ingredientes que podem substituir produtos de origem animal na criação de alimentos como NotMilk, NotBurger ou NotMayo, por exemplo. Recentemente, o Giuseppe ganhou uma versão que tem sido terceirizada para empresas do setor. O software recebeu um investimento de US$ 70 milhões.
Outro tema a ser discutido no dia 2 por Meredith Whittaker, presidente das Fundação Signal, é a necessidade de frear o avanço acelerado da IA generativa, para que sejam criadas regras. O objetivo é proteger os dados de usuários da tecnologia e criar um ambiente onde haja ética.
Para Machado, a IA generativa não pode ser freada. “Ela pode ajudar muito a humanidade a resolver problemas que não conseguimos solucionar sozinhos, sejam eles relativos à saúde ou problemas macroeconômicos”, analisa. “Acredito que esse avanço vai trazer muito mais benefícios do que riscos”, conclui.
Fonte: Valor Econômico