Rede planeja abrir 135 novas franquias em 2022, com lojas reformuladas para proporcionar experiências ao consumidor
Por Paulo Gratão
Antes de o primeiro Big Mac ser vendido no Brasil, o Bob’s já estava por aqui. A rede genuinamente brasileira de fast-food completa 70 anos de existência em 2022, e tem planos de comemorar com uma expansão acelerada, para deixar os dois últimos anos de pandemia apenas na história. Para este ano, estão previstas 135 novas lojas, sendo que a maioria já será no novo formato de franquia, o Bob’s Conecta, que tem forte apelo de experiência de marca. A projeção é encerrar o ano com faturamento de R$ 1,4 bilhão.
Assim como em outros negócios, a pandemia foi um período transformador para o Bob’s. Talvez até mais do que para outras redes de fast-food com operação no Brasil, uma vez que 90% das quase 980 lojas são operadas por franqueados. Dessa forma, a empresa precisou se aproximar ainda mais dos empreendedores, além de ajudar com novos processos e abatimentos financeiros. O diretor geral da marca, Antonio Detsi, estima que a rede tenha abdicado de cerca de R$ 60 milhões no período para manter as franquias vivas.
Mesmo com o apoio, cerca de 20 lojas fecharam as portas no ano passado. Detsi explica que esse movimento se deu pelas condições financeiras das unidades, mas também pela mudança de comportamento do consumidor, uma vez que boa parte delas estavam instaladas em pontos com alta incidência de escritórios, como no centro do Rio de Janeiro. Até hoje essas áreas não conseguiram recuperar o fluxo, devido ao home office.
No entanto, o momento também abriu os olhos da rede para um novo formato de negócio que passou a ganhar volume no segmento de alimentação: o drive-thru. “Esse serviço se mostrou relevante em termos de horário, rapidez e conveniência para o consumidor. Além disso, nos abriu portas em cidades menores, com 80 a 100 mil habitantes”, diz Detsi. De acordo com ele, ter uma expansão fortemente baseada em franqueados, ajuda a marca a se instalar em cidades onde os concorrentes gringos ainda não pisaram.
Além do drive-thru, outra vertente que ganhou força dentro das operações do Bob’s foi o delivery. Até 2019, o canal de vendas não chegava a corresponder a 5% do faturamento das lojas, e catapultou para 60% nos períodos mais críticos do isolamento social. Agora, com as reaberturas, se mantém na casa dos 25%. De acordo com o executivo, boa parte dos pedidos já vêm do aplicativo próprio da rede, o Chama o Bob’s.
Na esteira do delivery, a rede também tem sentido o aumento no tíquete médio das vendas desde a metade de 2021 — apesar de o número de clientes ainda estar abaixo de 2019. O valor médio por cliente também teve um acréscimo por conta da inflação, mas Detsi explica que apenas uma pequena parte foi repassada ao franqueado e para o consumidor. “Não conseguimos repassar todo o impacto, porque o consumidor não absorve. Nós estamos cobrando menos do franqueado e renegociando locação, entre outros custos.”
Um estudo recente da Associação Brasileira de Franchising (ABF) identificou que 67% das franquias repassaram, em média, 30% do impacto que tiveram com a inflação.
A rede também faz parte de um grupo de grandes empresas de alimentação que investiram no desenvolvimento do aplicativo Quiq, de gestão de delivery para os restaurantes. De acordo com Detsi, a plataforma, que funciona em 350 unidades da rede, agilizou em até 60% o tempo de entrega no delivery. Além dessa startup, o Bob’s também investiu em outra, especializada em lockers. Hoje, cerca de cinco lojas já contam com a solução: o cliente ou entregador pede a refeição pelo aplicativo e retira no locker. A primeira loja a receber o serviço foi a do shopping Center Norte, em São Paulo.
Ainda como forma de incrementar o faturamento da rede e a experiência do consumidor, a marca colocou no mercado alguns produtos congelados, da linha Bob’s em Casa, que tem sido vendidos em redes supermercadistas de São Paulo e Rio de Janeiro. “Nós já usávamos esses produtos em grandes eventos, como o Rock in Rio. Veio a pandemia e acelerou a vontade de lançar em larga escala para atender outros momentos de consumo do cliente”, afirma o executivo.
A loja, que será inaugurada, em breve, em Campinas, reunirá todo o portfólio que consta na proposta da loja Bob’s Conecta: ampla cobertura ao ar livre (rooftop), totens de autoatendimento, drive-thru e lockers são algumas delas. A ideia é inserir cada elemento de acordo com as características do ponto e da região em que as novas lojas serão instaladas.
Detsi, que está há 32 anos no Bob’s, já mira o futuro. Ele acaba de deslocar toda a equipe do escritório de Alphaville, em São Paulo, para um coworking na região. De acordo com o executivo, o objetivo é ter mais contato com um ambiente de inovação. “Também estamos criando um espaço dentro de uma incubadora para nos mantermos conectados com essa turma. Podemos ser clientes ou potencialmente investidores”, diz.
Hoje, a média da rede é de quase quatro pontos de venda por franqueado. O plano de expansão prevê que metade das novas lojas sejam abertas por empreendedores que já estão no Bob’s — alguns estão desde o início do franchising na marca, em 1984. O investimento inicial atualizado para ter uma franquia do Bob’s vai de R$ 800 mil a R$ 900 mil para pontos em shopping centers e de R$ 1,5 milhão, em média, para lojas de rua.
Nos próximos dias, a rede fará uma grande festa no Rio de Janeiro, cidade-natal da empresa, com os franqueados para celebrar as sete décadas de existência. “Fomos a primeira franquia de alimentação no Brasil. O nosso modelo de negócio é construído em cima de pequenos franqueados. Toda essa celebração é um reconhecimento a esse empreendedor, que acreditou em nós e está conosco até hoje. Alguns já na segunda geração.”
Fonte: PEGN