Dez anos após a primeira Black Friday brasileira, o evento de 2020 exigiu mudanças na estratégia e no planejamento das empresas como reflexo da pandemia. A promoção, que ocorre na última semana de novembro, será a Black Friday mais digital da história, mas com descontos menores e lojas menos estocadas, especialmente as redes médias e regionais.
O cenário de falta de insumos e embalagens no país, num período de escalada do dólar, tem limitados ações comerciais muito agressivas. Pesquisa da consultoria GfK, que recebe dados semanais das redes, mostra que, apesar das fortes campanhas publicitárias na mídia, já há uma queda no volume de produtos com descontos nos sites.
A consultoria estima expansão de 27% na venda do comércio eletrônico na data sobre 2019 – no ano, até junho, o crescimento foi maior, de 47%. “A diminuição do auxílio emergencial, que caiu de R$ 600 para R$ 300, e a compra antecipada de muitos produtos no on-line, quando as pessoas estavam isoladas em casa, pesam na projeção para a data”, diz Julia.
Nesse cenário de pressões em renda e preços, será uma Black Friday de compras mais planejadas e racionais. Especialistas dizem que varejistas projetam mudanças no foco das compras, com produtos adquiridos por impulso perdendo terreno. O destaque maior deve vir de itens já previstos no orçamento, e voltados ao home office, como notebooks, eletrodomésticos, celulares e móveis para casa, segundo projeções da GfK e do Google.
“A data sempre teve um perfil de indulgência. Isso não deve se repetir. Será um ano em que as pessoas vão buscar realmente bons negócios. Com isso, o Natal deverá ter mais a compra de presentes”, afirma Rodrigo Chamorro, responsável pela área de insights para varejo do Google.
A GfK projeta expansão de “dois dígitos baixo”, na faixa de 12% a 13%, versus quase 19% em 2019. Esse índice considera venda on-line e física. “Estimávamos alta entre 6% a 9% e elevamos a estimativa basicamente por causa do aumento da inflação recente”, diz Felipe Mendes, diretor da GfK.
Pesquisa da consultoria mostra que já vem caindo o volume de itens com mais descontos nos sites, e a GfK não vê espaço para mudança nessa tendência em novembro. Isso ocorre, em parte, porque muitas redes médias e regionais, que são a maioria no comércio brasileiro, sentiram dificuldades para reforçar estoques, após a redução de crédito durante a pandemia e falta de certos produtos, com a escassez de plásticos e papelão no país.
“Há uma queda, de maio a agosto, no percentual de unidades com promoção em todas as faixas de descontos, em relação ao que se viu em 2019”, diz Mendes. “Por exemplo, o percentual de unidades com desconto de 20% a 30% passou de 6% para 2% neste ano. De 5% a 10% de redução, passou de 43% para 17%. As propagandas obviamente continuam fortes, mas há questões comerciais na mesa.”
Outro levantamento, da fintech Conta Azul, feita com 808 empresários, mostra que 73% vão oferecer descontos de, no máximo, 30% para atrair clientes, sendo que 27% vai cortar preços somente até 10%. A expectativa para 62% dos entrevistados é de obter um aumento de vendas entre 11% e 50% na data.
A provável migração mais acelerada da venda física para sites e aplicativos deve mudar o peso dos canais de distribuição. Na Black Friday de 2019, 67% da venda ocorreu em lojas e só 33% pelo on-line, segundo a GfK. “Nesta Black Friday podemos ter um equilíbrio inédito nas taxas”, diz Mendes.
Na avaliação do Google, ações devem ser lançadas pelas redes nos próximos dias para antecipar vendas, e direcioná-las para o on-line, evitando aglomerações nas lojas – Casas Bahia e Ponto Frio já anunciaram medidas nessa linha. “Há um trabalho interno sendo feito para isso há meses nas grandes redes, para ‘espalhar’ a demanda. Ninguém quer ser associado à uma imagem de aglomeração agora”, diz José Melchert, diretor de varejo do Google Brasil.
Fonte: Valor Econômico