Por Adriana Mattos | Se a expectativa de que a Black Friday deste ano será melhor que a de 2023 for confirmada no varejo, pode começar a se abrir um ambiente mais positivo de negócios num setor duramente impactado por crises seguidas nos últimos anos.
Essa percepção tem sido mais discutida nos bastidores das empresas, apesar do ambiente de endividamento ainda elevado da população.
Trata-se de uma Black Friday num ano com o setor menos pressionado. Pelo levantamento do Valor, considerando os dados da década divulgados pelo IBGE, o comércio varejista deve ter a maior taxa de crescimento no volume vendido em mais de uma década, atingindo entre 4,3% e 4,4% de expansão, segundo casas de análise. A maior alta, até então, foi registrada em 2013, com 4,3%.
O entendimento é que, apesar de alguns indicadores mostrarem comprometimento maior da renda com dívidas, os dados de inadimplência das grandes redes mostra estabilidade e queda no índice, segundo balanços das redes de capital aberto nos nove meses do ano, divulgados semanas atrás. Grupos como Renner, C&A, Magazine Luiza e GPA já chamaram atenção para esse ambiente mais animador em suas teleconferências de resultados do ano.
Segundo informações do Banco Central (BC), que é a base de dados que o varejo utiliza em seus planejamentos, o percentual de inadimplência no crédito às famílias, nos atrasos superiores a 90 dias, se manteve estável em setembro. Houve leve diminuição de 0,1 ponto percentual em doze meses, atingindo 3,8%. No acumulado de 2024, de janeiro a setembro, o calote no crédito pessoal está estável em 3,6%.
Além disso, há sinais de uma maior liberação de crédito no comércio ao consumidor bom pagador por parte de financeiras parceiras das redes, algo que andava meio parado há diversos trimestres.
Mesmo em tempos de juros altos na ponta, e subindo, o consumidor quer saber se o parcelado cabe no bolso. Por isso, mais linhas de financiamento no mercado são algo crucial nessas horas, assim como prazos de pagamentos maiores.
Parcelas “nanicas” de pagamento
Para se ter uma ideia dessa expansão, nas compras desta Black Friday, esses prazos no cartão de crédito chegam a 30 meses, obviamente com juros mensais, mas isso ajuda a gerar as parcelas “nanicas” de pagamento mês a mês.
Isso tambem é fundamental para as compras de produtos de maior valor no país, altamente dependente do parcelamento e que movimentam bilhões ao ano.
Somado a esse ambiente, ainda há um componente estrutural nas empresas para uma possível retomada mais sólida das vendas a partir da Black Friday de 2024.
Como diz o consultor Eduardo Terra, sócio da BTR Educação e Consultoria e membro de conselhos de administração de algumas redes, o segmento chega ao fim deste ano com empresas melhor preparadas para voltar a crescer mais rapidamente.
“A não ser aquelas que estão ainda alavancadas e com a corda no pescoço, quem arrumou a casa nos últimos anos pode abrir espaço para uma expansão de vendas maior, buscando não só rentabilidade, que continua sendo fundamental para elas , mas também receita mais robusta”, diz ele.
Terra lembra que os melhores números de geração de emprego e de renda, mesmo com salários inferiores, ajudam a entender esse quadro um pouco mais animador nos corredores das varejistas pelo país.
Naturalmente, não dá para perder de vista fatores que estão fora do radar. O desempenho de varejo é altamente impactado por cenário de confiança do consumidor, que tem variáveis, às vezes, difíceis de mapear, relativas ao ambiente político e social. No quadro atual, para o setor, isso parece sob controle, pelo menos, no momento.
Fonte: Valor Econômico