Enquanto peças verdes e amarelas vendem como água, vermelhas encalham no estoque
Muito se engana quem pensa que os protestos contra a corrupção e o governo Dilma Rousseff repercutem somente no cenário político. Vestidos predominantemente com a camisa da seleção brasileira ou de verde e amarelo, os manifestantes afetam a dinâmica do mercado de moda.
Enquanto as peças com cores da bandeira brasileira estão vendendo como água, as roupas vermelhas – clara referência ao PT de Dilma – encalham nos estoques das principais lojas. A equipe de reportagem de O Financista foi a dois shoppings da capital paulista para checar a tendência.
Segundo Elton Neves, gerente da loja Hering do shopping Eldorado, as vendas de peças verdes e, principalmente, amarelas têm aumentado progressivamente diante do fortalecimento dos movimentos sociais contrários à corrupção. Os protestos do dia 13 de março, porém, não foram suficientes para que ele decidisse caracterizar a vitrine para a data.
“No dia da manifestação, zeramos o estoque das camisetas as camisetas amarelas, enquanto vendemos mais de 80% dos itens verdes. As pessoas manifestaram”, disse Neves. “Temos peças vermelhas para dar e vender. O estoque está lotado, vendemos apenas 20% do que tínhamos disponível”, completou.
Ainda entre as populares, a Riachuelo fez adaptações na maneira como dispôs as peças que possuía para atrair os olhares da clientela. Segundo Ihan Coelho, encarregado de visual merchandising, a varejista montou em três de suas lojas – Eldorado, Paulista e Oscar Freire – uma bancada com roupas verdes e amarelas. “Na Riachuelo da Paulista, a vitrine ficou toda verde e amarela. Foi uma ação mais agressiva.”
Enquanto as vendedoras da C&A do Eldorado negaram que os protestos elevaram as vendas de certos produtos, as do Iguatemi disseram que muitas pessoas foram “atrás de peças que fizessem referência ao Brasil e sinalizaram que elas usariam durante as manifestações na Paulista”.
Seleção brasileira
A venda de camisas da seleção brasileira só não foi maior porque a maioria das lojas consultadas não contava com muitas peças em seus estoques.
O gerente da Bayard do shopping Iguatemi Bruno Danelon destacou que muitos clientes entraram na loja atrás de uma camisa da seleção canarinho por se tratar de uma loja de artigos esportivos. “Como não tínhamos a camisa da seleção, as pessoas levaram outros modelos de camisetas amarelas ou verdes. O novo modelo da camisa da seleção acabou de ser lançado. Vamos ver se antes da próxima manifestação muitas pessoas estarão procurando por ela”, pontuou.
No mesmo sentido, Ana Paula, encarregada de visual merchandising da Centauro, do Eldorado, destacou que a venda de camisas da seleção acontece em datas sazonais, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. “Muitas pessoas vinham buscar a camisa da seleção brasileira. Como não tínhamos, optavam por levar camisetas amarelas básicas, que custavam entre R$ 29 e R$ 39. Tenho certeza que se tivéssemos a da seleção – que sai por R$ 249 –, teríamos vendido muito. Eu teria feito algo completamente diferente na vitrine para chamar a atenção e transmitir nosso apoio ao movimento”, afirmou Ana Paula, acrescentando que as unidades dos shoppings Morumbi e Bourbon também teriam reclamado da falta de produtos mesmo com grande demanda pelo uniforme da seleção canarinho.
Sem alterar as vendas na unidade da Havaianas no Eldorado, a demanda por roupas verdes, amarelas e azuis aumentou de acordo com os lojistas da unidade do Iguatemi. “As pessoas diziam abertamente que esse seria o look para a manifestação.”
Mesmo sem fazer muito alarde, a Trilha Mix teria causado rebuliço por ter a expertise de vender roupas que são levadas por estrangeiros como souvenir. A equipe da loja disse que quando percebeu que muitas pessoas estavam consumindo por causa dos protestos resolveram explorar o assunto de maneira sutil. “Pouco depois que as primeiras vendas aconteceram, decidimos incrementar a loja com todos os nossos itens com referência ao Brasil.”