Dona de Americanas.com e Submarino, a B2W Digital testa ajustes que o seu modelo de “marketplace” terá que passar para ficar de pé na crise. A ação da empresa é a segunda maior queda do Ibovespa.
O formato se baseia na venda de produtos de terceiros e serviços financeiros pela plataforma digital (site e aplicativo), cobrando em média 12% em cima de cada venda. Funciona bem — e a Amazon é melhor exemplo disso — em países com alguns milhares de lojistas na plataforma, que competem entre si, com parte deles bem estruturados e sólidos financeiramente. É algo possível em mercados de varejo (e de crédito) mais maduros pelo mundo, como o americano e inglês.
No Brasil, o marketplace está apenas em construção e a B2W tem sido obrigada a fazer mudanças em peças centrais no primeiro trimestre.
A empresa sinaliza em seu relatório de resultados que teve que aumentar a venda direta de mercadorias e acabou consumindo mais caixa. Esse montante quase dobrou, passando de R$ 385 milhões de janeiro a março de 2019 para R$ 646 milhões neste ano.
A questão do caixa era um dos destaques centrais da empresa dentro da estratégia anunciada em 2017, de reduzir drasticamente o “cash burn” que se acelerava na época, sem sinais de ceder, por conta do sistema tradicional de comércio eletrônico — a venda e compra direta da indústria. Decidiu migrar para o marketplace três anos atrás, talvez na maior guinada de modelo de operação da companhia em sua história.
Criou, assim, o sistema mais parrudo do mercado de comércio eletrônico, entre as empresas de capital nacional (Magazine Luiza e Via Varejo são bem menores). São 55 mil lojistas e 30 milhões de itens à venda na sua plataforma.
Mas o relatório de resultados publicado na noite de ontem mostra que o consumo de caixa subiu, após trimestres sob controle, e isso “está relacionado à sazonalidade do negócio e ao aumento da cobertura do estoque, em função da aceleração do 1P [venda direta] e das medidas de mitigação dos efeitos da pandemia”, diz no balanço.
Essa questão relativa a impactos no marketplace na crise é algo que o mercado “acordou” dias atrás, quando o comando da Via Varejo trouxe o assunto à tona.
Em uma “live” recente o concorrente da B2W disse que havia empresas que estavam com lojistas com limitações de crédito e estoques e isso gerou algum desabastecimento, sem mencionar nomes.
O Valor antecipou na época que a B2W chegou a procurar a Via Varejo em abril para que ela se tornasse um lojista de sua plataforma, vendendo em seus sites (a Via Varejo é a maior empresa de venda direta de eletrônicos do país). A Via preferiu não avançar numa negociação.
No material publicado ontem, a B2W ainda destaca outro aspecto, diretamente relacionado a quem opera no marketplace: a saúde financeira de seus lojistas, que precisam de fôlego na crise para operar. Se eles quebram, a empresa perde escala, aspecto central do modelo.
A empresa diz que aumentou a oferta de crédito aos lojistas e o prazo de pagamento. Tratam-se de empréstimos feitos on-line pelos comerciantes. Ainda criou uma linha que compromete parte da venda desse lojista para a liberação de empréstimos.
Uma das questões centrais é quem paga essa conta lá na frente, se a inadimplência crescer, e provisões aumentarem, algo que a companhia não menciona no material, e que deve ser foco de dúvidas de analistas. A empresa tem teleconferência com analistas ao meio-dia de hoje.
Fonte: Valor Econômico