Por Fatima Fernandes | Não é de hoje que os atacarejos participam de um setor de forte concorrência. Afinal, o que leva o cliente até as lojas é a combinação de preços baixos, variedade de produtos e serviços.
Desde o final do ano passado, as redes que disputam uma venda anual da ordem de R$ 91 bilhões no estado de São Paulo começaram a sentir os efeitos de um novo concorrente.
Quem chegou para chacoalhar o mercado paulista foi o Grupo Muffato, a maior rede varejista do Paraná, que adquiriu, no início de 2023, 16 lojas do Grupo Makro Brasil no Estado de SP.
De outubro de 2023 a janeiro deste ano, o Muffato reabriu as 15 lojas (antes Makro) com a bandeira Max, que atualmente possui 50 lojas em São Paulo e no Paraná.
A simples mudança de bandeira de Makro para Max não indicava, de acordo com varejistas do setor, que poderia haver mudanças significativas em participações de mercado.
Afinal, as lojas continuariam nos mesmos lugares, com a perspectiva de atender praticamente as mesmas bases de clientes em suas regiões.
Não foi bem assim. O grupo paranaense, controlado pela família Muffato, tem ganhado rápida participação no mercado de atacarejo paulista a ponto de já exigir ações da concorrência.
Em janeiro de 2023, as 16 lojas do Makro, mais as lojas já em operação do Max, tinham 3,77% de participação do mercado paulista, de acordo com estimativa da Varejo 360 Inteligência e Pesquisa de Mercado.
Em dezembro de 2023, já com a bandeira Max, 13 lojas participavam com 4,13% do mercado, número que subiu para 4,94% em janeiro deste ano, com 15 lojas reabertas.
As duas maiores redes do setor, Assaí e Atacadão, com 104 lojas cada, que, juntas, tinham, em dezembro de 2023, 64% de participação das vendas do setor em São Paulo, agora têm 62%.
A Varejo 360 prefere não revelar a participação estimada de cada uma das duas maiores redes, já que faz parte do seu negócio justamente vender esses dados.
“Um aumento de participação de mercado de 3% para 4% parece pouco, mas não é”, afirma Fernando Faro, fundador e COO da Varejo 360.
Cada 1% de perda ou ganho de participação no mercado paulista de cash & carry, diz ele, representa perda ou ganho de R$ 908 milhões em vendas em um ano.
Somente em dezembro, o grupo paranaense reabriu sete lojas. A de melhor desempenho, de acordo com Faro, é a do Jardim Peri Peri, reinaugurada em novembro de 2023.
“As antigas lojas do Makro estão localizadas em bons pontos e os Muffato são melhores na operação, sem contar a força das inaugurações. Eles começaram muito bem em São Paulo”, diz.
A Varejo 360 estima a participação das redes no Estado por meio de cupons fiscais de compras compartilhados por consumidores, que são remunerados por isso.
A empresa recebe cerca de 150 mil tíquetes de compras diariamente no Estado de São Paulo.
Antes de adquirir as lojas do Makro, a bandeira Max já tinha cinco lojas no estado de São Paulo, em Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Catanduva, Ourinhos e Fernandópolis.
Todas as lojas do Makro foram remodeladas. A estimativa de Faro é que a reforma de cada uma delas custou, no mínimo, R$ 10 milhões.
Todas as bandeiras de atacarejos perderam participação de mercado com a chegada do grupo paranaense, de acordo com a Varejo 360.
A rede Comercial Esperança, com 19 lojas espalhadas pelo Estado de São Paulo, e a rede Tenda, com 43 lojas, são as mais resilientes com a chegada do novo concorrente.
A perda de mercado entre dezembro e janeiro deste ano ficou na casa decimal. As que mais perderam clientes foram as redes Assaí e Atacadão, de acordo com a Varejo 360.
Além da acirrada concorrência entre as bandeiras, vale destacar que os atacarejos estão também numa disputa mais direta por clientes com os supermercados.
E pela primeira vez, em 2023, de acordo com a Varejo 360, os supermercados tiveram melhor desempenho de vendas entre todos os formatos do varejo alimentar.
Considerando as mesmas lojas, os supermercados venderam 7,86% mais no ano passado em relação a 2022. Os atacarejos, 4,28% mais. Na média dos formatos, as vendas cresceram 5,81%.
Para Faro, isso significa que os atacarejos não conseguem mais capturar clientes como antes, até porque estão com preços e serviços cada vez mais parecidos com os dos supermercados.
A disputa entre as bandeiras dos atacarejos, portanto, diz, deve ser intensa neste ano, pelo menos no estado de São Paulo. E não somente entre os atacarejos, mas em todos os formatos.
Executivo de um dos players do setor, que prefere ficar no anonimato, diz que se “o varejista olhar somente para o lado não verá muita coisa”.
O e-commerce, diz, é um player importante, o que faz com que o varejista esteja mais preocupado com o que quer o cliente, que valor pode agregar na compra do consumidor.
“Com certeza, o avanço do Muffato em São Paulo preocupa também os supermercadistas”, afirma Hélio Freddi Filho, diretor da rede Hirota, com 17 lojas no Estado.
Hoje, afirma ele, cada bairro de São Paulo possui quatro a cinco bandeiras de supermercados, e até de atacarejos, em um raio de 3,5 km ou até menos.
Ganhar market share em um mercado tão concorrido, diz, é um desafio. Para atrair a clientela, a rede Hirota tem uma programação semanal de promoções, com descontos mínimos de 10%.
Na segunda-feira é a vez da linha de limpeza, na terça, de frutas, legumes e verduras e, de quinta a domingo, de produtos escolhidos de acordo com o clima.
Se a previsão é de um fim de semana mais quente, as promoções envolvem mais produtos como carnes e cervejas.
Se as temperaturas prometem ser mais baixas, massas e vinhos passam a ter descontos.
“Agora temos de acompanhar, além do mercado e os players, o clima. As ações podem mudar de acordo com o tempo e a temperatura”, afirma Freddi Filho.
O que a rede não faz, diz ele, é reduzir mais o preço de um produto para ficar ainda menor do que o da concorrência, deixando de lado a lucratividade.
“Estamos atentos a todos os movimentos da concorrência, mas não vamos entrar numa guerra de preços que, no passado, quebrou as varejistas de eletroeletrônicos”, diz.
Redes como Arapuã, Mappin, G. Aronson, Ponto Frio, Casas Bahia, costumavam cobrir as ofertas de concorrentes. “E olha no que deu”, diz.
Fonte: Diário do Comércio