O mercado de cartões de loja (private label) cresce a níveis recordes desde o início da crise, estimulado por um cenário de maior restrição dos bancos na concessão de crédito. O momento favorece principalmente administradoras como a DMCard, Tricard e Sorocred, que atendem lojas menores e consumidores de baixa renda.
As três empresas projetam terminar este ano com crescimentos superiores a 20%, tanto no faturamento quanto na emissão de cartões. Nos últimos dois anos de crise, as companhias viram seus resultados dispararem, crescendo sempre acima dos dois dígitos. Para o diretor da Tricard, administradora do banco Tribanco (do Grupo Martins), Ricardo Batista, dois movimentos favoreceram a empresa: “Além da restrição dos bancos na concessão de crédito para faixas mais baixas, algumas parcerias que eles tinham com varejistas foram desfeitas.”
O cenário abriu espaço para que a companhia, além de expandir a base de cartões ativos, fechasse parceria com novas varejistas, ampliando a carteira de lojas atendidas. Com o impulso, a Tricard espera fechar o ano com um faturamento de pelo menos R$ 2,3 bilhões, valor 27% superior ao registrado no ano passado. O avanço virá em cima de uma base forte, uma vez que em 2016 e 2015 a Tricard cresceu 20% e 15%, respectivamente.
A DMCard, que atende principalmente supermercados de médio porte, como o Sonda e o Barbosa, também se beneficiou do maior conservadorismo dos bancos. Segundo o diretor da administradora, Denis Correia, a expectativa para este ano é crescer em 35% o faturamento, atingindo R$ 1,35 bilhão. “Os grandes bancos têm diminuído a aprovação e cortado crédito das classes C e D. Como atuamos com foco nessa faixa de renda temos aproveitado o momento e sentido uma procura muito grande desse público.”
A empresa, que possui parceria com 153 varejistas, fechou 22 novos contratos só em 2016 e 2015, e acaba de fechar mais dois: um com a rede Bistek, de Santa Catarina e outro com a Sempre Vale. “Temos mais um que fechamos verbalmente, mas ainda não assinamos o contrato”, diz. Em termos de emissões, a expectativa é fechar o ano com 320 mil cartões emitidos, frente 250 mil em 2016.
Com clientes como a TNG e a Sorridents, a administradora Sorocred cresce em ritmo semelhante. Até setembro, o faturamento subiu 24% e a emissão de cartões 26%, ante igual período do ano passado. Para o consolidado, o presidente da empresa, Marcos Etchegoyen, espera um resultado um pouco superior ao visto até setembro.
O ritmo de captação de novas parcerias também cresceu. Desde o início do ano passado até o momento foram 30 contratos fechados, segundo o executivo. “Temos mais quatro redes que devem entrar no início do ano que vem, mas que ainda estão em processo de negociação”, diz.
Inadimplência
Apesar do bom momento para as três empresas, há uma preocupação grande em torno do aumento da inadimplência com a crise, principal fator que levou os bancos a reduzirem o volume de crédito para a baixa renda. “O maior reflexo do momento de recessão foi o conservadorismo dos bancos na concessão de crédito. Temendo o aumento das perdas e da inadimplência eles ficaram mais restritivos”, diz o consultor especializado em finanças, Vitor França, da Boanerges & Cia. No contexto, ele explica que a faixa de baixa renda foi mais afetada, uma vez que o risco de não pagar a fatura acaba sendo maior.
As administradoras mostram receio em relação ao tema, mas afirmam que não houve um crescimento expressivo no índice de inadimplência no período. Na Tricard a taxa está na casa dos 3,5%, valor dentro do esperado pela empresa. Antes da crise, entretanto, a taxa era cerca de 25% menor, conta Batista.
Para manter a taxa no patamar, considerado adequado pela empresa, ela teve que reduzir as aprovações. Se antes da recessão econômica, 60% dos pedidos de cartões eram aprovados, hoje a fatia reduziu para 40%. Na DMCard, o movimento foi semelhante. Até 2013, o índice de aprovação era de 62%, caindo para 48% atualmente.
Mesmo com a diminuição das aprovações, as empresas não perderam a competitividade. “Diminuímos, mas a diferença é que os bancos reduziram muito mais”, diz Correia. Segundo Batista, algumas varejistas que a Tricard passou a atender – e que antes tinham parcerias com bancos -, afirmaram que as aprovações estavam em torno de 5% a 10% de todos os pedidos de cartões. “Apesar da queda ainda estamos bastante competitivos”, completa.
Nos últimos anos, o diretor do Tribanco conta que a empresa colocou um esforço grande na parte de análise, recuperação de crédito e prevenção de fraude, investindo, por exemplo, em biometria e modelos de decisão. Para não perder o ritmo de crescimento com a retomada do crédito, no pós-crise, a empresa tem investido em novos serviços, aplicativos e em cartões virtuais. “Com os novos produtos e aportes estamos esperando chegar a um faturamento de R$ 3 bilhões em 2018, crescendo mais 30%”, afirma.
Em relação à emissão de cartões, Batista conta que no ano passado a empresa emitia 40 mil cartões mensalmente – valor que subiu, este ano, para 50 mil. A perspectiva, segundo ele, é fechar o ano com cerca de 550 mil cartões emitidos. O desafio, no entanto, é levar a ativação.
O diretor do Tribanco contou ainda que a empresa está no processo de transformar o Tricard em uma bandeira de aceitação nacional, para concorrer com Mastercard, Visa, Elo e Hipercard. A mudança deve contribuir muito para a evolução do negócio. “Já saímos da fase piloto, e estamos nos primeiros credenciamentos. Devemos finalizar este ano com quatro mil lojas credenciadas e 20 mil ao final do ano que vem”, finaliza.
Fonte: DCI