Por Por Eduardo Tenório e Natacha Rodrigues dos Santos | A indústria do varejo vem enfrentando pressões para obter melhores resultados financeiros – os números exigidos precisam ser contextualizados em meio à complexidade e dimensão do setor, o qual movimenta 22,9% do PIB nacional em termos de varejo restrito (bens de consumo, exceto materiais de construção e automóveis) e 27,7% no varejo ampliado, segundo a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
Para atingir tal expectativa do mercado, alcançando um melhor desempenho, essa indústria passa por um caminho de desafios e adversidades, precisando lidar com custos de logísticas e conquistar a confiança do consumidor, por exemplo. Diante desse cenário, o papel do auditor externo para alavancar a credibilidade da empresa ganha ainda mais importância.
Complexidades da indústria do varejo
Existem aspectos prementes que precisam da atenção redobrada de CEOs, CFOs e daqueles que lideram empresas listadas na Bolsa de Valores (B3), bem como membros de comitês de auditoria e responsáveis pela governança nessas empresas:
- ESG (Environmental, Social and Governance, na sigla em inglês): o mercado passa a exigir a adaptação às novas normas relacionadas à sustentabilidade e clima, a fim de transmitir cada vez mais transparência aos stakeholders.
- Mercado online: durante a pandemia houve uma importante mudança no mercado varejista, impactada, principalmente, pelo aumento de vendas online por e-commerces e marketplaces. Esse fenômeno acrescenta pressão às operações, devido a entrada de novos players no mercado que possuem, por vezes, maior capacidade logística.
- Câmbio e taxas de juros: a área de eletroeletrônicos é uma das principais afetadas neste aspecto, mas os impactos alcançam praticamente todas as varejistas dependentes do mercado financeiro que desejam alavancar capital de giro e financiar as atividades de expansão.
- Legislação tributária: as constantes mudanças na legislação tributária estadual e federal elevam a complexidade no gerenciamento das margens das empresas de varejo, além de elevar os custos internos com a contratação de especialistas para evitar erros na apuração dos impostos – especialmente quando diz respeito às empresas que possuem operações distribuídas pelo País. A recente reforma tributária e outros projetos, especialmente na esfera federal, torna o ambiente desafiador e que requer atenção e avaliação cuidadosa pelas organizações.
- Especificidades de cada nicho: é preciso lidar com dificuldades específicas de cada área do varejo, com atenção aos movimentos de demanda, inflação, sortimento de produtos, distribuição, negociação com fornecedores, entre outros. Essas especificidades aumentam a pressão sob os varejistas de cada nicho.
Principais preocupações dos auditores atuante no setor
Os temas abaixo foram discutidos pelos auditores em seus pareceres de auditoria de 28 varejistas registrados na CVM, durante os anos de 2022 e 2023, onde abordaram suas principais preocupações em relação às empresas do setor de Varejo.
De forma geral, os principais assuntos de auditoria elencados apresentam relação e impactos originados do ambiente econômico e comportamento do consumidor, gerando preocupações quanto a capacidade de desenvolvimento dos negócios da indústria e a sua geração de caixa. Além disso, o ambiente de tecnologia também é um tema recorrente entre as discussões, indicando a crescente importância da segurança e eficiência tecnológica nas empresas.
- Recuperabilidade de créditos tributários de ICMS e PIS/COFINS: refere-se à capacidade dos varejistas em recuperar créditos tributários registrados no ativo, substancialmente relacionados ao ICMS e PIS/COFINS, nos quais as empresas devem observar sua gestão logística e fiscal dos estoques, no caso de ICMS, e sua capacidade de geração de débitos federais para a compensação de PIS e Cofins.
- Recuperabilidade do imposto de renda e contribuição social diferidos ativos: refere-se à avaliação da possibilidade de recuperação de impostos de renda e contribuições sociais diferidos, nos quais as empresas devem observar a capacidade de geração futura de lucros nas operações.
- Acordos comerciais com fornecedores: refere-se aos descontos comerciais negociados com fornecedores nas mais diversas formas. As maiores preocupações desse tema estão atreladas à validade e mensuração dos valores desses acordos, ao correto registro contábil e à classificação no passivo.
- Redução ao valor recuperável (impairment) de ativos não financeiros: refere-se à avaliação anual preparada pelas empresas sobre a recuperabilidade dos saldos de imobilizados e intangíveis. As maiores preocupações desse tema estão atreladas às projeções futuras de fluxos de caixa e à razoabilidade das diversas premissas atreladas a este cálculo.
- Provisões para riscos tributários: refere-se às autuações tributárias recebidas pelos varejistas. As maiores preocupações desse tema estão atreladas às avaliações de potencial saída de caixa e ao correto registro contábil.
- Ambiente de tecnologia: refere-se à avaliação dos sistemas de tecnologia da informação nas empresas, focando em sua segurança, eficiência e conformidade de acordo com as melhores práticas. O processo de auditoria desse ambiente é imprescindível para mitigar riscos tecnológicos e garantir a integridade dos dados financeiros.
O papel (fundamental) do auditor
Esses e outros aspectos amplificam as dificuldades na elaboração das demonstrações financeiras (DF) pelas empresas, deixando evidente a necessidade do auditor independente estar atento aos reflexos de cada um dos temas mencionados acima, além de outros específicos do setor. A complexidade dos diversos desafios e ambientes inerentes ao segmento de varejo, tornam o papel desse profissional ainda mais sensível, pois ele é o responsável por garantir a transparência das informações.
O objetivo principal do auditor independente é oferecer confiança e transparência às demonstrações financeiras das empresas. Ele é encarregado por assegurar que elas registrem adequadamente, de acordo com as normas contábeis aplicáveis, todos os reflexos advindos dos desafios já mencionados, confirmando a confiabilidade das demonstrações financeiras – que é a base para a tomada de decisão dos diversos usuários, entre stakeholders, investidores e analistas de mercado. Além disso, também é seu papel realizar avaliações detalhadas sobre as projeções da organização, assegurando a sua razoabilidade frente às estimativas contábeis e as demonstrações financeiras como um todo.
A depender de como o relatório final é emitido e considerando os temas elencados, pode ser incluída uma perspectiva pelo auditor independente sobre a continuidade ou não da organização, algo que pode impactar a análise do mercado.
Devido à complexidade que o segmento de varejo apresenta, em que o custo de distribuição é alto e a margem de lucro pode ser apertada – no setor alimentar, por exemplo, chega a 2% em um bom cenário –, o serviço de auditoria possui um papel fundamental, especialmente em relação à credibilidade necessária das informações apresentadas.
Apresentar uma DF auditada, pode abrir portas para:
- Empresas listadas na B3: trazendo transparência e levando confiança ao investidor, além de oferecer credibilidade e maturidade ao mercado brasileiro de ações.
- Empresas de menor porte: trazendo facilidade ao acesso de crédito e credibilidade na apresentação dos resultados à terceiros, em cenários como receber fundos de investimentos.
Uma auditoria com padrão de excelência valida as informações recebidas e gera análises que resultam em discussões produtivas. Dessa maneira, o papel do auditor é efetuar análises independentes e transparentes, gerando credibilidade ao negócio e contribuindo para a governança das organizações, sejam elas do setor varejista ou não.
Eduardo Tenório e Natacha Rodrigues dos Santos, sócios de Auditoria & Assurance e especialistas no atendimento à indústria de varejo da Deloitte
Fonte: Deloitte