“I have a crush [tenho uma paixonite, em tradução livre]”, diz Carrie Bradshaw à Miranda, enquanto devora um cupcake da Magnolia Bakery.
A cena da série “Sex and the City”, que tornou famosos os bolinhos da marca, mostra as personagens debatendo sobre a nova paixão da protagonista, mas o affair não vem ao caso.
Em frente à doceria em Manhattan, Carrie come o cupcake com tanto apetite —lambendo os beiços, literalmente—, que a guloseima virou atração turística em Nova York. No cardápio, o Carrie Cupcake tem massa de baunilha e generosa camada de buttercream (creme à base de manteiga).
O lugar é tão popular que a promessa de abertura de uma loja paulistana —no número 1.683 da alameda Lorena— causa furor por aqui mesmo sem data prevista para inaugurar.
Outra loja do ramo, a Carlo’s Bakery, do Cake Boss Buddy Valastro, também promete inauguração em breve —e neste caso, divulga a previsão: setembro, no shopping Maia, em Guarulhos. As docerias se somam a outras casas norte-americanas que desembarcaram em São Paulo recentemente. É que no melhor estilo “I love New York” (lembra do souvenir?), paulistanos adoram uma novidade que vem de fora.
Após a inauguração da nova-iorquina Burger Joint, em março, a fila nas primeiras semanas virava a esquina da Bela Cintra e alongava-se pela Oscar Freire. Também lotada, a segunda loja da hamburgueria abriu na semana passada, no Top Center.
POR QUE O BRASIL?
Logo que chegou aqui, em 2014, a Ben & Jerry’s também atraiu multidão sedenta pelos sorvetes pedaçudos da marca. Um atrás do outro, consumidores dobravam o quarteirão à espera de atendimento. “No primeiro mês de funcionamento, vendemos mais que 100% da expectativa inicial”, conta André Lopes, diretor da rede.
De lá para cá, as filas diminuíram. Vez ou outra, elas voltam a ocupar a calçada, sempre que a marca promove um “free cone day” e distribui casquinhas de graça. Em fevereiro, a Ben & Jerry’s estreou o terceiro ponto de venda, no Conjunto Nacional. Nesta quarta (18), é a vez do shopping Anália Franco receber sua loja.
O sucesso que marcas gringas fazem no país foi o que motivou a Bloomin’ Brands, dona do Outback, a trazer a Fleming’s Prime Steakhouse para a capital. Em março, a rede especializada em carnes ancorou no Itaim Bibi o primeiro restaurante fora dos EUA.
“Temos um histórico de sucesso com o Outback no Brasil, o que dá confiança à matriz norte-americana para trazer outras marcas para cá”, explica Mauro Guardabassi, presidente da Fleming’s Brasil.
Guardabassi foi um dos responsáveis pela vinda do Outback ao país em 1997. Entre as 17 lojas paulistanas, a do shopping Center Norte, de 2004, é a que mais vende em todo o mundo (são mais de 900 unidades).
Ali, a espera para comer a popular Ribs on the Barbie (costela suína ao molho barbecue) pode chegar a uma hora num sábado —a fila é amenizada por canecões de chope e porções de cebola empanada servidas em mesinhas do lado de fora do restaurante.
DE FORA É MAIS LEGAL
Mas nem sempre a decisão de desbravar São Paulo parte da matriz gringa. Lisandro Lauretti, chef de cozinha paulistano, quis trazer o Jamie’s Italian para o Brasil “para atrelar um nome de peso”, no caso, o do chef inglês Jamie Oliver, ao seu ideal de restaurante. A filosofia da rede —de praticar uma cozinha saudável e ao mesmo tempo sustentável— como uma luva no projeto que Lauretti vinha tentando emplacar. “Sozinho é muito díficil.”
Pois ele “tomou coragem” e mandou um e-mail à empresa —”o ‘não’ eu já tinha”. Em dez dias, recebeu como resposta um convite para ir a Londres apresentar sua proposta.
Deu certo: em 2015, inaugurou um Jamie’s Italian no Itaim Bibi, o primeiro da marca londrina na América.
Foram 90 dias de alvoroço na porta, com direito a organizadores de fila e selfies do lado de fora do restaurante. “Nós emendávamos almoço e jantar, porque sempre tinha gente na espera”, conta. Quem foi atraído pela possibilidade de encontrar Jamie Oliver, frustrou-se: “Ele ainda não veio para cá”, diz Lauretti.
Sócios brasileiros —e assíduos frequentadores do Serafina em Nova York— também foram os responsáveis por trazer o restaurante italiano a São Paulo (o primeiro fora da cidade natal) em 2010. Hoje, são três casas na cidade —a mais recente foi inaugurada no mês passado no JK Iguatemi.
Apesar do aparente “sucesso garantido”, nem tudo o que vem de fora vinga por aqui. As rosquinhas açucaradas da Dunkin’ Donuts, mesmo famosas, não conseguiram sustentar a operação da rede no Brasil. Foram 20 anos de atuação até o fechamento de todas as lojas, em 2005.
Dez anos depois, a marca ensaia um retorno: desde 2015, opera lojas em Brasília. O cardápio, que outrora era exclusivamente de donuts, agora abarca sanduíches e o brasileiríssimo pão de queijo. Há planos de abertura em outros Estados.
Os restaurantes TGI Friday’s também devem voltar em breve —a rede atuou no país entre 1997 e 2009. A promessa de abertura de franquia em São Paulo é ainda para 2016.
IGUAL, SÓ QUE NÃO
Ao importar essas marcas, empresários buscam reproduzir as experiências vivenciadas fora do país.
Por aqui, a Burger Joint parece mesmo a hamburgueria nova-iorquina: paredes pichadas, cardápio escrito num papelão. Mas a organização do serviço —o cliente paga no caixa e espera seu nome ser chamado no balcão—, também importada, por vezes causa estranheza. “Não é melhor colocar um painel sonoro com senha?”, criticou um frequentador.
Lidar com os caprichos (e gostos) paulistanos fica por conta da vontade dos donos. “Tem que tomar cuidado para não perder a identidade da marca”, diz Guilherme Chueire, do +55 Group, detentor da Burger Joint e do Bistrot Bagatelle (que veio em 2013).
No P.J. Clarke’s, um veterano entre os estrangeiros em São Paulo, come-se picadinho —licença poética do menu às terças— em toalhas idênticas às do primogênito de Nova York (de 1884). Nada que ofusque os hambúrgueres que fizeram a fama da rede.