Por Adriana Mattos | Os últimos dados sobre o desempenho das vendas de alimentos por canal de distribuição mostram que o atacarejo sinalizou retomada, após um 2023 de desempenho mais fraco, por conta da deflação de preços que afetou a receita nominal no período.
Em 2024, os números da empresa de pesquisas NielsenIQ (NIQ) mostram que o atacarejo vem num crescimento de um dígito alto a dois dígitos baixo nas vendas (em valor) desde o fim de maio, o que gera uma expectativa mais otimista de que essa curva de desempenho se mantenha para cima.
A questão central é que, apesar de o setor crescer mais que todos os outros canais (como farmácias, inclusive, a depender do período, e do que supermercados), o desempenho semanal mostrava, até parte de 2024, uma espécie de “zigue zague”.
Houve semanas positivas seguidas de outras fracas, com base nos dados da NIQ, mas as últimas têm mostrado elevação em dois dígitos de forma consecutiva.
Até metade de junho, a alta nas vendas (em valor) no mês girava em 13%, algo que supera os números dos supermercados de todos os tipos de porte e empresa, e uma velocidade de alta maior que nos hipermercados.
Há um peso do retorno da inflação alimentar nessa conta, e esse movimento já fez analistas olharem os papéis das empresas de atacarejo com maior atenção.
A equipe do Goldman Sachs publicou relatório nesta semana em que afirma que há um consenso de que a inflação alimentar acelere até o final do terceiro trimestre de 2024, e o banco acredita que isso pode elevar os resultados das redes de forma mais contínua.
Moda e comércio eletrônico
A decisão do Congresso Nacional de definir uma nova alíquota de imposto de importação para os produtos enviados ao Brasil de até US$ 50 tendem a reduzir a competitividade de preços de plataformas estrangeiras, especialmente no setor de moda.
E pode impedir uma expansão mais agressiva da operação da Temu no país, braço on-line do grupo chinês PDD. Mas ainda há cautela do mercado em afirmar que isso poderá se traduzir em melhores números para as varejistas de moda nacionais.
Além da decisão de uma alíquota de imposto federal de 20% sobre o valor da remessa, os consumidores ainda precisam pagar ICMS de 17%, algo que, no fim das contas, chega a uma carga tributária final de 44%.
Após encontros com a linha de frente de Renner e C&A em julho, a equipe de analistas do Citi disse em relatório esperar alguma desaceleração nas vendas “mesmas lojas” (em operação há mais de 12 meses) das varejistas “fast fashion”, em parte, pela tragédia no Rio Grande do Sul.
As enchentes na região reduzem a demanda em um mercado forte para as empresas de moda, especialmente no período da venda de itens de inverno, e isso afeta tanto a demanda quanto a produção.
Em linhas gerais, gestores e analistas continuam mais otimistas para o desempenho do segundo semestre de Arezzo e Soma, com aceleração sequencial nos próximos trimestres.
Fatias à venda
A movimentação das empresas de shoppings neste ano indicam apetite maior dos grupos para a compra de participações de negócios já estabelecidos e consolidados no mercado.
Apesar de serem ativos mais caros do que aqueles em fase de ascensão inicial, são operações de investimento mais seguro, e de ativos ainda com espaço para crescimento futuro.
Isso ficou mais claro com a compra recente de fatias de empreendimentos pela Iguatemi e pelo fundo da XP no setor.
A Syn Prop e Tech (antiga Cyrela Commercial Properties) informou no fim de junho que concluiu a venda de sua participação em seis shoppings centers para o XP Malls por R$ 1,850 bilhão.
A venda inclui 51% do Grand Plaza Shopping; 32% do Shopping Cidade São Paulo; 70% do Shopping Metropolitano Barra; 52,5% do Tietê Plaza Shopping; 85% do Shopping Cerrado; e 23% do Shopping D.
Além disso, a Iguatemi informou neste mês fechamento de um acordo com a empresa de shopping centers Combrashop para participar da aquisição de 54% do Shopping RioSul, localizado no Rio de Janeiro. Trata-se de um dos empreendimentos mais cobiçados do Estado, já consolidado no mercado, mas ainda com potencial de crescimento.
Essa tendência de busca de ativos maduros pelos investidores, mas com espaço para expansão em vendas, já havia sido identificada pela Abrasce, a associação do setor, que relatou uma expectativa de maior volume de transações com esse perfil neste ano.
Fonte: Valor Econômico