O Carrefour não tem motivos para reclamar de seu desempenho no Brasil no ano passado, apesar da recessão. O Atacadão – um misto de atacado e varejo – ajudou, mais uma vez, o resultado do grupo francês na América Latina. Neste ano a rede, que tem 123 lojas de atacarejo no país, deve abrir cerca de 12 e estuda lançar produtos financeiros.
Para o CEO mundial do Carrefour, Georges Plassat, o Atacadão teve performance “fenomenal”.
O lucro operacional na América Latina, de € 705 milhões, cresceu 23,5% (a câmbio constante) em 2015. Se incluída a variação cambial, a alta foi de 6,9%. A margem operacional aumentou para 4,9% e é a mais elevada entre as demais regiões do mundo.
“Demos meios substanciais ao Atacadão para continuar abrindo lojas. E não nos arrependemos”, disse Plassat na reunião de apresentação do balanço anual.
Em 2015, cerca de uma dúzia de lojas Atacadão foram abertas, além de 17 unidades de vizinhança, que também representam um elemento central da estratégia de expansão. O Carrefour vai manter em 2016 o mesmo volume de investimentos no país, afirmou o diretor financeiro, Pierre-Jean Sivignon.
“Não vamos diminuir nossos investimentos no Brasil. Abriremos em 2016 o mesmo número de unidades Atacadão que no ano passado e continuaremos a expansão das lojas de bairro”, disse Sivignon, sem revelar as cifras. Além das 123 lojas de atacarejo, o Atacadão tem 22 unidades de atacado.
A varejista francesa também estuda lançar produtos e serviços financeiros para os clientes do Atacadão, como os que já existem no Carrefour. Esse segmento financeiro contribuiu para o aumento da margem operacional na América Latina. No Brasil, o Carrefour tem cartão de crédito e tem serviços como “parcele fácil”, “pague contas”, “saque rápido” e até seguros.
O Carrefour, diz Plassat, também continuará investindo na reorganização dos hipermercados no Brasil, que ficaram “abandonados” por alguns anos, segundo ele.
O grupo volta a vender alguns poucos produtos não alimentares nos hipermercados, escolhidos em função da demanda identificada. “A sorte é que éramos ruins nesse segmento. Como ele foi reduzido praticamente a zero, será fácil ter crescimento”, afirma o presidente.
O Brasil representa grande parte da receita na América Latina, que totaliza quase 900 lojas (a Argentina é o outro país onde o grupo atua). Os números do Carrefour na região, onde a receita, de € 14,2 bilhões, cresceu 15,7% (considerando a variação cambial o aumento foi de 2,9%), contrastam com os do Casino divulgados na quarta-feira, que sofrem o impacto da queda dos produtos não alimentares.
O Carrefour mantém os planos de abrir o capital no Brasil (IPO), diz Plassat, ressaltando que não há urgência. “Não é o momento ideal. Faremos quando as condições permitirem.”
O faturamento global do Carrefour, de € 76,9 bilhões, cresceu pelo quarto ano consecutivo, com alta de 3%, puxada por países europeus como a Espanha e a Itália e pela América Latina, que compensaram a queda na China. As vendas na França, seu maior mercado (47% da receita), subiram 1,1%. O lucro líquido, de € 980 milhões, caiu 21,5%, penalizado por custos excepcionais de reorganização de atividades.
“Os resultados são bons, mas sem surpresa”, segundo Plassat. Apesar do crescimento em todas as regiões do mundo, exceto na Ásia, os investidores não perdoaram o lucro abaixo do estimado e o dividendo considerado baixo, somados a preocupações com a China: as ações do Carrefour recuaram ontem 6,53%, a segunda maior baixa da bolsa de Paris, que fechou em queda de 1,70%.
O grupo não anunciou previsões em relação às vendas neste ano, mas informou que os investimentos globais permanecerão elevados em 2016, estimados entre € 2,5 bilhões e € 2,6 bilhões.
A abertura de lojas com diferentes formatos, sobretudo de bairro, vão continuar em ritmo rápido em quase todos os países. Segundo Plassat, “o centro de gravidade do Carrefour se deslocou para as lojas de vizinhança”, o que ele diz ser “fundamental” na sociedade atual. O grupo também prevê desenvolver o comércio eletrônico em vários mercados.