Por Adriana Mattos | Afetada por desgaste público após acusações de fraudes e redução de sua rede de pontos físicos, a Lojas Americanas perdeu a posição de rede de varejo com a maior presença nos domicílios brasileiros no primeiro semestre deste ano, numa análise do segmento alimentar, sendo superada pelo Assaí. A varejista caiu para a terceira colocação, de acordo com dados da empresa de pesquisas Nielsen.
No levantamento, pesquisadores questionam os consumidores sobre os diferentes comércios que visitaram no período da amostra, e cabem respostas múltiplas. A taxa de penetração do Assaí nos lares alcançou 24,4% de janeiro a junho, três pontos percentuais acima do ano anterior (21,4%).
O Valor apurou que na rede de lojas da Americanas o índice foi a 21% neste ano, abaixo dos 24,6% verificados no primeiro semestre de 2022. Depois de Assaí, Atacadão e Lojas Americanas, está o Carrefour.
A operação física da Americanas também foi superada pelo Atacadão, que passou a ocupar a segunda posição — um ano antes a cadeia do grupo Carrefour era a terceira colocada.
O avanço das redes de atacarejo na preferência da população entre os canais reflete a sua maior competitividade em preços, as mudanças no modelo para melhorar os serviços (mais próximo de um formato de hipermercado do que no passado), num momento de retomada lenta no poder de compra da população. Produtos nessas redes são de 10% a 15% mais baratos do que em supermercados tradicionais.
“Há uma perda de outra cadeia [Americanas], mas também há um reflexo da mudança de posicionamento do Assaí. Queríamos depender menos de uma compra de reposição e ampliar a compra abastecedora, mais focada no consumidor e em lojas mais centrais, e isso foi se consolidando nos últimos anos”, disse Belmiro Gomes, CEO do Assaí, que preferiu não detalhar os nomes de outras redes que são parte do relatório.
É a primeira vez que uma rede de atacarejo ocupa a primeira posição na pesquisa, que mapeia regularmente o perfil de consumo em 8,2 mil lares.
O Assaí adicionou 1,8 milhão de domicílios à base de um ano para cá, numa soma total de 13,5 milhões de domicílios atendidos pela redes. Cada ponto da pesquisa da Nielsen equivale a 556 mil clientes.
Ainda pela pesquisa, a penetração do canal de atacarejo dos lares alcançou 73% neste ano — era 66% em 2021 e 62% em 2019. Os hipermercados caíram de 46% em 2019 para 35% neste ano.
Apesar de as duas maiores redes de atacarejo do país estarem ganhando mercado nos últimos anos, no momento há um cenário mais difícil para crescimento, em termos de vendas “mesmas lojas”, do que um ano atrás. Essas vendas consideram unidades com mais de 12 meses, e logo, desconta as inaugurações.
Com base também em dados da Nielsen, os Estados do Sudeste, onde Assaí e Atacadão tem boa parte de sua venda concentrada, têm registrado há meses queda na venda dessas lojas. Pelo menos até fim de julho, havia recuo nesse indicador, apurou o Valor.
Os balanços publicados por Atacadão e Assaí, relativos ao segundo trimestre, mostram as vendas mesmas lojas com queda de 4,3% e 1,7% no segundo trimestre, respectivamente, por causa da deflação do preço de alimentos (que afeta a receita nominal) e da base de comparação mais forte em 2022.
A Lojas Americanas, apesar de ser uma rede de departamentos, e vender diferentes categorias de produtos, têm em seu registro de atividade a comercialização de alimentos — vende itens de mercado, basicamente industrializados e bebidas.
Informações de um relatório de monitoramento períodico do administrador da recuperação judicial da empresa mostra que, desde dezembro, mês anterior ao anúncio do rombo contábil na Americanas, eram 49,1 milhões de consumidores ativos do grupo Americanas. Em agosto, o número alcançava 42,8 milhões, a redução de 6,2 milhões.
Após o fim de dezembro a agosto, o volume total de pontos diminuiu em 88, para 1.794, pequeno perto de sua base total.
Fonte: Valor Econômico